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Construções e (Re)construções das Identidades Negras a Partir dos Corpos: Experiências de Estudantes do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – CFP/UFRB
Rosangela Souza da Silva

Última alteração: 2018-08-22

Resumo


Rosangela Souza da Silva
Maria Cecilia de Paula Silva


No campo dos estudos étnicoraciais e em seu entrelaçamento com o campo da educação podemos afirmar que, no Brasil, muitos são os estudos que se ocuparam dos modos como a população negra tem sido tratada nos diversos contextos sociais. Em específico na escola, nos materiais didáticos, na mídia e nos últimos tempos nas redes sociais e outros espaços da internet. Estes estudos tiveram papel fundamental para o processo de desmitificação do chamado mito da democracia racial, da escola universal e “para todos”, consequentemente, denunciaram formas de preconceito, de racismos praticados e vivenciados pelos/as negros/as nos espaços escolares. Quando nos debruçamos sobre a pesquisa na área de educação, observamos que a dimensão do corpo e da corporeidade, aquela que torna possível a materialidade das diferentes e diversas formas de atuação, que possibilita a produção das subjetividades, sem a qual o projeto moderno - racista, excludente, perverso - provavelmente, não teria se consolidado com tamanha força e poder, é ainda pouco explorada quando se discute o entrelaçamento entre as questões étnicoraciais e a educação. Assim, a nossa pesquisa em andamento na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, com discentes negros/as do Centro de Formação de Professores – CFP, em Amargosa/BA, visa compreender como os/as estudantes constroem suas identidades e traduzem, através de seus corpos, discursos e práticas culturais, políticas, mobilizações, ressignificações e constituições de suas identidades negras. Consideramos que, de forma mais premente, no atual contexto, aos espaços educacionais (com destaque para o ensino superior) foram alocados homens e mulheres (jovens e adultos) que, ao longo da história, tiveram seus corpos invisibilizados, suas vozes silenciadas e seus pertencimentos étnico-raciais e sociais aviltados. As demandas, desse modo, por reflexões sobre os modos de constituição de identidades de estudantes do ensino superior são inúmeras, por conta da nova configuração de ensino superior no Brasil, que, atualmente, abriga diferentes presenças. Com o desenvolvimento desta pesquisa, portanto, problematizaremos questões que abarcam corpos e identidades negras, para compreender os processos que envolvem a presença de estudantes negros (as) da UFRB. Deliberadamente, circulam abordagens sobre modos de compreensão do corpo, com relevantes marcas socioculturais; reflexões sobre a existência no mundo, concretizada a partir do corpo; discutem como as formas de educar tentam “encarcerar” o corpo; demonstrações de como a gestão social do corpo se diferencia de uma sociedade para outra; problematização de como os símbolos e signos que adornam o corpo nos (des)credibilizam nos espaços sociais; estudos sobre como os impérios coloniais impingiram aos colonizados formas dicotômicas de lidar com seus corpos; enfim, tais estudos e pesquisa apresentam dramas e tramas que se aludem ao corpo, histórica e socialmente construído. Sendo assim, cientes da complexidade inerente às discussões relativas ao corpo é que nos detivemos a compreendê-lo a partir dos seguintes estudiosos e teóricos Certeau (2002); Merleau-Ponty (2006); Le Breton (2007); Silva (2009); entre outros/as, procurando entendê-los a partir dos imbricamentos socioculturais, históricos e étnico-raciais. Do ponto de vista metodológico, optamos por uma abordagem de pesquisa de cunho qualitativo, ressaltando que, os/as pesquisadores/as que trabalham com a pesquisa qualitativa, ao se apropriarem das informações in loco, vivenciam cotidianamente a dinâmica sociocultural dos espaços e as práticas dos sujeitos que lá circulam. Também nos apropriamos, do campo etnográfico, que possibilita-nos detectar os vários sentidos e significados que os sujeitos atribuem aos espaços, revelando o lugar destinado/ocupado pelos sujeitos que os transitam, as vozes silenciadas dos/as atores/atrizes, bem como os hábitos, valores e crenças ali incrustados que produzem alianças, conflitos e negociações cotidianamente. Logo, consideramos que as reflexões aqui apresentadas, em consonância com as bases epistemológicas mencionadas, das quais se constituem e para as quais se remetem as proposições desta pesquisa em andamento, apoiam-se em categorias conceituais como corpo, identidades negras, as quais requerem a compreensão de um emaranhado de políticas e práticas sociais de homens e mulheres negras posicionados que, aos reveses dos essencialismos, se querem cosmopolitas, mas relacionados ao seu corpo e suas identidades negras, interpeladas pelas suas próprias traduções. (BHABHA, 2003)

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