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FUNK NA ESCOLA: CORPO, CULTURA E MOVIMENTO JUVENIL EM PAUTA
Monique Bianchetti, Silvane Fensterseifer Isse

Última alteração: 2018-10-30

Resumo


PALAVRAS-CHAVE: Estágio Supervisionado; Ensino Médio; Funk.

INTRODUÇÃO
Este texto apresenta uma experiência do Estágio Supervisionado III – Ensino Médio, componente curricular do curso de Educação Física, Licenciatura, da Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, o qual foi realizado em uma escola pública estadual, com turmas de 1º e 3º anos. Um dos conteúdos de ensino abordados durante esse estágio foi a dança, sendo o funk um dos temas escolhidos pelos próprios alunos, o que gerou um grande debate na escola. O estudo, pois, teve como objetivo analisar possibilidades de abordagem da música e da dança funk na escola.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Metodologicamente, a proposta de estudar o funk surgiu do planejamento compartilhado com os estudantes. No entanto, houve uma forte resistência da direção escolar, que não autorizou que o mesmo fosse trabalhado, pois compreendia que o funk não faz parte da cultura dos estudantes e que “não é música, é apenas um barulho e movimento tribal. Tanto as letras quanto as coreografias contêm mensagens de apelo sexual e fomentam os instintos básicos e a massificação da juventude” (ENTREVISTA DIRETOR, 06/06/2016). Buscou-se, então, juntamente com a professora de Educação Física titular, que achava importante trabalhar o ritmo musical na escola, criar estratégias didáticas de abordagem do funk, sem que o trabalho infringisse as normas da escola.
Iniciamos o trabalho conhecendo aspectos históricos. Nas duas primeiras aulas, observamos imagens disponíveis na internet, assistimos a vídeos e ouvimos músicas de cantores que tiveram visibilidade em diferentes momentos históricos. O intuito era observar as mudanças que ocorreram nas roupas, nos acessórios, nas gestualidades, na forma de colocar-se diante das câmeras e, principalmente, nas letras das músicas. Realizamos rodas de conversa cujo objetivo era problematizar a trajetória histórica do funk no Brasil. Além das rodas de conversa, a turma criou paródias de músicas à sua escolha, o que exigiu que analisassem as letras e as mensagens das mesmas. Confeccionaram, então, cartazes com a letra original e a paródia, ilustrando as mesmas.

A CULTURA DO FUNK PELO OLHAR DOS ESTUDANTES
A experiência de tematizar o funk nas aulas do estágio deixou evidente o quanto ele provoca ideias e sensações contraditórias. Por um lado, os estudantes expressaram sua adoração pelo ritmo, especialmente no que diz respeito à levada do funk e ao modo como os contagia a dançar, que é o que conquista a juventude dessa escola.
O funk faz parte da cultura destes estudantes. Segundo Daolio (2004, p. 2), cultura “é o principal conceito para a Educação Física, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução até hoje”. Em relação à cultura corporal juvenil, Dayrell (2005, p. 399) enfatiza “a importância das dimensões simbólicas e expressivas de grupos culturais jovens”, que são os autores principais de suas produções, seja de músicas, danças, coreografias ou ilustrações. Desta forma, o funk acaba sendo uma forte manifestação cultural vista nesta escola perante os próprios estudantes.
Se, por um lado, há quase uma unanimidade de que a levada, a batida e a célula musical do funk são extremamente pulsantes e chamam para dançar, ao mesmo tempo, as coreografias, as gestualidades e as letras das músicas são consideradas “exageradas” por vários estudantes, em função do apelo erótico dos gestos e da linguagem presente nas letras. Há uma clara preocupação com o modo como as mulheres estariam sendo representadas, pois mover-se de uma forma mais livre e expor algumas partes do corpo é considerado algo bastante questionável. Os estudantes questionaram, a partir da análise dos materiais, o modo como, muitas vezes, a sexualidade feminina é apresentada e a forma como o corpo feminino é exposto, principalmente pelas redes sociais e a mídia, posicionando-o como objeto do desejo masculino. O homem agressivo, por sua vez, é muitas vezes glorificado por algumas mulheres, o que poderia, de algum modo, contribuir para a violência contra as mesmas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência evidenciou que o debate sobre o funk na escola é relevante para os estudantes e que, ao problematizarem letras, imagens e gestualidades, ampliaram sua compreensão sobre aspectos históricos, culturais e sociais que o constituem como manifestação da cultura popular.

REFERÊNCIAS

DAOLIO, Jocimar. Educação Física e o conceito de cultura. Campinas: Autores Associados, 2004.

DAYRELL, Juarez. T. Juventude, grupos culturais e sociabilidade. Jóvenes – Revista
de Estudios sobre Juventud. México, ano 9, n.22, p.296-313, jan/jun 2005.

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