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O TEMA DA SAÚDE NA FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UFES: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO
Victor José Machado de Oliveira, Ivan Marcelo Gomes

Última alteração: 2018-09-02

Resumo


Educação Física (EF) e saúde estabelecem uma estreita relação que remonta a própria história da área. Nesse sentido, buscou-se investigar o tema da saúde nos currículos de formação em EF no Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (CEFD/UFES). O recorte metodológico do texto expressa uma análise documental dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) da licenciatura (1991, 2002, 2006, 2011, 2012) e bacharelado (2016) e entrevistas semiestruturadas produzidas com sete professores que participaram das suas construções. Uma análise a partir da teoria da estruturação (GIDDENS, 2009), leva-nos a considerar três episódios que ocorreram no decorrer do tempo-espaço. No primeiro, observarmos a ruptura com o currículo mínimo e a presença exógena do tema da saúde, via Centro Biomédico (CBM), em disciplinas de cunho biomédico/biofisiológica (por exemplo, a disciplina de bioquímica). O segundo é produzido a partir do redirecionamento para a formação de professores (rompendo assim com a formação generalista). Esse é um período de transformações micropolíticas dentro do CEFD, que resultou na saída do CBM dos currículos abrindo, assim, a possibilidade para a contratação de professores de EF para trabalhar com as disciplinas relacionadas ao tema da saúde. Se esperava que um professor formado na área se realiza uma leitura da saúde própria da EF; o que, segundo uma professora entrevistada, não ocorreu. Relacionamos esse fenômeno como uma consequência impremeditada (GIDDENS, 2009), pois grande parte dos professores de EF contratados continuaram a reproduzir os conhecimentos biomédicos. Ainda na esteira de Giddens (2009), podemos considerar que esse fenômeno encontra abrigo na tradição institucional que sempre influenciou a EF, que é o entendimento biomédico de saúde – e que conferiu à área esse entendimento de saúde biológica (CARVALHO, 2005). Apesar de tal concepção hegemônica ainda se encontrar no currículo, conseguimos observar a emergência de disciplinas voltadas para perspectivas ampliadas de saúde, inclusive, com apoio em outras disciplinas que transversalmente problematizavam o tema do corpo. A esse respeito, Fensterseifer (2006) comenta que a ampliação do entendimento de corpo como ente subjetivo e não apenas biológico corrobora no alargamento da concepção do tema da saúde. O terceiro episódio marca o nascimento do curso de bacharelado. Vemos nesse curso uma narrativa curricular (documental) muito voltada para uma concepção de saúde ampliada. Contudo, quando observamos as grades de disciplinas obrigatórias e optativas, vemos a predominância biofisiológica nos currículos de formação. Agrega-se a isso a fala de uma professora que chama a atenção para o fato de professores com formação na área biológica se autodenominarem da área da saúde. Observamos que, se por um lado é anunciada uma perspectiva ampliada, o que ocorre é uma biologização do tema da saúde pela forte presença de disciplinas com concepções restritas, ou seja, ligadas apenas ao aspecto biológico. Esse cenário no curso de bacharelado, nos mostra um paradoxo que parece expressar as próprias disputas epistemológicas na área quando se trata do tema da saúde. Por um lado, observamos uma tradição calcada em um entendimento de saúde restrito (biológico), mas, por outro, a emergência de concepções alargadas muito em decorrência do contato com as Ciências Sociais e Humanas e a Saúde Coletiva (CARVALHO; CECCIM, 2006). Outra questão que observada foi que o tema da saúde assume uma posição menor na licenciatura frente ao curso de bacharelado. Essa é uma questão observada por outros autores (COSTA et al., 2012; BRUGNEROTTO; SIMÕES, 2009). Por fim, os dados produzidos sugerem que o tema da saúde ainda se concentra, majoritariamente, dentro de uma perspectiva biomédica/biofisiológica em detrimento de concepções alargadas, mas que essas últimas vêm emergindo como possibilidades dentro dos cursos de formação em EF.

Palavras-chave


Saúde. Currículo. Ensino Superior.

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