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REPRESENTAÇÕES SOBRE CORPO E RAÇA: LENDO CORPOS, SUJEITOS E CORES
Danúbia Aires Souza, José Jairo vieira

Última alteração: 2018-08-28

Resumo


Colocamo-nos constantemente sob a apreciação do outro, que nos categoriza social e moralmente em função da aparência institucionalizada com base em estereótipos e estigmas que nos qualificam como merecedores, ou não, de pertencer a determinado grupo social. A produção de estereótipos corrobora a conservação de uma ordem social e simbólica na sociedade, que continua sendo iníqua no que tange a classe, gênero e raça. Nessa perspectiva, esta dissertação teve por objetivo investigar as representações construídas por discentes acerca do corpo e da raça, especificamente os estereótipos sobre o negro, sua cultura e características corporais. Trata-se de uma pesquisa-ação (THIOLLENT, 2002), por meio da qual, procurou-se: a) levantar e analisar a interpretação e representações acerca do negro e suas características corporais; b) analisar as representações sobre corpo e raça, ponderando os posicionamentos estéticos, éticos e políticos assumidos pelos discentes; c) estabelecer uma análise das visões sobre o corpo e da raça e os processos de (des)construção identitária afro-brasileira. O arcabouço teórico para a discussão baseou-se em Munanga (2003, 2004, 2006), Schwarcz (1993, 2015), Hasenbalg (1979), Hall (1997, 2003, 2016), D’adesky (2009), Guimarães (2001,2002), Vieira (2016) entre outros. A pesquisa foi desenvolvida com um grupo de estudantes de escolas públicas que participam do Centro Salesiano do Adolescente Trabalhador (Cesan), programa desenvolvido e ofertado pela Rede Salesiana do Espírito Santo. Esse Grupo foi composto por vinte indivíduos e o trabalho de campo foi realizado ao longo de três meses do ano de 2016. Nele realizou-se observação participante, rodas de conversa, aplicação de questionário e a técnica de leitura de imagens relacionadas à temática investigada. Deu-se ênfase à análise das falas, ponderando os posicionamentos éticos, estéticos e políticos que assumiram, considerando a existência de ideias de preconceito e de discriminação racial, vinculadas às práticas culturais e as características corporais de matriz africana e afro-brasileira. Fez-se presente na fala dos sujeitos a descrença no “mito” historicamente fortalecido de que a nação brasileira faz-se democrática racialmente, sendo recorrente na fala dos mesmos a percepção de que as desigualdades sociais no Brasil são influenciadas pela cor da pele dos sujeitos. Ressalta-se que os posicionamentos e o nível de consciência e análise crítica acerca da temática abordada por parte dos discentes assumem significativa importância com relação à luta contra a discriminação e o preconceito racial, ou seja, a capacidade de ler o mundo e desmitificar ideologias arraigadas ao imaginário social que ainda representam um entrave nos processos de luta e conquistas arduamente galgadas pelas minorias no país. Dessa forma, os resultados apontam que: 1- A cor da pele faz-se elemento central na análise das relações sociais; 2- Pobreza, violência e raça negra aparecem de forma imbricada nos discursos discentes; 3- Ser negro, na visão dos discentes, implica cotidianamente um julgamento fundamentado na aparência estética, e não em uma postura ética; 4- O “empoderamento” se constitui cada vez mais visível, seja nas madeixas e/ou na autoafirmação identitária dos sujeitos. As passagens vivenciadas ao longo da pesquisa possibilitam afirmar que a luta por reconhecimento, mesmo que morosa, faz-se imprescindível, tendo a família, a escola e, conforme podemos analisar os projetos, como o CESAN, voltados para a juventude assumem uma grande importância nesse caminho, visto que estes podem constituir-se enquanto espaços contra-hegemônicos, respaldados por práticas que possibilitem aos sujeitos realizar uma leitura crítica da realidade na qual estão inseridos e/ou excluídos e desmitificar ideologias arraigadas ao imaginário social que ainda representam um entrave nos processos de luta e conquistas arduamente galgadas pelas minorias em nosso país. Esta dissertação foi desenvolvida no Laboratório de Pesquisa em Movimentos Sociais, Políticas Públicas e Identidade Social: Corpo, raça e Gênero (LADECORGEN/FE/UFRJ).

Palavras-chave


Raça; Corpo; Identidade; Desigualdade; Representações

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