Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XV CONGRESSO ESPÍRITO-SANTENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

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“LINDA, LINDA NOVA ALMEIDA, AQUI MORA O MEU CORAÇÃO”: O CONGO COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL E SEU LUGAR NA ESCOLA
Lucas Borges Soeiro, Rosianny Campos Berto, Welder Rossini dos Santos Buzato

Última alteração: 2018-09-04

Resumo


Neste relato de experiência pedagógica evidenciamos os processos de construção e materialização de uma oficina de congo capixaba, na disciplina de Educação Física no Ensino Fundamental do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no período 2017/1. Para realização do trabalho foram mapeadas manifestações corporais presentes nas cidades e municípios do estado do Espírito Santo (ES), sobretudo, nos bairros ou comunidades próximas às moradias dos discentes da disciplina. O congo, entendido como conteúdo possível de ser abordado nas aulas de Educação Física foi escolhido para a nossa intervenção, por ser uma manifestação da cultura capixaba que ocorre, periodicamente, em diversos municípios e, no caso dos estudantes envolvidos com o trabalho, especificamente, nas festas de congo celebradas em Serra e em Vila Velha/ES, com destaque para o modo como esse elemento da cultura se manifesta em Nova Almeida, uma vila de pescadores situada no município da Serra/ES, que celebra a festa do congo no dia 20 de janeiro de cada ano. Da tradição oral, ganha sentido para as interpretações sobre as origens do Congo no Espírito Santo, a narrativa que localiza no ano de 1856, a ocorrência do naufrágio do Navio Palermo, na costa de Nova Almeida (BORGES, 2003), do qual 25 escravos, agarrados aos mastros da embarcação, se salvaram depois de pedido feito a Deus pela intercessão de São Benedito e São Sebastião, para chegarem com vida à terra firme. Em agradecimento, passaram a festejar os santos pretos todos os anos, após acordo firmado com seus senhores (NASCIMENTO, 2014). Consta, ainda, que, em sua passagem pelo Espírito Santo em 1960, Dom Pedro II, assistiu a uma das festas do congo da região, ficando admirado com a casaca – instrumento utilizado nas festas de Congo – sobre a qual escreveu em seu diário de viagem (ROCHA, 2008). A casaca é uma (re)inventação do reco-reco (instrumento indígena), ao qual se acrescenta uma cabeça (representação de seus senhores) e um pescoço (para segurar o instrumento). Nessa compreensão dos significados em torno do congo e de seus artefatos, elaboramos a construção da oficina elencando um acervo de produções artísticas por nós conhecidas, e que deram às nossas produções outros sentidos, pois a “[...] conexão entre cultura, significação, identidade e poder” (SILVA, 1999, p. 134) conduziu-nos a tomar como referência os estudos culturais, que orientam, também, estudos sobre o currículo da Educação Física (NEIRA e NUNES, 2011). Assim, numa Escola de Ensino Fundamental, localizada no município da Serra/ES, ao ministrarmos a oficina, estabelecemos a seguinte ordem metodológica: 1) explicação do contexto histórico, com as músicas Barquinho, da banda Casaca, Linda Nova Almeida e Festa de Congo, de Juninho Santana e com as imagens da Igreja e Residência dos Reis Magos, do quadro Adoração dos Reis Magos, e da carta/desenho de Dom Pedro II sobre a casaca; 2) ensino do ritmo e dos passos de congo, com a música Madalena do Jucu, de Martinho da Vila; e 3) avaliação sobre as impressões dos alunos. Concluímos que as relações estabelecidas entre identidade, cultura e poder apareceram a todo tempo em nosso movimento de pesquisa e intervenção nos levando a pensar questões/seleções metodológicas importantes para o ensino do congo, tais como: as escolhas dos recursos didáticos e a necessidade de explicações das representações e signos dessa manifestação (como a casaca, pré-concebida inicialmente pelos alunos como um artefato de “macumba” e as músicas utilizadas) com vistas a (des)construção de pré-conceitos. Por fim, entendemos que os cuidados pedagógicos são fundamentais para pensarmos a cultura (BHABHA, 1998) e o currículo como elementos híbridos (MACEDO, 2004) que contribuem para considerar a diversidade cultural na escola de maneira democrática.

Palavras-chave


Nova Almeida. Manifestações culturais. Congo Capixaba. Estudos Culturais.

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