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O MALHAR COMO METÁFORA DA EXERCITAÇÃO FÍSICA
Carlos Alberto de Andrade Coelho Filho

Última alteração: 2018-09-04

Resumo


O objetivo desta pesquisa, que conta com o apoio financeiro da FAPEMIG, é realizar uma atividade de análise e interpretação sobre a utilização da palavra malhar como metáfora da exercitação física, com o foco direcionado para uma melhor compreensão dessa prática e/ou do fazer corporal físico-esportivo. Trata-se de um trabalho que pretende oferecer subsídios para compreender, por exemplo, por que muitas pessoas iniciam a prática de exercícios físicos e não dão continuidade (SANTOS; KNIJNIK, 2006), ou para a reflexão vinculada ao problema da motivação para a prática regular de atividades físico-esportivas (COELHO FILHO, 2014). Nesse sentido, ele poderá contribuir para a revisão crítica de metodologias e práticas vinculadas à exercitação física, consequentemente, para o surgimento de novos procedimentos, como também assumir relevância nos diferentes espaços em que o discurso sobre a adoção de comportamentos fisicamente ativos é elencado. É uma investigação que se estabelece ancorada à compreensão de que a metáfora tem sua historicidade; delineia-se em um campo enunciativo onde adquire lugar e status, que lhe apresenta relações com o passado e lhe descortina um futuro eventual (GREGOLIN, 2004). Conforme Ricoeur (1975, 2011), a união inédita de dois campos semânticos incompatíveis com as regras usuais da classificação cria a faísca de sentido constitutiva da “metáfora viva”; quando esta se junta à polissemia das entidades lexicais, nos termos do autor, passa a ser “metáfora morta”. Metodologicamente, esta pesquisa se desdobra em dois momentos. O trabalho ora apresentado corresponde ao primeiro momento, tempo em que nos aproximamos dos elementos da representação social do “malhar” através do “método de associação livre” (SÁ, 1996). Contamos com a participação voluntária de 194 pessoas adultas de ambos os sexos. Elas foram convidadas a colaborar com a pesquisa, citando de uma a três palavras ou expressões que lhes tenham vindo imediatamente à lembrança a partir do termo indutor (malhar). Do total de 436 evocações, registramos 137 diferentes que foram por sua vez reduzidas por afinidade semântica a seis categorias: saúde; beleza; exercício; sensação/sentimento; condição; sentido etimológico. Destacamos que a palavra malhar, nos dias atuais, no Brasil, é predominantemente associada pelo senso comum à exercitação física e suas conexões, o que justifica o fato de a mesma ter se juntado à polissemia das entidades lexicais com o significado de “fazer ginástica vigorosa visando a musculação ou emagrecimento” (FERREIRA, 2004). Quando focamos no propósito de formular hipóteses acerca do acontecimento de emersão da palavra malhar como metáfora (viva) da exercitação física, as evocações nos fornecem elementos que permitem entrever certa historicidade, estabelecendo relações com o sentido etimológico da palavra em tela. Portanto, ainda que o corpo que “malha” possa remeter para a imagem de um corpo dotado de supervitalidade (TEIXEIRA; CAMINHA, 2010), ou o ato de “malhar” representar um meio de resistência às diferentes formas de decadência física (SANTOS; SALLES, 2009), importa considerar que o movimento de apropriação social da palavra malhar para caracterizar a prática do exercício físico tenha ocorrido ancorado, consciente ou inconscientemente, ao sentido etimológico de castigar o corpo, isto é, ao de violência contra uma matéria que deve ser moldada a golpes (HANSEN; VAZ, 2004; COELHO FILHO, 2007). É um movimento interpretativo que pode ser ilustrado com a seguinte sentença ficcional, inspirada nos dados coletados: “Sinto-me obrigada/o a praticar exercício físico para emagrecer, para ficar na moda, para ficar gostosa/o, musculosa/o, para exibir o meu corpo, para chamar atenção nas festas, mesmo tendo preguiça, apesar de não gostar, de gerar tédio e de ser chato; tanto mais, para praticar exercício físico é necessário disposição, energia, esforço e perseverança, ou seja, é preciso batalhar”.

Palavras-chave


Malhar. Metáfora. Exercício físico.

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