Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, VIII Seminário de Estudos do Lazer

Tamanho da fonte: 
O DISTANCIAMENTO DAS PUBLICAÇÕES ACADÊMICAS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM RECREAÇÃO
Hani Zehdi Amine Awad

Última alteração: 2019-09-21

Resumo


Prof. Me. Hani Zehdi Amine Awad; Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz (FAG)

E-mail: hani@hani.com.br


INTRODUÇÃO

As revistas de cunho científico, impressas ou on-line, representam uma das mais respeitáveis ferramentas de difusão de conhecimentos acadêmico-científicos e importante ferramenta de formação profissional.
No campo do lazer, constantes publicações têm sido disseminadas nos últimos anos no Brasil. Todavia, se o lazer vem ocupando um espaço relevante nas produções acadêmicas, por outro lado, observa-se escassez de publicações voltadas para o campo da recreação.
Assim, esta pesquisa objetivou identificar nas produções acadêmico-científicas, difundidas na LICERE - Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer/UFMG, quais as produções que têm sido difundidas frente o campo de “formação e/ou atuação profissional” em lazer e recreação no período de 2008 a 2017.

METODOLOGIA

A metodologia utiliza de análise de revisão sistemática na base de dados da Revista LICERE entre os anos 2008 a 2017 e, para a investigação, foram utilizados os termos: “formação profissional”, “atuação profissional”, “capacitação profissional” em “lazer” e “recreação”. Inicialmente, foi baseada a partir do título e, posteriormente, da identificação das respostas, ademais da análise dos resumos e das palavras-chave. A partir de cada resumo foi possível identificar quais publicações foram produzidas e os contextos abordados frente à formação e/ou atuação profissional no campo do lazer e da recreação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das produções disponibilizadas, foram identificadas 15 publicações que versam sobre o tema formação e/ou atuação profissional vinculadas à área do lazer.





Quadro I: Formação e/ou atuação profissional: publicações de 2008 a 2017 na Revista LICERE.

ANO TÍTULO AUTOR(ES)
2017 Análise da formação acadêmica e intervenção profissional dos agentes sociais no campo do lazer em Programas do Governo Federal na Cidade de Bauru – SP SILVA, M. G. A. da
2017 Perspectivas do lazer na formação e atuação em Educação Física: a Universidade Federal da Bahia PEREIRA, B. P. F.
2016 Construção de saberes sobre o lazer nas trajetórias de formadores/as do programa esporte e lazer da cidade (PELC) CAPI, A. H. C.
2015 A formação profissional em lazer na cidade de Belém e o olhar discente MONTENEGRO, G. M.
2014 A atuação profissional em políticas públicas de esporte e lazer: saberes e competências UNGHERI, B. O.
2014 Slackline e Educação Física: experiências do projeto de extensão “lazer e recreação” SANTOS, P. M. dos; MARINHO, A.
2013 Lazer e formação profissional: um estudo sobre licenciatura e bacharelado em educação física GOMES, R. de O.; ISAYAMA, H. F.
2013 Formação e atuação profissional em atividade de aventura no âmbito do lazer AURICCHIO, J. R.
2012 Formação profissional em lazer: produção acadêmica no período de 2005 a 2009 FERREIRA, R. de A.;
SILVA, C. L. da
2012 Formação profissional em lazer, nos de Educação Física, no Estado de São Paulo FILIPPIS, A. de
2010 Trajetórias e construção do saber docente de professores universitários do campo do lazer SILVA A. G. da

2010 A produção do conhecimento na área do lazer: uma análise sobre as temáticas formação e atuação profissional nos anais do ENAREL de 1997 a 2006 STOPPA; ISAYAMA; UVINHA; MARCELLINO Et al.
2009 Política de formação profissional para atuação em lazer no município de Piracicaba/SP BRITO, G. A. P. de; MARCELLINO, N. C.;
2008 Formação e qualificação para atuação profissional em lazer: o caso da política pública de Piracicaba-SP BRITO, G. A. P. de
2008 Lazer numa perspectiva internacional: relações temáticas com o turismo, os esportes e a educação na china atual UVINHA, R. R.
Conforme o Quadro I, as produções ao longo do recorte pesquisado (exceto a ausência de publicação no ano de 2011), versam significativamente sobre temas que tratam: 1) a formação profissional para o campo/área do lazer e as possíveis intervenções do profissional de Educação Física nas políticas públicas voltadas para o lazer/esportes; 2) para a formação e a produção de conhecimento científico e acadêmico; 3) para as atividades de aventura no lazer.
Constatou-se que os pesquisadores com maior volume de publicações frente ao tema formação e/ou atuação profissional no lazer, com duas publicações cada um, foram: BRITO (2008 e 2009); UVINHA (2008 e 2010); MARCELLINO (2009 e 2010); ISAYAMA (2010 e 2013); CAPI (2010 e 2016).
Gomes e Melo (2003) sinalizam que esta visibilidade do lazer é reflexo do mundo acadêmico, especialmente, da organização de grupos de pesquisa de diversas áreas de conhecimento, a promoção de eventos científicos ligados à temática e o crescente aumento do número de publicações específicas.
Em relação ao campo da recreação, enquanto espaço de intervenção profissional, foi encontrado apenas um artigo voltado para o Slackline, que somente relaciona esta prática com a disciplina acadêmica denominada lazer e recreação, não inferindo qualquer discussão frente ao campo da recreação.
Os resultados analisados nos últimos 10 anos, demonstram uma lacuna do conhecimento na Revista LICERE, que é a falta de produção teórica que verse sobre a formação profissional para o campo da recreação.
Tschoke (2016) aponta para a diminuição do status da recreação com objeto acadêmico da Educação Física, uma vez, que existe pouca produção científica a respeito, dando espaço para o avanço das discussões consideras significativa frente o campo do lazer.
Contudo, não se pode desconsiderar a presença da recreação no campo educacional e profissional. Exemplo disso, no ano de 2017 no Brasil, o Jornal Folha de São Paulo publicou o RUF – Ranking Universitário Folha, apresentando a existência de 555 instituições de ensino superior que oferecem a graduação em licenciatura e/ou bacharelado em Educação Física e, dentre as disciplinas oferecidas na grade curricular, é comum encontrar disciplinas voltadas para a recreação, sendo abordada isoladamente ou combinada com a área do lazer.
Os conteúdos que tratam do campo da recreação, quando bem fundamentados e metodologicamente aplicados, considerando os diferentes intervenientes sociais e culturais poderão amparar a formação do futuro agente no campo profissional, bem como promover estudos e pesquisas sistematizadas que contribuam para evidenciar as ações desenvolvidas por aqueles que estão atuando no campo, como a recreação no ambiente hospitalar, nos cruzeiros marítimos, nas vivências ecoturísticas, na educação e nas recreações personalizadas e temáticas com os mais diferentes públicos.
Marinho (2004) explica que em relação ao recreador, responsável em gerenciar as práticas, não trata de um cumpridor de tarefas, mas, opostamente a isso, é um detentor de potencialidades criativas e críticas e, sendo embasado teoricamente, é capaz de refletir sobre a prática e a teoria, sem perder de vista os objetivos, a relevância e a repercussão das atividades propostas.
Todavia, Pimentel, Santos e Boaretto (2010) explicam que devido a uma ruptura epistemológica no alicerce histórico dos estudos do lazer no Brasil, a recreação teve esvaziamento da base teórica (essencialmente pedagógica) e foi isolada como técnica e, a partir daí, classificada como alienante, limitada e de menor valor, situação a qual merece ser repensada nos dias atuais.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, pode-se considerar um crescimento contínuo, nos últimos 10 anos, do volume de pesquisas e publicações voltadas para a formação e/ou atuação profissional com diferentes abordagens, tais como a educativa, a esportiva, a social e as políticas públicas, constituindo saberes relacionados ao campo do lazer, bem como o aparecimento de novos pesquisadores interessados no assunto.
Apesar de a análise ser um recorte de um tema no interior de uma revista, os resultados levam o investigador a concluir a ausência de estudos voltados para a formação profissional de recreadores, demonstrando distanciamento de parte dos pesquisadores do lazer frente ao campo da recreação.
Espera-se que, os apontamentos aqui realizados, possam estimular novas pesquisas ampliando as discussões teórico-práticas sobre a formação profissional no campo da recreação, colocando-a novamente no centro dos debates.

REFERÊNCIAS

GOMES, C. L.; MELO, V. A. de. Lazer no Brasil: trajetória de estudos, possibilidades de pesquisa. Movimento, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 23-44, janeiro/abril de 2003.

LICERE - Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer. Disponível em: Acesso em: 30 jun. 2018.

MARINHO, A. Atividades recreativas e ecoturismo: a natureza como parceira do brincar. In: SCHWARTZ, G. M. (Org.). Educação física no ensino superior - atividades recreativas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2004.

PIMENTEL, G. G. de A.; SANTOS, S.; BOARETTO, J. D. Educação para e pelo lazer: um diálogo étnico e cultural. In: SAMPAIO, T. M. V. (Org.). Abordagens socioculturais em educação física. Maringá: Eduem, 2010. p. 81-112.

RUF 2017 – Ranking Universitário Folha. Jornal Folha de São Paulo. Disponível em: Acesso em: 01 jul. 2018.

TSCHOKE, A. Da recreação e lazer para o lazer e sociedade: as maneiras de fazer acadêmico no campo do lazer ligadas à área da Educação Física. Curitiba, 2016. Tese (Doutorado em Educação Física) - Setor de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal do Paraná.

Texto completo: PDF