Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, VIII CONGRESSO NORTE BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE (CONCENO)

Tamanho da fonte: 
FUTEBOL E PANDEMIA: O HOSPITAL DE CAMPANHA DO MARACANÃ EM FOCO
Bruno Patrício Santos, Ana Beatriz Tavares, Leandro Gouveia Almeida

Última alteração: 2022-10-23

Resumo


O mundo do futebol sofreu impactos inimagináveis mediante a crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19. Paralização dos campeonatos, mobilização de torcidas organizadas em prol de ajuda humanitária e a reconfiguração dos programas esportivos são apenas algumas nuances que pudemos testemunhar. Neste panorama, uma das mudanças que mais ganharam evidência foi a transformação dos estádios em hospitais de campanha. Segundo a OMS, um hospital de campanha consiste em “uma unidade de saúde móvel, autônoma e autossuficiente, capaz de rápido desenvolvimento e expansão ou rápida contração para atender emergências imediatas por determinado período de tempo”. Os estudos que versam sobre a utilização de locus esportivo no combate à pandemia ainda são muito incipientes; contudo, é evidente que esta foi uma medida seguida nos cinco continentes. No Brasil, unidades federativas como Pará, São Paulo, Rio de Janeiro e Roraima também utilizaram seus estádios como ferramenta de combate ao coronavírus. Nesta pesquisa, tomamos o Hospital de Campanha do Maracanã (HCM) como objeto de estudos. Se, por um lado, a utilização dos estádios com a finalidade para oferecer leitos e serviços hospitalares às vítimas da pandemia é algo louvável, com todo respaldo da OMS, por outro, não é difícil detectar inúmeras contradições que vão na contramão da efetivação de política pública de saúde consistente que atenda as necessidades da população, principalmente no caso do Maracanã. Sendo assim, nosso trabalho busca evidenciar as contradições que permeiam a fase de implantação, os serviços prestados à população e o seu fechamento, de modo a firmar um registro histórico do Estádio do Maracanã no período da Pandemia da Covid-19.
Nesta fase da pesquisa, o objetivo central incide em analisar o processo de implantação do HCM, destacando sua natureza administrativa, as metas projetadas e seus desdobramentos no combate à pandemia da Covid-19.
Neste primeiro momento, utilizamos a revisão bibliográfica e análise documental (relatórios, boletins diários, pareceres e afins) como ferramentas metodológicas. O HCM funcionou através de Parceria Público-Privado, na qual a Organização Social (OS) Instituto de Atenção Básica à Saúde (IABAS) ficou responsável pela sua implantação, com previsão de 400 leitos, estimando um valor global (6 meses) de R$ 238.792.117,08, conforme o parecer 83/2020 da Secretaria de Estado de Saúde do Estado do Rio de Janeiro de 25/05/2020. O hospital foi inaugurado em 09/05/2020, com 170 leitos, e começou a ser desmontado no dia 16/10/2020. A natureza administrativa do HCM aponta um aspecto privatizante no combate à pandemia. Além do mais, a unidade nunca funcionou em seu potencial máximo, comparado ao Plano de Trabalho apresentado pelo IABAS. Ao contrário disso, pudemos identificar inúmeros problemas em seu funcionamento, tais como falta de respiradores, estruturas precárias, possíveis fraudes de contratos, condições precárias de trabalho, paralisação dos funcionários, etc. O que era para ser um símbolo de combate ao coronavírus, o HCM serviu para ampliar a sensação de medo e insegurança frente à calamidade de saúde pública e também como palco de escândalos e descaso com a coisa pública.

Texto completo: PDF