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O processo de inclusão no contexto escolar ainda se constitui desafiador aos sistemas educacionais considerando que grande parte dos sistemas educacionais não conseguiu consolidar um projeto educacional democrático e universal, reconhecedor da educação como um direito social de todo cidadão. Uma vez garantida por lei a matrícula da pessoa com deficiência na rede regular, é preciso atentar também para a qualidade do ensino, o que pressupõe “[...] mudanças significativas de conceitos e quebra de paradigmas, assim como mudanças estruturais dos espaços e a adoção de novas estratégias pedagógicas para atender as diferentes formas de aprender” (CUNHA; GOMES, 2017, p. 415). Portanto, faz-se necessário ampliar as discussões acerca da educação inclusiva e assumir que as diferenças estão presentes em todos, independentemente de terem ou não deficiência, e que o processo de ensino deve ser adaptado aos diferentes ritmos de aprendizagem (BUENO, 1999). Direcionando essas reflexões para o contexto da Educação Física escolar, vislumbramos muitos desafios na materialização de aulas com base inclusiva ao encontrarmos, nos discursos dos professores, o argumento da falta de preparação para atuar na perspectiva inclusiva. Entendendo que os professores têm grande contribuição na implementação desse ideário nos contextos escolares, acreditamos ser importante compreender quem são e o que pensam os professores de Educação Física acerca dos processos educacionais inclusivos produzidos nos/com/pelos sistemas educacionais municipais. A compreensão sobre o perfil sociodemográfico, condições de saúde e de trabalho também deve ser considerada no momento das investigações de suas práticas docentes, visto que tais condições interferem na qualidade de vida e nas relações de trabalho desses indivíduos. Nesse sentido, objetivamos conhecer o perfil socioeconômico e de formação dos docentes de Educação Física atuantes na educação básica no município de Cariacica/ES. Interessou-nos especialmente compreender em que medida esses aspectos reverberam em práticas pedagógicas inclusivas. A metodologia é de caráter quali-quantitativo e as análises basearam-se nas abordagens de análise de conteúdo (BARDIN, 1977) e de análise crítica do discurso a partir dos objetivos da investigação. Orientada pela Profª Drª Maria das Graças Carvalho Silva de Sá, a pesquisa foi desenvolvida por meio de um questionário aplicado a nove profissionais da educação da rede municipal de Cariacica/ES em março de 2017. Após análise dos dados constatamos que os professores, em sua maioria, têm idade acima de 30 anos e possuem remuneração média de três salários mínimos, todavia dividem esta renda com pelo menos mais uma pessoa. São formados há no mínimo seis anos e atuam há pelo menos cinco anos no município. Constatamos ainda que 88,8% possuem formação continuada na área da Educação Especial e todos possuem experiência com alunos com deficiência, principalmente com deficiência mental/intelectual e autismo. Apesar disso, a maioria dos professores pesquisados ainda sente dificuldade em atuar com esse alunado. Percebemos que os processos de formação continuada em Educação Especial e as experiências pedagógicas acumuladas com esses alunos não foram suficientes para superar esse cenário. Por fim, defendemos um olhar mais amplo sobre esse processo, que abranja também as políticas públicas, pois a efetivação da inclusão escolar requer mudanças profundas nos sistemas de ensino que não podem focar apenas as dificuldades dos alunos tampouco as dificuldades dos professores. Sendo assim, é fundamental analisar como estão sendo constituídas as políticas de formação docente do município para que possamos compreender o quanto as ações de formação continuada estão em consonância com a realidade dos professores e em que medida estão auxiliando a pensar estratégias que promovam práticas pedagógicas inclusivas.

Educação Física; Escolarização; Inclusão