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CORPO E CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: POSSIBILIDADES E TENSÕES A PARTIR DA FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES RACIAIS
Bruno Henrique de Paula

Última alteração: 2018-09-04

Resumo


A presente proposta trata-se de uma pesquisa mestrado em andamento. Nela busco refletir sobre a prática pedagógica de professores de Educação Física egressos dos cursos de formação continuada em educação para as relações étnico-raciais promovidos pela Prefeitura Municipal de Serra/ES. O principal objetivo dessa investigação é analisar se tais professores e professoras têm suas práticas ressignificadas após a realização do curso e, de forma específica, propõem articulações com analises dos processos de construção social do corpo e corporeidades. As principais questões que norteiam o estudo estão centradas na identificação de possíveis tensionamentos pedagógicos e epistemológicos que emergem no campo da Educação Física escolar a partir da lei. Dessa forma, é possível apontar lacunas e avanços existentes tanto na formação inicial e continuada desses professores. Sua relevância se dá pela necessidade da constante reflexão sobre a prática docente, bem como de discutir pedagogias antirracistas e emancipatórias. Apesar da emergência de estudos que analisam as relações étnico-raciais e educação ainda há muito que se fazer, principalmente quando se trata da Educação Física escolar. O presente estudo tenta de forma bastante singela estabelecer articulações entre conceitos que tomamos como importantes pontos de partida para ampliar as reflexões acerca da noção de corpos reais (ARROYO, 2016). De que corpo e corporeidade está se falando? Trata-se de algo universal? Se sim, como ficam aqueles que fogem a norma? Como a formação docente, inicial e continuada, trata tais problematizações? A colonialidade do ser e do saber em Quijano (2005) nos aponta para uma leitura crítica das relações dispares de poder tendo o conceito de raça como um dos elementos centrais para a classificação e dominação dos indivíduos, processo que emerge historicamente nos processos coloniais das Américas, no qual se insere o Brasil. Os trabalhos de Nilma Lino Gomes (2003, 2010, 2012, 2017) destacam o caráter pedagógico dos saberes constituídos pelo Movimento Negro brasileiro e como esses processos foram fundamentais para a emergência dos saberes estético-corpóreos, reafirmando a estética e corporeidade negra, bem como seu caráter emancipatório. A mesma autora ainda nos ajuda nas percepções acerca dos processos de implantação e implementação da lei 10.639/03, do parecer CNE/CP 03/2004 e da Resolução CNE/CP 01/2004. Pensando na formação docente, pretendemos também trazer problematizações sobre as políticas de formação continuada aproximando-as do cotidiano escolar. Como nos alertam Heringer e Figueiredo (2009), precisamos nos afastar da tendência de responsabilização dos professores e professoras quando nos referimos, especificamente, a implantação e implementação da lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Ético-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Veremos, por exemplo, que a incompatibilidade entre a organização do trabalho docente e da gestação, assim como das noções acerca da função social da escola, acarreta em tensões que dificultam a efetividade de práticas emancipatórias. Azevedo et al (2010) chamam atenção para outros fatores importantes, como estender essa formação específica aos demais profissionais da educação e, aliado a isso, reconhecer tais agentes enquanto intelectuais críticos, não como meros aplicadores/executores de saberes. Todos e todas carregam consigo saberes e experiências plurais que extrapolam a prática profissional assim como a formação inicial, pois advém das práticas sociais e culturais. Essa gama de saberes deve ser contemplada nos processos de aprimoramento docente. Por fim, ao buscar compreender como o conceito de raça é operado, tanto como elemento de estratificação social e dominação de grupos definidos como inferiores, quanto demarcador de leituras/ações críticas e politizadas das relações sociais e raciais no contexto brasileiro, estaremos ampliando as possibilidades de análise acerca de sua inserção no campo político, pedagógico e epistemológico da formação docente inicial e continuada.

Palavras-chave


formação docente; educação física; relações raciais; corporeidade; corpo

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