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Canaã e Triste fim de Policarpo Quaresma um momento de representação social do corpo negro na literatura brasileira do pós-abolição
Cleidinalva Silva Cerqueira

Última alteração: 2018-08-23

Resumo


Cleidinalva Silva Cerqueira
Palavras chaves: literatura; corpo negro e representação social.
No final do século XIX e início do século XX, o Brasil passava por mudanças sócio-políticas bastantes significativas, entre as quais se encontram a Proclamação da República, a adaptação da população negra à sociedade pós-abolição, a chegada de imigrantes europeus ao país e as teorias cientificistas do final do século XIX e início do século XX. Foi nesse clima de mudanças no cenário nacional que os romances em estudo foram produzidos. Este trabalho é o resultado de um curso de mestrado que analisou a representação social do corpo negro em duas obras literárias, Canaã e Triste fim de Policarpo Quaresma, ambas do início do século XX. A motivação para iniciar a pesquisa se deu no exercício da minha profissão como professora de Literatura do Ensino Médio. As obras aqui selecionadas registram momentos de mudanças significativas para sociedade brasileira, as quais impactam diretamente na construção da identidade de corpos negros dos personagens nas respectivas narrativas. A análise estruturou-se na perspectiva de que o homem é uma síntese das relações tecidas na sociedade. A escolha dos textos se deu pelo fato de ambas as publicações estarem inseridas em um contexto histórico em que as discussões sobre raça e racismo estavam em pleno vigor. (Canaã foi publicado em 1902 e Triste fim de Policarpo Quaresma em 1911). As obras tematizam a questão racial, no entanto, nos dois textos, este não é o eixo principal da narrativa. O enredo de Canaã está centrado na questão da imigração estrangeira e Triste fim de Policarpo Quaresma trabalha com o ultrapatriotismo a partir do qual discute questões políticas, sociais e culturais. A corporeidade negra enquanto fenômeno social e cultural não é considerada como elemento relevante pelos dois escritores (BRETON,2007). A questão étnica nas duas obras são temas secundários. A maioria dos negros – que foi o foco principal deste estudo – por não ocuparem lugar de destaque nas narrativas, aparecem nas cenas de maneira rápida. Os escritores Graça Aranha e Lima Barreto, apesar de serem contemporâneos de autores como: José Veríssimo, Olavo Bilac, Adolfo Caminha, Cruz e Souza, entre outros, se destacam pelo fato de transformarem os acontecimentos de seu tempo em enredos para seus romances, contos e crônicas. Alguns críticos, a exemplo de Alfredo Bosi, (1994) considera-os como pré-modernistas, por estes não se enquadrarem nos padrões literários dominantes na época e por terem antecipado alguns aspectos que seriam os pilares da Semana de Arte Moderna. Guardadas as devidas proporções, os dois romances podem ser vistos como típicos romances de desilusão republicana (PAES, 1992) ainda que o itinerário traçado pela vida de Graça Aranha e Lima Barreto sejam completamente opostos. Enquanto o primeiro tem todos os privilégios de quem nasce em família abastada, o segundo, muito cedo torna-se órfão e precisa assumir o posto de chefe de família. Optamos por recorrer à representação social como um instrumento de análise do corpo negro no universo político e social brasileiro representado nas duas obras, do início do século XX, por entendermos que os corpos se inter-relacionam para difundir normas e padrões interculturais, numa tentativa de compreender como os valores e pensamentos da sociedade, são transmitidos, estruturados, ou reafirmados. Para alcançarmos tal intento, usamos como base teórica pesquisadores como: Le Breton (2007); Silva (2009); Moscovici (2003); Aranha (1998); Paes (1992). Munanga (2004). Para alcançarmos tal premissa, optamos pela abordagem metodológica: pesquisa bibliográfica, posto que, o estudo fez uma análise dos dois romances com o intuito de descortinar circunstâncias antes ocultadas: a variedade da composição étnicorracial , social e cultural dos corpos que figuram nos dois romances.

REFERÊNCIAS
ARANHA, Graça. Canaã. 4 ed. São Paulo. Editora Ática, 1998.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
MOSCOVICI. Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Tradução de Sonia M. S Fuhrmann. Petropólis: Vozes, 2007.

SILVA, Maria Cecília de Paula. Do corpo objeto ao sujeito histórico: perspectivas do corpo na história da Educação Brasileira. Salvador: EDUFBA, 2009.
PAES,
José Paulo. Canaã e o ideário modernista. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.

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