Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, VIII Seminário de Estudos do Lazer

Tamanho da fonte: 
A PRATICABILIDADE DA RECREAÇÃO/LAZER EM HOSPITAIS: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS
Hani Zehdi Amine Awad

Última alteração: 2019-09-21

Resumo


Prof. Me. Hani Zehdi Amine Awad; Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz (FAG)

Acadêmica Caroline Rosa Alberton; Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz (FAG)

Acadêmica Myllena Thaynara Coelho; Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz (FAG)

E-mail: hani@hani.com.br


INTRODUÇÃO

Diferentes estudos vêm discutindo sobre a utilização da recreação e do lazer no ambiente hospitalar por profissionais de determinada área específica ou multidisciplinar. Estes peculiarmente se propõem a investigar sob três abordagens: 1) com fins terapêuticos, contribuindo para a reabilitação do estado de saúde físico, mental e social do paciente hospitalizado; 2) para humanização do ambiente hospitalar por meio de estratégias lúdicas; 3) com enfoque educacional, oportunizando a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal junto ao paciente internado.
Todas estas abordagens estão inter-relacionadas e têm algo em comum: a utilização da recreação ou do lazer para promover ações lúdicas e sensíveis que estimulem a autoexpressão e a criatividade do paciente em busca de reanimar a sua vida dentro da instituição hospitalar.
Neste sentido, esta pesquisa buscou levantar as publicações difundidas na revista LICERE e discutir até que ponto a recreação e o lazer são, evidentemente, possíveis em hospitais.

METODOLOGIA

A metodologia trata de revisão bibliográfica na base de dados da Revista LICERE – Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar de Estudos do Lazer / UFMG entre os anos de 2008 a 2018. A especificidade na escolha da revista sucede pela seriedade que expõe na produção de conhecimentos frente os campos do lazer e da recreação. Para a busca foram utilizadas as palavras-chave: “hospital”, “hospitalar”, “recreação em hospitais”, “lazer em hospitais” e “humanização hospitalar”. Primeiramente, foi constituído a partir do título e, posteriormente, da identificação das respostas, ademais da análise dos resumos e das palavras-chave. A partir de cada resumo, foi possível identificar quais publicações foram produzidas e os contextos abordados frente à utilização e/ou aplicação da recreação ou do lazer no ambiente hospitalar. Foram excluídos os artigos repetidos, os que exibiram somente o resumo e os que não contemplavam o objetivo do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao considerar o lazer um fenômeno da vida humana que se caracteriza em função da cultura vivenciada (sentir, pensar, (res)significar e agir) no tempo (livre, liberado, disponível) descompromissado das obrigações profissionais e cotidianas em espaço/lugar e que promova a vivência de valores em busca de um estado de prazer (que pode não vir a ocorrer) e necessitando de legitimidade em determinados campos, surge um impasse, será que caberia a busca pelo lazer no ambiente hospitalar?
Foram identificados quatro artigos publicados na Revista LICERE, dos quais, três relacionam as diversas contribuições que o lazer pode oferecer ao paciente hospitalizado quando orientado adequadamente por um profissional com formação ao passo que, um aborda a brinquedoteca enquanto espaço lúdico, recreativo, educativo e de atuação profissional.
Inicialmente discorreremos sobre as publicações de Isayama et al (2011), Dantas et al (2014) e Pinto e Gomes (2016) que apresentam em seus estudos proximidades frente ao lazer no âmbito hospitalar.
Isayama et al (2011) discutiram sobre as possibilidades de inserção do lazer no contexto da humanização hospitalar. Considerou que, pensar a humanização hospitalar é, portanto, ponderar em respeito à vida humana e no reconhecimento dos direitos dos sujeitos. Assim, o lazer pode ser um elemento importante para ampliar as possibilidades de humanização hospitalar, bem como a atuação interdisciplinar profissional nesse campo.
Humanizar o ambiente hospitalar, apesar de ser um dos grandes desafios da sociedade atual, faz-se necessário e imprescindível. Mas, humanizar na aplicação da saúde é compreender a pessoa em sua individualidade, identificando as necessidades exclusivas, criando condições para que tenha possibilidades para exercer suas vontades.
Dantas et al (2014) afirmam que, a partir de estudo de caso do “Projeto RisoTerapia” no município de Caicó – RN, foi possível identificar as contribuições do lazer para minimizar os efeitos causados durante o processo de hospitalização, considerando as implicações físicas, psicológicas, sociais e emocionais de cada enfermo. Alegam que, após a visita dos voluntários, os pacientes melhoraram o humor, ficaram mais alegres, a rotina hospitalar foi suavizada, aumentaram a autoestima, aliviaram a dor, minimizaram a sensação de abandono e alargaram a perspectiva de melhora.
Compreendemos que o “Projeto RisoTerapia” trata de expressivo trabalho de clown, profissionais ou voluntários que, por meio de jogos dramáticos, músicas e técnicas teatrais, promoverem momentos lúdicos em busca de causar o riso e a alegria dos pacientes para amenizar a rotina hospitalar. Contudo, não há qualquer menção no projeto da utilização do termo lazer.
Pinto e Gomes (2016) discutem a vivência do lazer em hospitais e as contribuições para a atuação do profissional do lazer. Identificaram que diversas manifestações de lazer são vividas pelos internados, até dentro do leito. Mesmo constatando que os hospitais apresentam limitações de ordem econômica, política, estrutural e organizacional, o lazer no hospital assume a função de distração, diversão, descanso, ocupação do tempo, diminuição do tédio e recuperação da tranquilidade. Contudo, a atuação profissional pode transformá-lo numa possibilidade de estímulo à criatividade e à reflexão do internado, colaborando com a ressignificação do tempo/espaço hospitalar e com a concretização de uma visão ampliada de saúde e de lazer, nos momentos de internação.
Todavia, para Pinto (2003), a sociedade de nossa contemporaneidade é permeada por uma lógica utilitarista/produtivista, procurando sempre funcionalidades das ações do tempo e também dos espaços. Assim, o ambiente hospitalar, pelas caraterísticas peculiares que apresenta, ganhou no decorrer da história um caráter de frieza, de “tristeza”, local de doenças e de morte, produzindo barreiras, das mais diversas, para as pessoas se expressarem de forma espontânea, prazerosa e autêntica nas relações que estabelecem com o lazer.
Quando nos remetemos aos espaços comumente utilizados para a vivência do lazer como clubes, praias, parques, praças públicas, entre outros, concilia-se facilmente a aplicabilidade do lazer. Contudo, quando se remete às atividades lúdicas conduzidas em hospitais, parece não caber responsabilidade ao campo do lazer ou da utilização do termo “lazer em hospitais”.
Isayama et al (2011), demonstra que é comum entre pesquisadores a utilização da expressão “recreação hospitalar” para se referir às atividades e vivências do lazer. Por sua vez, Werneck (2000) considera que, indiferentemente do tipo de recreação, essa prática social, por acontecer em diferentes tempos e lugares, com finalidades historicamente enraiadas, não pode ser considerada um elemento do lazer e que se faz necessário romper com essa dicotomia.
Sequencialmente, Silva e Paula (2015) analisaram diferentes profissionais e suas características no trabalho com brinquedotecas com crianças e adolescentes hospitalizados. Constataram que existem profissionais de Educação Física, Psicologia, Terapia Ocupacional e Pedagogia atuando nas brinquedotecas hospitalares. Afirmam que as crianças e os adolescentes hospitalizados continuam o processo de desenvolvimento nas instituições hospitalares, mesmo que de forma limitada e para tanto, não devem ser desprovidas de vivencias lúdicas e recreativas. Evidenciam ainda que os estudos vão para além das brinquedotecas e permeiam o campo da classe hospitalar, recreação hospitalar e recreação terapêutica, buscando superar as divisões dos termos e encaminhamentos políticos e humanos para a melhoria dos trabalhos.
Percebe-se que a brinquedoteca constitui um espaço privilegiado de convivência para a criança e o adolescente que possuem condições de ser encaminhados para interagir e brincar neste espaço, além do empréstimo de brinquedos higienizados para usufruir pelo paciente em seu leito.
Apesar disso, a recreação no âmbito hospitalar para se constituir em uma vivência privilegiada de valores, deve decorrer de práticas lúdicas dirigidas e/ou conduzidas por profissionais de diferentes áreas de formação que, associando teoria com a prática numa relação dialética da prática com a teoria, promovam ações que visem dar ânimo criativo ao paciente hospitalizado, contribuindo para a busca do seu bem-estar emocional, físico e social.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

As intervenções lúdicas, quando desenvolvidas de forma multidisciplinar com encaminhamentos adequados, minunciosamente planejadas para as diferentes faixas etárias, patologias e espaços, poderão contribuir em fase de tratamento para melhorar a qualidade de vida dos enfermos hospitalizados e de seus acompanhantes, promovendo um clima mais humanizado ao corpo clínico.
Todavia, as iniciais práticas lúdicas dirigidas com as mais diversas finalidades no ambiente hospitalar sempre foram nomeadas de “recreação hospitalar” ou “recreação terapêutica” e, inversamente parece que, em uma determinada corrente de pesquisadores, preferem na atualidade atribuir o termo “lazer em hospitais”.
Portanto, consideramos que existe uma luta de identidade, um campo em disputa entre os que desenvolvem a recreação e os que requerem o lazer para dentro do âmbito hospitalar. Delineando o afastamento da recreação como categoria e uma prática na prioridade dos estudos que versam sobre o lazer, ao menos, em um determinado grupo de pesquisadores.
Por ocasião, não pretendemos encerrar as discussões, mas incitar maior aprofundamento, buscando compreender que, dentro do campo hospitalar, os reais sentidos e atribuições que caberiam ao lazer e do mesmo modo à recreação.


REFERÊNCIAS

DANTAS, F. R. A., FERREIRA, L. D. de O., SILVA, K. Á. W. da, ALVES, J. A. A contribuição do lazer no processo de hospitalização: um estudo de caso sobre os benefícios do projeto risoterapia. Licere, Belo Horizonte, v.17, n.2, jun/2014.

ISAYAMA, H. F.; SIQUEIRA, F. T. R., ARAÚJO, N. de S. A., PINTO, G. B., SOUZA, T. R. de, NUNES, L. M. O lazer na humanização hospitalar: diálogos possíveis. Licere, Belo Horizonte, v.14, n.2, jun/2011.

PINTO, G. B., GOMES, C. L. A vivência do lazer em hospitais: contribuições para a atuação do profissional do lazer. Licere, Belo Horizonte, v.19, n.1, mar/2016.

PINTO, G. P. Ludicidade e Educação Física: limites e possibilidades da atuação em hospitais. Coletânea do IV Seminário “O lazer em debate”. Belo Horizonte: UFMG/ DEF / CELAR, 2003.

SILVA, L. T. da, PAULA, E. M. A.T.de. Atuação de diferentes profissionais em brinquedotecas hospitalares: características e funções. Licere, Belo Horizonte, v.18, n.2, jun/2015.

WERNECK, C. Lazer, trabalho e educação: relações históricas, questões contemporâneas. Belo Horizonte: Editora UFMG; CELAR-DEF, 2000.

Texto completo: PDF