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A DANÇA DOS CADEIRANTES NO CORTEJO DA LAVAGEM DO BONFIM
Adriana Priscilla C. Cavalcanti, Luís Vitor Castro Júnior

Última alteração: 2012-11-13

Resumo


Introdução
De dezembro até o Carnaval as festas populares baianas arrastam multidões numa mistura de fé e irreverência pelas ruas de Salvador, incrementando assim, a ideia de que o povo baiano tem uma maneira única de fazer festa.
Este trabalho, originalmente surgiu do projeto de Pesquisa Lazer e Corpo: as expressões artísticas e culturais do corpo nas festas populares baianas, que consiste em pesquisar os saberes (performances) que os corpos expressam utilizando-se de outros signos, outras formas de linguagem e de expressão nas festas.
Para tanto, o foco deste estudo consiste em identificar e analisar os movimentos corporais produzidos pelos os cadeirantes, bem como compreender a inserção dos mesmos no espaço público do cortejo da Lavagem do Bonfim.
Metodologia
A pesquisa é de caráter exploratório-descritivo que se utilizou dos dispositivos de observação participante, imagem fotográfica e imagem em movimento para produção de dados, pois permitem que determinado evento social, em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados e relações.
Também compartilhamos da abordagem da etnocenologia, pois nesta multiplicidade de artes do espetáculo do corpo nos mais diversos espaços (BIÃO, 2009), olha-se os múltiplos lugares das festas, principalmente no que tange os interstícios e suas vizinhanças como as cenas espetaculares dos corpos anônimos produtores de saberes, ainda pouco valorizado.
Apresentação e discussão dos dados
O cortejo da Lavagem do Bonfim alcançou o auge quando em 1937 passou a concentrar-se em frente à igreja da Conceição da Praia (SANTANA, 2009). A partir de então uma multiplicidade de corpos, partem em romaria à Colina Sagrada, encenando estéticas, performances e saberes nas ruas, na porta dos bares e nos embalos do cortejo, demonstrando que quem tem fé vai a pé, ou de cadeira de rodas, de joelho, de bicicleta, de carroça, de jegue, de guarda-chuva e até com frevo no pé – todo jeito, enfim, é válido para render graças a Oxalá e Senhor do Bonfim.
Nesse contexto uma das coisas que nos chamou atenção no cortejo foi a performance dos corpos-cadeirantes. Corpos que fazem da cadeira de rodas uma extensão do seu corpo; não para materializar o significado de falha ou defeito (FERREIRA, 2002), mas enquanto instrumento que faz parte do processo criativo e performático de um espetáculo em meio à multidão; ao som dos diversos ritmos.
Corroboramos com Ferreira (2002), quando deflagra que a dança em cadeira de rodas apresenta o sentido de prazer no poder fazer o movimento, no qual “produz outros efeitos de sentidos em relação ao que o sujeito é na sociedade” e que “a relação sujeito-dança-sujeito, é um processo que movimenta a identidade do sujeito” (p. 126). Em nosso caso, a dança do corpo-cadeirante, produz formas corporais que revelam significados culturais do “não dançarino profissional”, mas atento ao ritmo musical, bem como um conjunto de habilidades que ele aciona ao mesmo tempo como a noção de equilíbrio, giro e deslocamento espaço-temporal, que demonstra “uma possibilidade de questionamento, ruptura e transformação” (FERREIRA, 2000, p.94) do significado estabelecido pela sociedade frente a esta condição.
No quesito acessibilidade, os cadeirantes não ficam em uma ala exclusiva com uma proteção de cordas como acontece no carnaval soteropolitano. Pelo contrário, vão no meio da multidão e no embalo da confusão produzindo expressões estéticas na arte de dançar. Enfim, conquistam seu espaço na festa chamando atenção dos olhares curiosos e admirados por sua performance.
Considerações finais
Concluímos que a dança em cadeira de rodas nas festas populares não se configura como modelo coreográfico ensaiado pelos os grupos de danças convencionais, mas, sobretudo na produção de gestos, nos quais os cadeirantes expressam seus saberes diante das situações vividas no momento da festa. Eles potencializam um espetáculo particular onde o palco é a rua e os espectadores é a multidão, concretizando assim uma ruptura de sentidos que normalmente são estabelecidos pela sociedade a esses sujeitos.

Palavras-chave


festa; cadeirantes; dança

Referências


BIÃO, A. Conferência de Abertura. VI Colóquio Internacional de Etnocenologia. Belo Horizonte – MG. 2009
FERREIRA, E. L. O sentido do sentir: corpos dançantes em cadeira de rodas. Conexões: Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 0, n. 4, p. 89-98, jan./jun. 2000.
_____, E. L. Dança em cadeira de rodas: os sentidos dos movimentos na dança como linguagem não-verbal. Curitiba: ABRADECAR, 2002.
SANTANA, M.C. Alma e festa de uma cidade: devoção e construção da Colina do Bonfim. Salvador: EDUFBA, 2009.

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