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Educação Física (EF) e saúde estabelecem uma estreita relação que remonta a própria história da área. Nesse sentido, objetiva-se investigar as presenças e ênfases dadas ao tema da saúde na formação inicial em EF no Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo (CEFD/UFES). A partir do método da cartografia (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2010) foram produzidos os dados, oriundos de pistas que o campo nos foi mostrando: projetos Pedagógicos de Curso (PPC) da licenciatura e do bacharelado, documentos de ofertas de disciplinas, entrevistas semiestruturadas realizadas com professores que participaram da construção curricular dos PPCs, currículos vitae dos professores do CEFD, documentos referentes aos concursos, diários de campo produzidos em duas disciplinas da licenciatura e duas do bacharelado e entrevista semiestruturada com os professores dessas disciplinas. A análise se deu pela mediação entre teorias do cotidiano (ALVES, 2010) e da sociologia da estruturação (GIDDENS, 2009). Partimos da premissa de que as presenças e ênfases dadas ao tema da saúde nos currículos de formação em EF são produções vinculadas à dualidade da estrutura, reconhecida como o “meio e o resultado da conduta que ele recursivamente organiza” (GIDDENS, 2009, p. 441). Dito de outro modo: as condições de possibilidades para determinadas presenças e ênfases dadas a esse tema, decorrem de relações complexas (re)produzidas na relação entre os sujeitos que produzem os currículos de formação e as políticas curriculares (influenciadas, por exemplo, pela pós-graduação). Entendemos que as presenças e ênfases não estão soltas no espaço-tempo, mas estão sempre vinculadas a contextos específicos mediados por uma reflexividade institucional. Denominamos presença como a objetivação (materialidade demarcada em contextos empíricos de existência) que assume o tema da saúde no currículo de formação. Foram produzidas cinco presenças a partir das pistas seguidas: 1) a presença disciplinar tem que ver com uma orientação compartimentalizada dos saberes em pequenas caixas (disciplinas); 2) a presença da prática como eixo formador vem demonstrando com os cenários de prática e o cotidiano do serviço vem ganhando visibilidade nos currículos de formação; 3) a presença mínima se refere a pouca presença do tema da saúde na licenciatura quando comparada ao bacharelado; 4) a presença “curricular” tem que ver com os PPCs e as narrativas que neles são produzidas sobre esse tema; 5) a presença “acadêmica” é observada a partir dos currículos vitae dos professores, onde as formações desses representam determinadas orientações político-epistemológicas (CUNHA, 2005) que acabam por influenciar as formas de presenças nos currículos de formação. Já por ênfase, entendemos como os efeitos gerados por afetos sempre vinculados às presenças. Logo, uma presença não se consolida sem uma ênfase (e vice-versa). Foram observadas duas ênfases: 1) a ênfase técnico-cientificista, biofisiológica e biomédica se remete à própria constituição histórica da área no seio das Ciências Naturais e Biológicas. Tal ênfase, expressa uma política de formação restrita, calcada em princípios hegemônicos e sem a possibilidade de alargamento dos entendimentos do tema da saúde. Observou-se que é essa ênfase a que mais se apresenta nos currículos de formação, inclusive, pelo alto grau de constrangimento advindo do sistema de pós-graduação (GAYA, 2017; MANOEL; CARVALHO; 2011). 2) Por outro lado, vemos a ênfase pedagógica, pública e coletiva se mostra emergente nos currículos. Essa ênfase se vincula nas Ciências Humanas e Sociais e na Saúde Pública/Coletiva, onde se produzem opções de subversão da lógica dominante da ênfase anterior. Observar as presenças e ênfases do tema da saúde na formação em EF se mostra profícua para a problematização de políticas curriculares daquilo que vem sendo, para as potencialidades que poderão vir a ser, quais sejam, aquelas que enalteçam a saúde pública, os contextos, as pessoas.

Saúde. Currículo. Ensino Superior. Educação Física.