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O TRATO COM O CORPO DO DANÇARINO NOS PROCESSOS DE CRIAÇÃO CÊNICA DOS GRUPOS FOLCLÓRICOS DO PARÁ
Paulo Lima, Marília Soares

Última alteração: 2012-08-17

Resumo


Este trabalho ocupa-se da identificação e análise do trato com o corpo do dançarino nos processos de criação cênica dos grupos folclóricos do Pará. Trata-se de uma pesquisa realizada pelo LACOR/UFPA e IAR/UNICAMP, no campo de interseção entre as áreas de estudo do corpo, cultura popular e arte. Justifica-se pela necessidade de aprofundamento do conhecimento sistemático sobre o processo de produção cultural, especialmente no campo das danças folclóricas, dada a intensidade destas manifestações no estado do Pará, como contribuição aos estudos sobre processos criativos em dança. Vale ressaltar as poucas produções acadêmicas sobre esta temática na Região Norte, o que revela o caráter de relevância científica deste estudo. Em se tratando do trato com o corpo, resgatamos aqui os referenciais de Gonçalves (1994), Santin (1992) e Morais (1992), no reconhecimento de um corpo-sujeito, energético, cultural, simbólico e precário, que se reinventa pelo jogo e pelo diálogo humano, exercitado no campo dos estudos sobre artes cênicas em autores como Gil (2004), Soares (2000) e Ferracini (2003), ao se reportar a condição de não se ter, mas de se ser um corpo nos processos de criação cênica. Tais referenciais se encontram fundamentados em um paradigma sistêmico, referenciado por Crema (1988) e Capra (1995) ao identificarem os equívocos de um paradigma mecanicista de compreensão de mundo, de homem e de conhecimento. Ao compartilharmos dos estudos de Fernandes (1978) e Arantes (1985) sobre a concepção de folclore como um olhar positivista e mecanicista sobre fragmentos da expressão e cultura humana, delimitamos a hipótese da construção das cenas espetaculares dos grupos folclóricos estarem embasados em uma concepção mecanicista de corpo, dadas as práticas de tentativa de reprodução de técnicas de movimento das danças tradicionais. Nosso trabalho, então, se propôs a investigar como se dá este trato com corpo, consistindo em uma pesquisa de campo qualitativa e descritivo-analítica, com dados coletados por meio de entrevistas, análise documental e observações sistemáticas dos dançarinos do “Grupo Paranativo”, por ser um grupo representativo das ações dos demais grupos e um grande articulador dos mesmos no Pará. A partir das observações iniciais, especialmente das atitudes dos dançarinos durante o Festival Folclórico da Amizade, evento que reúne diversos grupos do estado, realizado em julho deste ano, em São Caetano de Odivelas/PA, pudemos verificar a forte intencionalidade de proteção e resgate das manifestações populares, face ao argumento da iminência de desaparecimento destas manifestações, pelas novas configurações culturais de linguagem corporal da sociedade contemporânea. Os ensaios se configuram como vivências significativas e espontâneas de danças de forma democrática, não havendo delimitações estabelecidas a priori, como momentos específicos de construção cênica. São realizadas as chamadas “rodas de carimbo”, “cortejos culturais” e “missa afro”, que funcionam como elementos simbólicos aglutinadores da comunidade em processos “rituais” de culto à uma “identidade paraense” e provocação de estados alterados de consciência através do corpo e da dança. Tal constatação nos dá indicativos de uma concepção sistêmica de trato com o corpo, adquirida naturalmente pelos processos espontâneos de ressignificação das danças coletadas nos grupos tradicionais de danças populares.

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