Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XV CONGRESSO ESPÍRITO-SANTENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

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ASPECTOS RELACIONAIS DA CRIANÇA COM AUTISMO
Gabriel Vighini Garozzi, José Francisco Chicon

Última alteração: 2018-09-02

Resumo


A ideia de estudar a criança com autismo e seus aspectos relacionais surgiu da primeira experiência com esses sujeitos durante a participação no projeto “Brinquedoteca: aprender brincando” – na extensão de Ginástica – do Laboratório de Educação Física Adaptada (Laefa). Estudos têm revelado que o autismo é compreendido como uma síndrome comportamental e caracterizado por déficit na interação social, na linguagem e alterações de comportamento (KANNER, 1997; FALKENBACH; DIESEL; OLIVEIRA, 2010; ORRÚ, 2007). Diante das características apresentadas pelo aluno com autismo, Chiote (2011) e Siqueira e Chicon (2016) apontam que os professores possuem dificuldades em desenvolver práticas pedagógicas que permitam ao aluno participar ativamente das atividades educativas com os colegas e com os adultos e se apropriar dos conhecimentos escolares. Desse modo, a pesquisa objetivou compreender os aspectos relacionais de uma criança com autismo na interação com outras crianças em situações de brincadeiras. O estudo se configurou em uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso (LUDKE; ANDRÉ, 1986) e buscou observar, registrar e analisar os episódios do brincar de crianças com e sem autismo no espaço da brinquedoteca, organizada no Laefa do Centro de Educação Física e Desportos (Cefd), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Os participantes do estudo foram 17 crianças, de ambos os sexos, com idades de 3 a 6 anos, sendo 10 crianças de um Centro de Educação Infantil (CEI) com desenvolvimento típico, 6 com autismo e 1 com síndrome de Down, oriundas da comunidade de Vitória-ES. Esses alunos eram atendidos por 13 estagiários do Curso de Educação Física, em um encontro semanal, todas as quintas-feiras, das 14 às 15 horas, no período de março a novembro de 2016, totalizando 24 aulas/registros. A matriz teórica para análise dos dados fundamentou-se nos estudos sobre a importância da interação social e do brincar para o desenvolvimento infantil realizados por Vigotski (1997, 2007 e 2008) e seus colaboradores dentro da abordagem histórico-cultural. O processo de análise dos dados da pesquisa foi produzido por meio da abordagem microgenética (GÓES, 2000) e os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: a observação participante, a videogravação das sessões e os registros em diário de campo. A análise do episódio escolhido nos permitiu destacar diferentes aspectos. Ressaltamos a importância da brincadeira “A galinha do vizinho” ao favorecer uma maior interação entre as crianças, proporcionar uma vibração entre aquelas que estão em roda torcendo pelos colegas e um jogo de disputa entre uma criança que corre e a outra que representa o papel de pegador. Destacamos nesse episódio o papel de outra criança no desenvolvimento da brincadeira do menino com autismo e a atitude relevante do estagiário ao mediar a relação entre as crianças e favorecer a inserção da criança com autismo na atividade lúdica (CHIOTE, 2011). Outro aspecto observado no episódio a ser destacado na brincadeira realizada é o compartilhamento da atenção com os colegas, por parte da criança com autismo. Conforme Zanon (2012, p. 12), a atenção compartilhada é uma "[...] capacidade de coordenar a atenção com um parceiro social em relação a um referencial externo — um objeto, um evento ou um símbolo — em uma relação triádica", nesse caso, uma criança com síndrome de Down, outra com autismo e o jogo (o evento). Por fim, nossas análises permitiram apontar o papel crucial de outra criança e dos adultos no desenvolvimento do brincar do menino com autismo; a possibilidade de compartilhamento de interesses e atenção durante brincadeiras tradicionais como “a galinha do vizinho” e a ação mediadora dos adultos no desenvolvimento potencial dessa criança durante a atividade lúdica, mesmo tendo como uma de suas principais características a dificuldade na interação social.

Palavras-chave


Autismo; Interação social; Mediação pedagógica; Brincadeira

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