Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, VIII Seminário de Estudos do Lazer

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ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA PRÁTICA COM A RECREAÇÃO EM FESTA INFANTIL
Pâmela Norraila Silva, Bruna Solera, Vânia de Fátima Matias de Souza

Última alteração: 2019-09-21

Resumo


INTRODUÇÃO

A intervenção no campo da Educação Física tem se constituído, ao longo das últimas décadas, em um cenário com amplas possibilidades de atuação, adequadas as novas necessidades postas pela estrutura social e mercadológica que sustentam a sociedade na atualidade, resultando na expansão de atividades em espaços não formais de ensino, mas que requerem conhecimentos e tratos específicos da área para uma intervenção qualificada e adequada as demandas.
A recreação infantil tem se configurado enquanto uma dessas vertentes de atuação profissional, afinal a recreação se constitui por uma área de atuação com inúmeras possibilidades e que está presente em nosso cotidiano desde sempre, com fins de comemoração ou diversão (CÉLIO, 2014), isto porque seu significado pode ser “recrear, reproduzir, renovar, fazer novamente” (AWAD, 2012, p. 26), ou ainda o significado de fato, ou o momento, ou a circunstância que o indivíduo escolhe espontaneamente, por meio do qual satisfaz seus anseios voltados para o lazer (CAVALLARI; ZACHARIAS, 2011 apud CÉLIO, 2014).
Nesse processo de expansão, a recreação vem se consolidando enquanto um espaço de atuação do profissional de Educação Física, principalmente em hotéis, resorts, parques aquáticos, navios, clubes e associações, excursões, reuniões de empresas, e em festas infantis. Oliveira e Abreu (2015) apontam que as festas infantis viraram um mercado de serviços especializados com salão, decoração, personagens vivos, brinquedos, fotos, filmagens e a mais destacada, a recreação. De acordo com Verdiani (2015), este mercado de festas infantis vem se ampliando a cada ano e, tendo como suposição e justificativa a comodidade, segurança oferecidos para os pais por meio desse serviço.
Daí a necessidade do profissional de Educação Física ser adequadamente capacitado, com uma formação que lhe assegure uma ação interventiva que leve a ação recreativa resultar no desenvolvimento significativo social e emocional dos envolvidos no contexto. De acordo com Célio (2014), às atividades de recreação, em todas as suas possibilidades, exigem adaptações de acordo com local, participantes, situação climática, faixa etária, fazendo, então com que o recreador tenha um leque de atividades.
. A partir do exposto, surge a seguinte inquietação: Quais os motivos que levam o profissional a adentrar e permanecer atuante na área de recreação em festa infantil? Para responder a esta questão, o estudo teve como objetivo verificar os motivos para atuação profissional na área de recreação em festa infantil.

MÉTODOS

TIPO DE PESQUISA
O estudo se caracteriza como pesquisa descritiva com forma de levantamento, pois as pesquisas com estas particularidades têm como objetivo descrever as características de determinada população ou fenômeno (GIL, 2002). Ainda, este tipo de pesquisa apresenta característica de interrogação direta das pessoas (GIL, 2002).

AMOSTRA
Participaram do estudo 14 recreadores atuantes em empresas de recreação em festa infantil da cidade de Maringá-PR.

INSTRUMENTO DE PESQUISA
Como instrumento de pesquisa, foi utilizado um questionário composto por questões abertas e fechadas, ambas relacionadas à atuação na área e permanência nesta. As questões foram elaboradas pelos pesquisadores, com o intuito somente para o estudo e atingir o objetivo da pesquisa.

COLETA DE DADOS
Para coleta dados, contou com um questionário online, criado a partir do Google docs. Assim, tal instrumento foi enviado via e-mail a 40 recreadores. Destes, foram retornados apenas 14 questionários respondidos corretamente.

ANÁLISE DOS DADOS
Para análise dos dados, as respostas foram analisadas e a se deu por meio da categorização temática para unir respostas semelhantes. Para a análise descritiva, foi utilizado pacote estatístico SPSS 20.0 para obtenção de dados de frequência relativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram da pesquisa 14 profissionais com média de idade de 25,3 assemelhando-se aos resultados encontrados por Pinheiro (2005), no qual a média de idade foi de 25 anos, e o autor justifica que a grande concentração de profissionais jovens neste campo de trabalho, se dá em função a curta permanência de profissionais nesse mercado. Com relação a formação, destacou-se o fato de que todos os participantes são graduados em Educação Física, sendo 11 formados no campo do Bacharel e 3 em Licenciatura. No estudo realizado por Pinheiro (2005) evidenciou-se que o campo de atuação da recreação infantil tem sua maioria de profissionais envolvidos formados no campo da educação física (66,6%).
Com relação ao tempo de atuação com a recreação infantil os dados indicaram uma variabilidade de 2 a 6 anos, tendo uma média de 3,5 anos aproximando-se dos estudos de Pinheiro (2005), onde 28% estava na área entre 1 e 3 anos, e outros 24% está na área de recreação há 3,5 a 5 anos.
Ressalta-se que que 64,3% apontaram o inicio da atuação neste campo de intervenção durante a faculdade, por meio de estágio na área ou ainda por cursos, como aponta o sujeito 7 “(...) após o curso começou a aparecer oportunidades de trabalho”, outros 42,9% alegraram que foram convidados a conhecer o trabalho de recreação em hotéis e eventos, em que foi o momento “(...) onde me descobri. ” (Sujeito 1), 7,1% apontaram que foi por uma necessidade de trabalho. De acordo com Célio (2014) é na graduação e principalmente por meio dos estágios, que o estudante-estagiário se prepara para a intervenção no mercado de trabalho.
Sobre os motivos que os levaram a escolher a área de recreação como intervenção para trabalho, observou-se que os sujeitos estão nesse campo de intervenção por identificação e/ ou afinidade com a área (27,8%), e prazer para atuar (11,1%), além de habilidade em trabalhar em grupo (11,1%), ou ainda por considerar ser uma área ‘fácil’ de trabalhar (5,6%) ou uma forma de trabalho extra (5,6%). Outras respostas evidenciaram a criança como ponto central, ou seja, por gostar de crianças (11,1%), e proporcionar alegria brincando (16,7%), fato evidenciado na fala do sujeito 1 “Porque gosto de crianças, assim poder trazer a felicidade para várias pessoinhas como eles é satisfatório”. Também foram identificadas respostas voltadas ao trabalho com várias idades (5,6%), e acaba por assim, se divertindo junto (5,6%). Em estudo realizado por Costa, Tahara e Carnicelli Filho (2011) com recreacionistas de hotéis, foi investigado os fatores de influência por estes profissionais para atuar na área hotelaria, e as respostas que se sobressaíram foram prazer e satisfação pessoal, além de levar alegria as pessoas, e ser uma fonte de renda extra. Mesmo sendo distintas as áreas do estudo, os motivos para atuação se assemelham.
Rodrigues e Martins (2002) apud Costa, Tahara e Carnicelli Filho (2011) apontam que para trabalhar com recreação é preciso sentir prazer e satisfação, além de gostar da área para se ter um desempenho satisfatório com os seus clientes. Nesse sentido, partindo do gosto pela área, o questionamento foi sobre o que chama atenção na área, e foram diversos os motivos, dentre eles, a diversão (7,1%), felicidade no brincar pela criança (28,6%), a forma como as atividades são ministradas (7,1%), os locais de trabalho (7,1%), diversidade pedagógica no brincar (7,1%), reconhecimento e retorno de quem é beneficiado com ela (7,1%), o aumento da procura pelo serviço (7,1%), aplicar os conhecimento adquiridos na graduação “brincando” (7,1%), o poder do professor (7,1%), além do retorno financeiro como trabalho extra (14,3%), como alega o sujeito 10 “a possibilidade de ‘brincar ganhando dinheiro’”. Pinheiro (2005) também investigou os pontos positivos de se trabalhar na área da recreação e encontrou que a satisfação, diversão, prazer, exercer a criatividade e conhecer vários locais diferentes, além de conhecer novas pessoas são os principais.
Os recreadores do estudo elencaram as principais dificuldades da área, que na maioria é o espaço, falta de oportunidades e desvalorização do recreador, como alega o sujeito 14 “(...) não possui uma garantia e registro de trabalho”, a falta de materiais, crianças indispostas e sedentárias, diferenças dentro do grupo. Dois pontos citados com ênfase pelos participantes sobre as dificuldades na área de recreação, foi em primeiro lugar trabalhar aos fins de semana e feriados, seguido de apresentar a recreação como um campo extenso de trabalho e assim ter uma grande demanda de profissionais, e ver pessoas que atuam de ‘qualquer jeito’, pois de acordo com o sujeito 14 “(...) não há formações específicas para a área, o que leva a não ter exigências de formação para trabalhar”. De acordo com Pinheiro (2005) os aspectos negativos do trabalho com recreação, são elencados a baixa remuneração, trabalho concentrado nas férias e finais de semana, excesso de mão-de-obra desqualificada no mercado (PINHEIRO, 2005).

CONCLUSÃO
Buscando verificar os motivos para atuação profissional na área de recreação em festa infantil, a pesquisa realizada destacou as aproximações com o campo, o processo de identização profissional e afinidade com os espaços de interlocução. Evidenciou-se também a, necessidade de um constante processo de formação continuada para adequação da ação interventiva.
Ainda aponta-se uma fragilidade no estudo, devido a escassez de estudos que tratem das questões envolvendo os motivos de atuação do profissional de Educação Física no campo da recreação infantil. Reflete-se ainda sobre a eventual contribuição desse trabalho para o incentivo de outras pesquisas relacionadas a temática, a fim de ampliar os motivos que levam os profissionais a se manterem na área.

REFERÊNCIAS

CÉLIO, I.M.B. A recreação por diferentes visões: um estudo com pessoas atuantes na recreação na cidade de Campina Grande- PB. 2014. 23p. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Educação Física)- Universidade Estadual da Paraíba, Paraíba, 2014.

COSTA, C.S; TAHARA, A.K.; CARNICELLI FILHO, S. Recreação em hotéis: a concepção de hóspedes e monitores recreacionistas. Licere, Belo Horizonte, v.14, n.3, p. 1-21, 2011

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

OILVEIRA, M.M.; ABREU, N.R. Parabéns pra você!!! O consumo de mães em festas infantis. Pensamento e Realidade, São Paulo v.30, n.2, p. 34-52, 2015.

PINHEIRO, R.R. Um estudo sobre o perfil dos profissionais de lazer e recreação de Florianópolis. Licere, Belo Horizonte, v.8, n.2, p.132-144, 2005.

VERDIANI, C. E. S. Recreação em festas infantis e temáticas. In: PIMENTEL, G.; AWAD, H. (org). Recreação total. Fontoura: Várzea Paulista, 2015.

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