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O CORPO E A IMPOSIÇÃO DA VISIBILIDADE: A tirania do “ser visto” na contemporaneidade – Uma experiência no caminho da fé.
Daiana Rodrigues de Lima Braga

Última alteração: 2017-01-24

Resumo


O presente artigo busca analisar o contexto em que se formam os indivíduos envolvidos na tirania da visibilidade que impõe a necessidade de ser visto até mesmo durante momentos como os destinados a fé. Nesse sentido, em um primeiro momento, levantamos elementos relacionados ao contexto histórico, político e social que determinam que é esse sujeito e a sua relação com o próprio corpo. Assim, contemplamos a questão da visibilidade na sociedade contemporânea enquanto imposição para existência dos indivíduos, por meio de observação, foi analisado o comportamento dos romeiros durante o percurso de dezoito quilômetros entre Goiânia e Trindade – Goiás, em que a ação mais recorrente entre eles foi a realização de selfie. Ação essa, que afirma a visibilidade em detrimento do pensamento, ação marcante na contemporaneidade, assim, damos desfecho ao artigo pensando uma possibilidade de romper com essa tirania, pela educação, contemplando a perspectiva da educação estética enquanto alternativa de resgate dos indivíduos.O “voltar” para si é visto enquanto ação necessária para se livrar das amarras impostas pela visibilidade, uma vez que a evolução das tecnologias, leva ao individuo a divisão do trabalho dos sentidos, provocando um transtorno nos modos de subjetivação. A introspecção pode ser uma ação de resistência a fragmentação, fazendo com que os indivíduos estabeleçam um dialogo entre sensibilidade e racionalidade, que supere o natural e vá de encontro ao cultural. Essa associação poderá contribuir para a formação de cidadãos capazes de contemplar e valorizar o humano de forma plena, nesse sentido, propõe-se a educação estética enquanto resistência a esse mundo desumanizado no qual estamos inseridos, resgatando sentimentos reprimidos, contemplação a ação para além do que pode ser visto.
A possibilidade de superar essa formação fragmentada do sujeito, pautada na visibilidade, só poderia acontecer no momento em que o homem pudesse desfrutar de sua liberdade, espiritualidade e autonomia. Para tanto, a educação poderia ser um meio de resgate dessa emoção reprimida que se perdeu em meio essas imposições pautadas na contemporaneidade. A beleza seria o fio condutor para o resgate e construção desse individuo livre das amarras da tirania da visibilidade. Para Schiller, a estética encontra-se na estética e na natureza, o belo como algo objetivo a sua percepção como subjetiva, infinito e a inclusão de todas as realidades.
Nesse sentido, é nessa constituição que se deve pensar o homem perante a educação estética, que se apresenta enquanto possibilidade para se promover rupturas na sociedade que vem se perdendo no momento em que a visibilidade é a única condição para se afirmar enquanto sujeito. A transição da beleza a verdade, só pode ocorrer por meio da analise da realidade comum, compreendendo essa necessidade de ser visto, que aniquila a experiência. A análise dessas ações pode se constituir como ruptura para se pensar uma formação que vá para além de aparências, e que conceba o homem pensando a sua plenitude.

Palavras-chave: Corpo, visibilidade e selfie.
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