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AS ATIVIDADES DE AVENTURA E A EDUCAÇÃO LÚDICA NA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR
Última alteração: 2018-03-20
Resumo
Na Modernidade, o lazer é uma prática social que disciplina o impulso lúdico. Com isso, a relação entre lazer e educação é constantemente marcada por equívocos, como se ambas práticas só se justificassem em função do trabalho. Ainda assim, seria possível estabelecer relações educativas para além desse reducionismo? Nesse sentido, o presente trabalho reporta a experiência da Escola de Aventuras, um projeto de educação para o lazer que, concomitantemente, interage com conhecimentos formais essenciais à formação de crianças no primeiro ciclo do ensino fundamental. O propósito específico deste trabalho é ilustrar a interação entre modalidades de aventura e saberes escolares, na perspectiva interdisciplinar. Para tanto, se trabalha com a ideia de tema gerador em Paulo Freire. As aulas são realizadas com crianças de faixa etária entre 7 e 9 anos, uma vez na semana, no Colégio de Aplicação Pedagógica (CAP) da Universidade Estadual de Maringá. Os acadêmicos se reúnem antecipadamente para o planejamento da aula de acordo com as modalidades e durante a aplicação são organizados em duplas para administrar um pequeno grupo de alunos, para facilitar a educação dialógica. As atividades acontecem em forma de rodízio, de maneira que cada grupo pratique ao menos duas modalidades diferentes por aula, entre elas: escalada, orientação, parkour, skate e slackline. No primeiro ano, por exemplo, são vivenciados, por meio dessas modalidades, conteúdos como: seres vivos e não vivos; sólidos que rolam e não rolam; adição; alfabeto e sílabas. Já no segundo entram no entrejogo interdisciplinar: formas geométricas; sistema métrico; multiplicação e adição. Por fim, no terceiro ano foram visados conteúdos como: pronome; antônimo; divisão; fábula e sinônimo. Pode-se notar que a junção prático-teórico proporcionou um envolvimento positivo do aluno. Levando o aluno a refletir sobre os dois lados da questão: como a criança pode aprender seres vivos e não vivos andando de skate e como seres vivos e não vivos podem ajudar a criança a andar de skate? A primeira pergunta está relacionada com a ludicidade, uma vez que aprender brincando se torna mais divertido e prazeroso. Já a segunda, se trata de uma questão de ética e respeito a natureza, pois depois de aprender que o skate não é um ser vivo, se trata do aluno refletir e decidir o que é prioritário: o objeto ou a vida. Nesse exemplo o tema gerador Meio Ambiente envolve a vivência do skate como meio de transporte não-poluente com o conhecimento aplicado à realidade concreta do aluno em exercício dos conhecimentos formais da escola. Entre os desafios está manter a dialética entre ação e reflexão, gerando uma nova ação, uma vez que a educação para o lazer, a nosso ver, se equilibra entre a tensão hedonismo x instrumentalização funcionalista do lúdico. Nesse sentido, reiteramos nossa crítica ao lazer como um instrumento moderno de sedução-controle mas, por outro lado, considerando esse fenômeno como uma oportunidade de produção de estéticas de si, no sentido apontado por Foucault. A educação para o lazer visando, pois, a arte de viver requer o enfrentamento dialógico das ambiguidades constitutivas do lúdico e das contradições da sociedade capitalista. Diante dessas reflexões, concluímos que as atividades de aventura são mais um campo de disputa por modos de experimentar o lúdico no tempo departamentalizado do lazer e que a educação promovida na Escola de Aventuras, não obstante seus limites, é uma experiência que proporciona a interação –interdisciplinar– de saberes.
Palavras-chave
Atividades de lazer. Educação. Educação Infantil