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OS MOVIMENTOS PEDAGÓGICOS DAS PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO ÀS POLÍTICAS DE GÊNERO PARA A EDUCAÇÃO
Última alteração: 2018-09-04
Resumo
Este estudo, realizado em nível de doutoramento, tem como objetivo geral analisar os movimentos das professoras na constituição das políticas de gênero para a educação e também o seu exercício de implantação no interior das escolas de educação básica do Espírito Santo. Busca conhecer e analisar a natureza das ações que podem ser observadas no exercício da ação pedagógica das professoras e no modo de organizar o trabalho docente. Tem como objeto de pesquisa as demandas e ações das professoras de educação básica em face à produção e implementação das políticas públicas de gênero para a educação no Espírito Santo. Defende como tese que, apesar das diversas contenções (precarização do trabalho docente, fragmentação na organização do trabalho, cultura patriarcal, emergência de ações sociais conservadoras etc.), as ações pedagógicas das professoras indicam a existência de um movimento pedagógico de gênero em curso nas escolas que se relaciona com o movimento feminista e de mulheres no campo social e acadêmico. A existência desse movimento pressupõe que as professoras têm realizado ações pedagógicas que buscam desnaturalizar as dissimetrias e as hierarquizações no campo das relações de gênero e que esse movimento foi potencializado pelas políticas públicas implementadas pelo Governo Federal e estadual, no período de 2001 a 2016. A pesquisa qualitativa teve como atrizes as professoras que participaram do curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE) nos anos de 2011-2012 e 2013-2014. Valeu-se de dados recolhidos por meio de uma pesquisa dos documentos que fundamentam a política de gênero para a educação no Brasil e no Espírito Santo, de um survey e de grupos focais nos municípios-polo que ofertaram o curso GDE. As análises dos dados recolhidos pelo survey foram realizadas pelo software Statistical Package for Social Science for Windows (SPSS) e as dos grupos focais foram feitas com base em elementos da análise de conteúdo (BARDIN, 2008). Na condução teórico-metodológica do trabalho e nas análises dos dados recolhidos, adota como base alguns estudos da Sociologia da Educação. Especificamente, o trabalho de Pierre Bourdieu (1996, 1997, 2002, 2005) ajudou a refletir sobre as permanências e contenções, tendo em vista a tendência de o agente produzir práticas objetivamente ajustadas às estruturas (habitus), mas também a perceber o habitus como uma tendência, vislumbrando a produção de vazamentos às cunhagens. Os estudos de Alan Touraine (1994, 1998, 2011) contribuíram para se perceber e compreender as ações coletivas nas escolas como uma nova forma de ação que gera o que se nomeia de movimento pedagógico de gênero. Esta tese se apoia em Scott (1995) quanto ao uso da categoria gênero e em McNay (1999) quanto ao habitus de gênero para perceber os possíveis vazamentos às permanências e contenções no que tange às políticas e ações de gênero. Esses conceitos foram tomados como um recorte teórico-metodológico importante para desvelar a construção de significados que perpassam as relações sociais e impactam o agir das professoras e a política de gênero para a educação. O estudo conclui que o avanço das políticas públicas no período estudado e o agir das professoras, seja de forma otimista-articulada, seja silenciosa-individual, indicam estar ocorrendo um movimento pedagógico de gênero nas escolas que, apesar de emergir de uma empatia dessas professoras em relação ao tema, foi potencializado pela política pública GDE.
Palavras-chave
Política educacional. Política de gênero. Movimento pedagógico de gênero.
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