Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, I Encontro de Políticas Públicas, Esporte e Lazer e II Jornada Rede Cedes Goiás.

Tamanho da fonte: 
USO DE DROGAS NA ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL SITUADA EM APARECIDA DE GOIÂNIA
Fernando Resende Cavalcante, Lucas Vilela Queiroz, Pollyana Nascimento de Paula

Última alteração: 2017-01-24

Resumo


Palavras Chave: Escola; Drogas; Educação.
Introdução

Durante observações realizadas em um colégio estadual em Aparecida de Goiânia , durante as visitas a campo referentes à disciplina de Estágio Curricular Obrigatório I, do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Goiás, pode-se perceber que assim como em outros ambientes da sociedade, as drogas lá estão presentes. Durante a primeira observação, a professora de Educação Física, do colégio, que nos mencionou que muitos alunos relatam que fazem o uso de diferentes substâncias químicas, mas que a maconha é a droga mais utilizada entre eles. Dessa maneira, começamos a refletir a respeito do uso de drogas pelos alunos do ensino médio e como esse uso pode ou não influenciar na dinâmica escolar.
Foi feito uma pesquisa bibliográfica, juntamente com as observações e conversas informações com alunos, professores e coordenadores da escola. Tivemos também, um diálogo informal com os policiais da região, na intenção de obtermos uma teia de informações a respeito do uso de drogas, por adolescentes, especialmente dos que cursam ensino médio.
Teve-se com a análise dos dados, que o uso de drogas entre adolescentes, especialmente, dentre os alunos do ensino médio, é constante e muitas das vezes, esse uso é dentro do tempo pedagógico escolar, o que em muitas das vezes, pode refletir no processo ensino-aprendizagem.

Desenvolvimento

Atualmente, é possível observar também, que os embates contra as drogas tem falhado no Brasil devido a medidas atrasadas e mal planejadas pelos gestores do país, uma vez que o uso de drogas e histórico e pertencente aos mais diversos grupos sociais e povos em rituais, cultos e até mesmo de modo recreativo como exposto por Laura M. Nunes. Há ainda quem acredite que o controle pelo Estado do uso (ou não) de drogas por parte do indivíduo fere o direito de as pessoas disporem livremente do seu corpo e sua mente. Além disso, o acesso e o uso de drogas, de deferentes tipos, é relativamente fácil, assim como pode ser observado no relatado em uma conversa informal com um dos estudantes, observados na escola: “(...) todo mundo conhece um traficante hoje em dia (...)”.
São diversos os modelos e referenciais teóricos para o trato pedagógico das drogas em ambientes escolares, e a partir da reflexão e dados coletados durante a pesquisa começamos a pensar certas alternativas para o trato do tema no ambiente escolar de maneira propícia, tentando fugir modelos tradicionais trabalhados nos dias atuais, que se baseiam unicamente em palestras ou em programas como o PROERD (programa educacional de resistência às drogas) que é administrado pela polícia militar.
Então como devemos agir em relação ao uso de drogas, especialmente com adolescentes que cursam o ensino médio? São diversos os métodos presentes na literatura que relatam formas de evitar o uso dessas substâncias, como por exemplo: O modelo do conhecimento científico, o modelo da educação efetiva, o modelo de oferecimento de alternativas e o modelo de educação para a saúde. Todos esses modelos são relatados no livro “Drogas na escola: Alternativas Teóricas e Práticas” de Julio Groppa Aquino.
Segundo Aquino, o Modelo do conhecimento científico fornece informações sobre as drogas de maneira imparcial e cientifica, buscando assim que o estudante compreenda suas características e fazendo com que os mesmos tomem decisões racionais a respeito da mesma. Já o modelo da educação efetiva entende que estudantes bem estruturados psicologicamente tendem a evitar o uso dessas substâncias e dessa maneira o modelo propõe a utilização de métodos que aumentem a autoestima, que diminuam a ansiedade e que o ajude no convívio em grupo.
O modelo de oferecimento de alternativas tende a proporcionar outras sensações aos indivíduos que o causem prazer e satisfação, como por exemplo, atividades esportivas desafiadoras, que acabam por gerar um prazer no indivíduo fazendo com que o mesmo não recorra ao uso de entorpecentes; e por fim, o modelo de educação para a saúde traz a saúde como um elemento central no debate e as drogas são demonstradas como substâncias prejudiciais ao organismo humano e que podem causar consequências sérias ao bom funcionamento do corpo humano.
Pensando em todas essas questões, no início das observações, tentou-se ouvir os diversos pontos de vistas a respeito do uso de drogas na adolescência, ou entre estudantes do ensino médio. O diálogo aconteceu com estudantes, educadores, funcionários e diretora. A primeira constatação que tivemos foi que os pontos de vista variavam de acordo com o indivíduo que relatava sobre uso das drogas.
As primeiras perguntas que fizemos foi, qual o motivo dos estudantes usarem drogas? Por conta do seu efeito químico? Por desequilíbrios emocionais e familiares? Percebe-se que são diversos os motivos que podem levar um indivíduo ao uso de drogas, mas ao conversar informalmente com esses jovens em idade escolar, especialmente do ensino médio, nota-se que esses jovens utilizam drogas para adquirirem um pertencimento e respeito dentro de um determinado grupo social, desse modo, o uso das droga, principalmente da maconha, se torna um meio para a entrada do indivíduo dentro desse grupo social. Sobre isso, Adiala (1986) fala que a importância que atribuímos à presença da droga em nossas relações não se deve tanto às propriedades químicas especiais dessas substâncias, mas sim às suas propriedades simbólicas, seu efeito cultural. As drogas permitem que delimitemos domínios sociais precisos e que organizemos nossa realidade ao redor de certas normas.
Os relatos confirmam o que o autor acima nos diz, já que o uso de drogas, dentre esses estudantes do ensino médio, na maioria dos casos, não se relaciona com o seu efeito no organismo, mas sim, no seu efeito social e simbólico onde em muitos casos os adolescentes a usam como tentativa de se inserir em determinado grupo social, gerando assim, o primeiro contato com a mesma.
Uma professora citou que o uso de drogas (no caso maconha) não influenciava nas aulas dela e que os alunos ficam somente “tranquilos” e acabam não atrapalhando efetivamente sua aula, mas, de qualquer maneira, ela procurava orientar discutindo com os educandos o não uso, pois o “excesso pois faz mal”. Apesar do depoimento da professora, é importante refletirmos que o educando não prejudica a aula, mas acaba por prejudicar a ele mesmo o que não deixa de ser um problema grave no processo de ensino-aprendizagem.
Além da professora, conversamos informal e amistosamente com três estudantes da escola a respeito do uso de drogas. Pudemos notar que o uso das drogas esta mesmo presente na vida desses alunos. Os estudantes, assim como a professora relataram que esse uso de drogas não atrapalhava o decorrer das aulas, já que, os usuários ficavam mais tranquilos e acabavam não modificando o fluxo das aulas.
Sobre o modo de adquirir as drogas, os estudantes, disseram que nunca viu o tráfico dentro da escola e se isso acontece, eles não têm essa informação. Percebe-se que a respeito do tráfico, os estudantes sentem-se um pouco incomodados ao relatar e preferem evitar falar sobre esse ponto.
Os funcionários da escola, nos pareceu omissos e com receio de dialogar sobre o uso das drogas, mesmo deixando claro que a conversa não prejudicaria nem eles e nem a escola. Desse modo, os relatos dos funcionários da escola não promoveram profundas reflexões a respeito da temática.
Conversamos, informalmente, também com um dos capitães da Polícia Militar, que faz rondas ao entorno do colégio. Ele percebe que é bem frequente o uso de drogas, especialmente em adolescentes da faixa etária correspondente ao ensino médio. Diz que a polícia faz diferentes trabalhos de conscientização sobre o uso das drogas, se mostrando disposto a dar palestras e orientações sobre esse uso. Percebe-se que a Polícia Militar é uma instituição importante no debate e esclarecimento sobre o uso das droga, uma vez que esse grupo tem maior contato com a realidade de diferentes grupos sociais e diferentes formas e usos de entorpecentes. Tem-se críticas fortes em relação as instituições militares e o combate de drogas e criminalidade nas regiões periféricas e sobre isso, buscamos no 9° Anuário Brasileiro de Segurança Pública ; Atlas da violência 2016 . Nesse anuário, 62% dos entrevistados relataram que sentem medo da violência polícia e 38%, não. Dos que apontaram que sentem medo 67% tem renda familiar de até dois salários mínimos e 71% são pretos. Percebe-se então, que a violência policial pode estar atrelado a classe e raça, o que se torna um problema social.
A diretora do colégio, que mostrou ser bem esclarecida em relação ao uso de drogas, não concorda com o uso das drogas em nenhuma faixa etária, especialmente em adolescentes. Ela diz tomar algumas medidas como conversa com os pais ou familiares. Em outros casos, a própria família busca auxilio da escola. Nesses casos, o conselho tutelar pode ser acionado e o estudante passa a receber auxilio dessa instituição.
Para o debate a respeito desse tema necessitamos de educadores com conhecimento não só sobre a temática, mas também, com boa ideias pedagógicas para tratar do tema. Nesse caso, o professor não transfere seu conhecimento, mas sim, “criar possibilidades para sua produção e construção” (Freire, 1996). Além disso o educador deve reforçar a capacidade crítica do educando fazendo com que o mesmo reflita sobre a temática.
É necessário que os professores e estudantes entendam qual o conhecimento deles sobre a temática e que esse conhecimento seja respeitado, o que não significa que a ausência de discussões de reflexões críticas entre os envolvidos.
Ana Cláudia Müller et al. traz importantes reflexões sobre esse diálogo e abordagem da prevenção ao uso de entorpecentes entre adolescentes do ensino médio de escolas públicas. O autor propõe que os alunos, a comunidade e os professores assumam o papel de provedores de sua própria saúde estudando e debatendo sobre o tema de maneira crítica.
Primeiramente é importante pensar em um diálogo interdisciplinar, onde as matérias elaborem aulas que proporcionem o debate sobre a temática num ambiente de menos julgamento e maior abertura de fala dos estudantes. Dessa maneira é interessante ouvir o ponto de vista dos estudantes a respeito do problema e qual a visão dos mesmos em relação às drogas. A partir do debate, os educadores notem as características do grupo e após isso pense a melhor maneira de agir a respeito da situação.
Outro ponto de reflexão que pode ser sugerido, é que não leve para o debate, um indivíduo alheio a realidade local, pois isso poderá causar uma repressão ou desconforto, na liberdade de expressão dos alunos, uma vez que este não entenderá a dinâmica real da situação do local. Outra iniciativa que pode ser tomada pela escola, é trazer ex-usuários de drogas para descreverem a realidade deste uso, em suas vidas.
A realização desses debates com estudantes e professores devem ser amistosos por parte dos educadores, permitindo assim a livre expressão e compreendendo suas características emocionais e motivos pelos quais alunos possam recorrer ao uso das drogas. É importante ressalta que o debate não deve acontecer somente entre o estudante e os professores, mas também entre os professores, professores, família e comunidade, de forma em que o diálogo alcance todas os envolvidos na dinâmica escolar e possa ser diagnosticado os diversos pontos de vista a respeito da temática.

Conclusão
Conclui-se que o uso das drogas esta presente no cotidiano dos estudantes do ensino médio, especialmente no processo de pertencimento a determinados grupos sociais dentro de uma escola pública de Aparecida de Goiânia. Por isso é importante que se abram espaços de discussões sobre a temática no âmbito escolar e que os debates sejam feitos pelos próprios indivíduos que vivenciam tal dinâmica, tornando-os assim, sujeitos apropriados dos conhecimentos sobre o uso das drogas de maneira multifacetada e crítica. A partir daí os estudantes podem construir oficinas e trabalhos a respeito da temática formulando e desenvolvendo atividades que atinjam o público escolar e a comunidade em geral, atuando como um mecanismo de desalienação e conscientização sobre as drogas de maneira ampliada e crítica. É necessário que os educandos sejam sujeitos desse processo e que as ideias veiam dos mesmos e com o auxilio dos professores criando uma identidade com a temática e realizando uma real aprendizagem do conteúdo.

Referências

AQUINO, J.G. Drogas na Escola. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1998.
VEIGA, I. P. A. Projeto Político-Pedagógico Da Escola:
Uma Construção Coletiva. São Paulo, 2002.
MORAES, K. N; OLIVEIRA, J.F; DOURADO, L. F. Gestão escolar democrática: definições, princípios e mecanismos de implementação. Goiás.
MÜLLER, A.C, et al. Prevenção às drogas nas escolas: uma experiência pensada a partir dos modelos de atenção em saúde. Estudos de Psicologia, Campinas, 2008, vol. 25, n.4.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. EGA, 1996.
MERLINO, T. Quem tem medo da polícia?!. GALILEU, São Paulo, edição 301, p. 40-51, Ago. 2016.
NUNES, L.M. O uso de drogas: breve análise histórica e social.