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ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – CEJA/GO.
Anegleyce Teodoro Rodrigues, Bruno Rodrigues Pereira, Ingrid Danielle Crizóstomo Gonçalves, Robson Felipe dos Santos Teles

Última alteração: 2017-01-23

Resumo


Este resumo consiste na síntese de uma pesquisa que foi realizada no ano letivo de 2015, ao investigar as problemáticas significativas da Educação Física, no âmbito do Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA/GO, para fundamentar o planejamento e a prática de ensino da primeira experiência de estágio dos alunos do quinto e sexto períodos do curso de licenciatura, da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás (FEFD/UFG). O estágio supervisionado é uma importante oportunidade de iniciação à docência na formação de jovens professores, de aproximação entre universidade e escola, de articulação entre ensino e pesquisa, teoria e prática.

[...] o estágio pedagógico surge como a referência principal de formação mostrando que esse primeiro ano de prática pode ser fundamental no modo como o jovem professor perspectiva a carreira. A reflexão diária orientada, a cooperação entre todos os elementos do núcleo e a ligação estreita entre a instituição de formação e a escola, são condições referidas como fundamentais para o estágio pedagógico [...] (FRONTOURA, 2005, p.10-11)

Ao final do Estágio foi elaborado um portfólio composto por capítulos que abordaram as diferentes temáticas que embasaram a pesquisa de campo do tipo participante realizada nessa escola, além de uma reflexão de nossa prática de ensino. Os documentos analisados foram: o Projeto Político Pedagógico (PPP) e o plano de ensino da professora de Educação Física, entrevista semiestruturada com essa professora e as observações das aulas que foram feitas durante os meses de setembro e outubro de 2015.
O que primeiramente foi feito nessa instituição foi uma breve conversa com a professora que ministra as aulas de educação física e também a coordenadora pedagógica da escola para ter um pouco mais de conhecimento de como é o trabalho na educação de jovens e adultos e como é desenvolvido o trabalho de educação física com os alunos. Esse contato foi primordial para compreendermos o projeto de educação do CEJA, uma vez que o tema de educação de jovens e adultos não é muito discutido na Faculdade de Educação Física e Dança – FEFD/UFG.
O trabalho de educação de jovens e adultos, segundo o PPP da instituição tem a seguinte finalidade:
Conforme o Regimento do CEJA, o Centro de Educação de Jovens e Adultos tem por finalidade propiciar o desenvolvimento integral do aluno. Isso significa prepará-lo, para o acesso de competências básicas, que facilite sua inserção no mundo do trabalho e ou em estudos superiores e ao mesmo tempo capacitá-lo para interagir socialmente de forma sadia e responsável, dotá-lo de criatividade e de senso crítico para exercer a cidadania de forma plena e digna. Isso inclui ter consciência de que ao ser transformado possa também transformar a sociedade em que vive. (CEJA/SEDUCE, 2015, p. 17)

O objetivo da Educação Física, segundo o PPP da escola é passar aos alunos um repertório variado de manifestações da cultura corporal. O movimentar-se humano é tratado por meio de vivências corporais, para ampliar, aprofundar e qualificar criticamente os alunos quanto aos saberes da Educação Física. Considera-se a realidade vivida pela maioria dos alunos que já chegam exaustos do trabalho e com o tempo de aula reduzido de trinta a quarenta minutos. As aulas de Educação Física têm como eixo temático a saúde e sua relação com os exercícios para o bem estar físico, mental e social.
Segundo a professora de educação física em sua entrevista em relação à pedagogia escolhida, ela preferiu não rotular uma metodologia específica. Afirma que suas aulas são baseadas na experimentação e reflexão voltada para a saúde do trabalhador. Para problematizar essas questões ela seleciona atividades lúdicas e um pouco da pedagogia desenvolvimentista para o ensino de algumas modalidades esportivas, danças e ginásticas.
Uma das coisas que estudamos com grande ênfase nas disciplinas práticas do curso é a dificuldade de espaço físico apropriado para a prática de educação física, pois devemos ser criativos para achar uma alternativa quando a escola não possui quadra coberta ou não possui algo do tipo. No CEJA o espaço de convivência e pátio de entrada da escola é o local onde ocorrem as aulas de educação física, pois não existe quadra ou qualquer outro espaço para a prática da mesma. Isso é uma das coisas que dificultam a prática do trabalho pedagógico nessa instituição porque no espaço de convivência transitam pessoas o tempo inteiro e é o local onde se serve o lanche, fato que diversas vezes dificulta o desenvolver da aula.
Observamos a presença de alguns alunos com deficiência e outros que chegavam no CEJA sob o efeito de drogas. Perguntamos então para a professora de educação física qual era o seu posicionamento sobre o trabalho pedagógico com usuários de drogas e como ela incluía as pessoas com deficiência nas aulas. Em relação aos usuários de drogas, a professora afirma que tenta abordar o tema por meio da conscientização sobre os riscos à saúde, porém sente uma grande dificuldade por falta de conhecimento específico e preparação adequada, pois nesse mundo das drogas cada vez aparecem mais novidades que ela desconhece. Afirma que alguns alunos defendem o uso medicinal das drogas e muitas vezes não se abrem para o diálogo. Mesmo tendo feito um curso à distância sobre drogas, oferecido pela UNB, a professora não se acha competente para tratar do assunto, pois as opiniões que os alunos apresentam sobre as drogas é maior do que o curso pôde proporcionar. Em relação aos deficientes físicos afirma que em suas aulas as atividades são adaptadas, mas ela sente mais dificuldade em trabalhar com os deficientes visuais pelo sentimento de medo de acidentes que os alunos têm e que impedem os mesmos de participarem das atividades práticas.
Os desafios da docência em educação física no interior de uma escola de educação de jovens e adultos nos fez refletir sobre alguns saberes curriculares que vínhamos estudando na faculdade. Qual seria a melhor abordagem pedagógica para a formação dessas pessoas, que método de ensino deveríamos utilizar para conseguirmos transmitir os conhecimentos de educação física? Essas indagações surgiram em alguns momentos dessa experiência. Será que o curso nos preparou para esse tipo de situação? Será que o currículo permite o aprofundamento ou complementação sobre o ensino de educação física para jovens e adultos? Diante dos desafios postos tivemos que buscar embasamento teórico sob a orientação da professora do estágio para fundamentar nossa proposta pedagógica e melhorar nossa compreensão dessa realidade. Por isso, pesquisamos mais sobre determinados assuntos e temas que a faculdade não havia propiciado até então.
Após o levantamento sobre a organização do trabalho pedagógico da escola e da proposta de educação física, partimos para a elaboração de nosso plano de ensino, tendo como base o planejamento da professora, cujo eixo temático é a saúde nas aulas de Educação Física. Neste sentido, apresentamos como tema de nossas aulas a Ginástica de Academia, dando continuidade ao trabalho da docente e buscando oferecer subsídios aos estudantes para que eles (re) conheçam e vivenciem as danças de academia (zumba e ritmos). Baseamo-nos na pedagogia histórico-crítica e nos cinco passos apontados por Saviani como eixos norteadores de nosso trabalho. No entanto, ao iniciarmos o planejamento percebemos que os cinco passos de Saviani não poderiam ser seguidos fielmente pelo pouco tempo que teríamos para ministrarmos as aulas, apenas cinco dias letivos.
Assim, a escolha de duas partes importantes dos cinco passos de Saviani, problematização e instrumentalização, para o desenvolvimento das aulas propiciou que alcançássemos nosso objetivo. Para um melhor entendimento, Saviani (1986) explica essas duas partes da seguinte maneira:

Caberia, neste momento, a identificação dos principais problemas postos pela prática social. Chamemos a este segundo passo de problematização. Trata-se de detectar que questões que precisam ser resolvidas no âmbito da prática social e, em consequência, que conhecimentos é necessário dominar. (SAVIANI, 1986, p. 74)

As aulas se realizaram com êxito. Os alunos aceitaram bem a proposta por nós apresentada e participaram ativamente das atividades evidenciando grande interesse em conhecer um pouco das chamadas “danças de academia” No decorrer das aulas, o diálogo foi o principal motivador para o desenvolvimento do conteúdo e sua conclusão. A avaliação foi realizada de maneira informal, ao final de cada aula, com base na participação durante as atividades propostas. Observamos que os alunos interagiram muito na problematização do tema e levaram muitas questões de suas vivências conseguindo relacionar a explicação além do que foi apresentado no início.
Podemos concluir, então, que o estágio é primordial para o graduando entender como atuar no seu espaço de trabalho, exercendo a profissão de forma mais adequada possível. Mesmo com obstáculos como as greves e as mudanças de professores orientadores no decorrer do ano letivo, essa experiência formativa proporcionada pelo estágio supervisionado, por meio do trabalho educativo em uma determinada escola da rede pública estadual da cidade de Goiânia, permitiu que ampliássemos nossa visão de educação, de escola e da realidade profissional na área do ensino escolar.
A prática de ensino proporcionada pelo estágio no CEJA possibilitou um conhecimento abrangente, antes não oferecido no curso de educação física, o que nos motivou a querer trabalhar nessa área e que muitos estudantes e professores rejeitam. Observamos que há preconceitos e desconhecimento da especificidade em relação à educação de jovens e adultos e identificamos boas possibilidades dos saberes da educação física em contribuir com a formação cultural dos jovens e adultos nesse contexto escolar.
Tendo o conhecimento da importância da formação do professor a escola deve ajudar para essa busca pelo conhecimento em uma ação conjunta. Quanto mais pessoas envolvidas nessa formação melhor o resultado. Temos que levar em consideração que professores vêm de longas jornadas de trabalho e muitas vezes sozinhos não conseguem atingir o patamar necessário, tanto pela falta de informação, como por desmotivação. A parceria com a universidade é muito importante, no que se refere à formação continuada e atualização de questões sociais, culturais e pedagógicas.
Refletimos sobre o que é essencial para um bom trabalho pedagógico na Educação de Jovens e Adultos, e podemos afirmar que mesmo com dificuldades e deficiências de alguns conhecimentos, a professora da escola mostrou preocupação em problematizar os saberes da educação física e suas relações com as questões de saúde, trabalho e lazer, além de buscar motivar os alunos pelo diálogo e pela ludicidade, expressou grande empatia e respeito pelos educandos, fato que nos influenciou positivamente para planejar e ministrar nossas aulas.
Para que a formação de professores seja mais significativa em relação à realidade da Educação Básica sugerimos que as práticas de ensino no interior das escolas ocorram desde o começo do curso. Assim teríamos mais tempo para compreendermos as diversas faces da escola e poder preparar projetos de ensino mais qualificados. A relação entre as teorias previstas no currículo e a prática escolar até a metade do curso se estabelece por meio de textos e livros que são fundamentais, mas não substituem os desafios da intervenção dentro da escola.