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OUTROS OLHARES NO PROJETO “CUIDADORES QUE DANÇAM”: A MULHER PARA ALÉM DO CUIDADO E A DANÇA PARA ALÉM DA TÉCNICA
Júlio Cesar Santos Souza, Erineusa Maria Silva

Última alteração: 2018-09-04

Resumo


Enraizadas culturalmente, as divisões sexuais entre masculino e feminino formam um conjunto de regras que ordenam a sociedade funcionando “como uma imensa máquina simbólica que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos” (BORDIEU, 2002, p. 18). Nessas relações de gêneros, a mulher em situação de inferioridade assume excepcionalmente atividades privadas/domésticas que são menosprezadas e não vistas como trabalho. Dessa maneira, as mulheres são designadas à atividades como a do cuidado de pessoas, função que vem sendo desempenhada em diferentes espaços e profissões, como um elemento estrutural da sociedade, que se construiu majoritariamente como feminina (MARCONDES, 2013). No cuidado, a abdicação dos próprios desejos e necessidades por parte das mulheres se transfigura como algo comum na medida em que o cuidar de outro indivíduo se torna algo preponderante e se agudiza quando o cuidado é voltado para indivíduos com deficiência. Em contrapartida a essa condição feminina e a esses paradigmas sociais, o projeto “Cuidadores que Dançam” foi criado em 2011 com o objetivo de “propiciar um espaço/tempo para que as participantes tenham um momento de descoberta de si em contexto de descontração e aprendizado a partir das diversas formas de dança” (SILVA et al., 2016, p. 891). Inicialmente, o projeto apareceu para preencher um momento em que as cuidadoras esperavam os/as participantes com deficiência realizar as práticas de outros projetos oferecidos pelo Laboratório de Educação Física Adaptada (LAEFA), situação em que acabavam ficando sentadas nos espaços do centro sem usufruir de atividades. Assim, o tempo de ócio foi transformado em um tempo de variadas experiências delas com a dança, tendo em meio às suas funções sociais, um instante de olhar e cuidar de si. Mais adiante, o projeto toma novos sentidos de atender essa população de pessoas que cuidam, as cuidadoras/es de pessoas com deficiência, mas como um espaço que contribui para problematizar esse lugar e papel feminino, e também para a redescoberta e o cuidado de si por meio de experiências com a dança. A Dança, por sua vez, também é problematizada nesse projeto visto que, não raro, é concebida como uma prática distante e de difícil acesso, com determinações que deixam a interpretar que só é possível dançar com uma técnica perfeita e específica. Pensando para além disso, o projeto mostra que diversas interpretações e experiências pode se retirar de um processo de ensino aprendizagem da dança, pois se apresentam possibilidades de um trabalho com uma relação contextualizada e direta com os sujeitos para uma compreensão crítica do mundo, libertação e ressignificação identitária, sem ignorar os relacionamentos/sentimentos/sensibilidade “humanos” (MARQUES, 2011). Perante estas considerações, o presente texto pretende apresentar como se desenvolve a metodologia de ensino utilizada no espaço/tempo oportunizado pelo projeto e suas intenções em relação às suas participantes, transpassando as limitadas definições impostas sobre a mulher e a dança. O trabalho de cunho qualitativo, utiliza como instrumentos para recolha de dados os planos de intervenções, planos de aulas, e relatórios referentes aos semestres 2017/2 e 2018/1, fundamentando-se nas análises de conteúdo.

Palavras-chave


Mulher. Cuidado. Dança. Metodologia.

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