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A AÇÃO MEDIADORA DO EDUCADOR NA BRINCADEIRA DA CRIANÇA COM AUTISMO
Rayanne Rodrigues de Freitas, José Francisco Chicon, Ivone Martins de Oliveira

Última alteração: 2018-08-28

Resumo


A intervenção educativa orientada para as crianças que são público-alvo da educação especial tem se colocado como um desafio para profissionais da área educacional, sobretudo no que diz respeito às crianças com autismo, devido a dificuldades que se delineiam nos processos interativos, na comunicação com a criança, na compreensão de seus percursos de desenvolvimento e na organização de estratégias e recursos pedagógicos. Tomando como referência os estudos de Vigotski (1997), e outros autores vinculados à abordagem histórico-cultural, compreendemos que o desenvolvimento de todas as funções tipicamente humanas, dentre elas o brincar, se dá nas relações sociais mediadas pelos outros, pelos instrumentos e pela linguagem. Diante disso, esta pesquisa objetivou compreender a ação mediadora do educador/brinquedista na promoção e ampliação da experiência de brincar da criança com autismo na brinquedoteca. Para isso, foi realizado um estudo de caso (LUDKE; ANDRÉ, 2013) da mediação pedagógica em uma brinquedoteca com perspectiva inclusiva, onde os instrumentos de coleta de dados foram a observação participante, videogravação das sessões e registros escritos. Os sujeitos da pesquisa foram 17 crianças de ambos os sexos, com idades de três a seis anos. Dessas crianças, dez compõem uma mesma turma de um Centro de Educação Infantil (CEI) e sete são oriundas de diferentes bairros do município de Vitória/ES – entre elas, seis com autismo e uma com síndrome de Down. Apoiando-se no pensamento de Vigotski (2008), identificamos na brincadeira um potencial inestimável para a emergência de processos psicológicos de base eminentemente cultural, uma vez que o imaginário que perpassa o brincar potencializa aspectos como: memória, ação voluntária, pensamento abstrato e linguagem. Na concepção do autor, a ação na esfera imaginária, a criação de intenções voluntárias, a formação dos planos de vida real e motivações volitivas aparecem na brincadeira, que se constitui, assim, no mais alto nível de desenvolvimento infantil (VIGOTSKI, 2008). No que diz respeito à mediação pedagógica orientada à prática educativa com crianças com autismo, identificamos desafios que requerem a atenção especial do professor. Além das particularidades na interação, na comunicação e nos comportamentos repetitivos, essas crianças costumam apresentar restrições de interesse e alterações nos processos imaginários — especificidades que afetam também a brincadeira. Contudo, com base nos estudos de Vigotski (1997) acerca do papel do ambiente coletivo no desenvolvimento de crianças com deficiência, consideramos que, apesar de suas singularidades, a criança com autismo pode atingir níveis mais elaborados de atividade imaginária, desde que seja estimulada de modo intencional e sistemático pelo professor (CHIOTE, 2015; SIQUEIRA, 2016; CHICON, 2016; SANTOS, 2016). Durante a realização desse estudo, constatamos o quanto a intervenção educativa com crianças com autismo é de fato desafiadora. Foi possível notar as sutilezas presentes na ação mediadora do professor, que permitiram propiciar condições que favoreceram: a inserção das crianças com autismo e síndrome de Down na brincadeira, a ampliação de suas possibilidades de interação com os colegas e o domínio do próprio movimento. Na intervenção em turmas inclusivas, percebemos que é possível transpor os desafios da prática educativa com crianças com autismo por meio da mediação pedagógica, como ocorreu nas experiências das crianças desse estudo, que tiveram sua brincadeira promovida e ampliada pela ação mediadora do professor. É importante destacar o quanto é fundamental, no trabalho mediador do professor de Educação Física, considerar as singularidades das crianças, apostar em sua aprendizagem e investir na ampliação da zona de desenvolvimento proximal ou iminente, agindo sobre o desenvolvimento potencial, nas diversas atividades lúdicas realizadas e, assim, propiciar maiores níveis de independência e autonomia no brincar.

Palavras-chave


Autismo infantil; Mediação Pedagógica; Brincadeira; Brinquedoteca.

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