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PREPARAÇÃO PARA O ENSINO MÉDIO VS. CICLO III: UMA RELAÇÃO DESARMONIOSA
Última alteração: 2013-07-01
Resumo
INTRODUÇÃO
O respectivo trabalho consiste no desenvolvimento de uma pesquisa requisito da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Educação Física I da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás, que culminou em um portfólio final unificando todas as temáticas estudadas nessa disciplina.
A investigação proposta pela disciplina parte da observação/análise da organização do trabalho pedagógico da escola campo, pois os referenciais que baseiam esta disciplina consistem em autores como Luiz Carlos de Freitas, Saviani, Coletivo de autores e entre outros, os quais possuem uma concepção crítica sobre educação e escola. Diante disto, para entender a aula de Educação Física e o papel do professor devemos conhecer a organização da escola, pois estes não se desassociam como afirma Freitas (2003, p.58):
A reflexão sobre a didática não pode ser desenvolvida sem que ela seja contextualizada dentro da organização do trabalho pedagógico da escola [...] não é apenas a didática que deve estar sob análise, mas sim a escola, sua organização e seus métodos, já que todos esses níveis são históricos[...]
Sendo assim, a pesquisa foi realizada na Escola Municipal Amâncio Seixo de Brito (EMASB) em Goiânia em que é utilizada a proposta dos ciclos de formação e desenvolvimento humano que foram elaborados pela Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME) em um processo de reconstrução da proposta curricular até então estabelecida, em um contexto de redemocratização política.
Mas a partir de nossas análises encontramos um fator contraditório entre as propostas de educação da SME, o Projeto Político Pedagógico da Escola e a realidade escolar, pois percebemos um movimento de supervalorização da preparação de alunos do Ciclo III para provas seletivas do ensino médio para o Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Goiás (IFG), modificando sua estrutura para atender a essa demanda.
OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo foi analisar a coerência da organização do trabalho pedagógico frente às demandas da realidade no modo produção vigente. De maneira mais específica compreender como se da a relação entre a escola e os vestibulares que dão acesso ao ensino médio.
METODOLOGIA
Em um primeiro momento, focamos na identificação e análise das teorias da didática e da organização do trabalho pedagógico, para que, em um segundo momento, após o contato e exposição desses elementos acontecesse um estudo investigativo no campo de estágio, sendo assim, nesta etapa, nos incumbimos de observar e analisar problemáticas significativas da organização geral da escola e da Educação Física, em especial, como: planejamento(s), gestão, projeto político-pedagógico e currículo, em estabelecimentos de educação básica da rede pública de ensino na escola campo.
Após a observação do cotidiano escolar, mais especificamente a observação de um planejamento pedagógico, nós pudemos perceber um dado que gerou grande parte de nossos estudos e reflexões. A partir desse dado da realidade nós fizemos um estudo mais aprofundado sobre o que está sugerido como conteúdos para o Ciclo III nas Diretrizes Curriculares para a Educação Fundamental da Infância e da Adolescência bem como uma análise do Projeto Político Pedagógico da escola em tela. Em seguida elaboramos um roteiro de entrevista e entrevistamos a coordenadora do Ciclo III, e alguns alunos também do Ciclo III. Realizamos a triangulação dos dados (observação, documentos e entrevista) e então conseguimos compreender o fenômeno que estava se desenvolvendo na escola em tela. Por fim realizamos uma palestra na escola campo para os professores, coordenadoras e diretora a fim mostrar nossos resultados e nossa preocupação, bem como oferecer ajuda para tratar das problemáticas encontradas.
ANÁLISE E DISCUSSÕES
PROPOSTAS DO CICLO III
O Ciclo III é voltado à adolescência, sendo assim, a faixa etária que compõe este, compreende indivíduos de 12 a 14 anos. O projeto de educação, da respectiva escola, propõe rupturas em relação ao modelo tradicional de se conceber a escola, a formação humana e a prática pedagógica. Parte de uma concepção de formação humana na sua globalidade, considerando o educando nas suas várias dimensões: física, psíquica, cognitiva, afetiva, ética, estética, social, emocional, entre outras.
ENSINO MÉDIO
O ensino médio, de acordo com o art. 35 da LDB, consiste na etapa final da educação básica, ou seja, é continuidade do ensino fundamental, no qual o ciclo III faz parte, tendo duração mínima de três anos. O ensino médio tem como objetivo primordial fornecer ao indivíduo conhecimentos fundamentais a sua formação humana, para que este seja capaz de adaptar-se as condições futuras.
PROCESSOS SELETIVOS
Atualmente, a educação básica move-se em função do vestibular e quem dita os conteúdos a serem estudados são os órgãos responsáveis na elaboração e aplicação das provas, sendo assim, a escola vem se distanciando da sua relação com a prática social para atender as exigências da sociedade capitalista, o que pode ser reforçado pelas palavras de Freitas (2003, p. 26-27) “[...]para apoiar o desenvolvimento das forças produtivas, necessitou de uma escola que preparasse rapidamente, e em série, recursos humanos para alimentar a produção de forma hierarquizada e fragmentada.”
Esta citação vem reforçando o que pode estar acontecendo na Escola Municipal Amâncio Seixo de Brito frente à preocupação com a preparação de seus alunos aos exames do IFG. Vale enfatizar que, reconhece-se que estas avaliações externas fazem parte da vida, logo não devem ser ignoradas, mas não devem ser tratadas como prioridade, pois a tarefa da escola nessa concepção, que valoriza a formação humana na sua totalidade, está preocupada com a constituição de sujeitos autônomos, solidários, afetivos, ativos, criativos, éticos, com sólida formação humanista e científica. Logo, os conteúdos que devem ser prioridades, na respectiva escola, devem em primeira instância a atender a esses objetivos.
NOSSAS REFLEXÕES
Percebemos que a supervalorização na preparação dos alunos do Ciclo III existe, localizamos esse movimento no PPP da escola, bem como no discurso da coordenadora e dos alunos do Ciclo III. Ocorre uma modificação na estrutura escolar, nos conteúdos, no plano de ensino do professor, pois a escola propõe que os professores se utilizem dos conteúdos das provas já aplicadas pelo IFG para que seja ensinado para os alunos. Um exemplo que podemos citar é o uso do laboratório de informática, em que durante as aulas nesta sala os alunos devem acessar o site do IFG e fazer download das provas para tentar resolve-las. A escola realiza visitas ao IFG para mostrar aos alunos a estrutura de onde eles devem se preparar pra estudar.
Não podemos ignorar o vestibular de maneira geral (seja para ingressar em uma escola ou universidade), pois ele faz parte da realidade dos alunos que pretendem dar continuidade nos seus estudos de maneira formal, mas não cabe a escola modificar seus horários e conteúdos devido a uma demanda contraditória à proposição de educação ampliada na qual ela se encontra.
Isso é um fator que nos preocupa, pois a supervalorização da preparação para a prova do IFG pode tirar o foco do aluno com o seu processo de ensino e aprendizagem para a sua formação humana ampla e não sua formação profissional que se enquadra enquanto formação restrita. Percebemos que a preocupação do quadro de professores, coordenadores e diretora em relação aos alunos é admirável, sendo assim acreditamos que esta é uma escola capaz de perceber e reavaliar seu posicionamento frente a esse fenômeno da preparação para a prova do IFG. Embora houve uma resistência perante a escola quando realizamos nossa apresentação da reflexão sobre o tema pesquisado o que inviabilizou um maior diálogo sobre o assunto.
CONCLUSÕES
Referindo-se a Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano, temos em mente de que este tipo de organização escolar apresenta e defende que os educandos, independentemente de sua idade, portam um saber próprio de seu grupo e que deve ser considerado pela escola, ou seja, esta deve respeitar os ciclos de desenvolvimento daqueles. Isso implica no respeito à cultura dos sujeitos e na constituição de uma escola ligada à prática social, ou seja, uma escola que não prepara para a vida, mas que é a própria vida.
Dessa forma entendemos que os processos seletivos fazem parte da vida do educando e que ele deve estar preparado, capacitado para realiza-lo, por isso "A escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado", que a existência dela se faz necessária devida “a exigência de apropriação do conhecimento sistematizado por parte das novas gerações”, (SAVIANI, 2011, p.13 e 15), mas esse processo nós compreendemos como sendo lento, que respeita as fases da vida dos educando de maneira a garantir esses conhecimentos de forma gradual e não avassaladora realizada no último ano do ensino fundamental.
REFERÊNCIAS
FREITAS, L. C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003.
Lei de Diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: Acesso em: 15 de outubro de 2012.
SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítico. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.
O respectivo trabalho consiste no desenvolvimento de uma pesquisa requisito da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Educação Física I da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás, que culminou em um portfólio final unificando todas as temáticas estudadas nessa disciplina.
A investigação proposta pela disciplina parte da observação/análise da organização do trabalho pedagógico da escola campo, pois os referenciais que baseiam esta disciplina consistem em autores como Luiz Carlos de Freitas, Saviani, Coletivo de autores e entre outros, os quais possuem uma concepção crítica sobre educação e escola. Diante disto, para entender a aula de Educação Física e o papel do professor devemos conhecer a organização da escola, pois estes não se desassociam como afirma Freitas (2003, p.58):
A reflexão sobre a didática não pode ser desenvolvida sem que ela seja contextualizada dentro da organização do trabalho pedagógico da escola [...] não é apenas a didática que deve estar sob análise, mas sim a escola, sua organização e seus métodos, já que todos esses níveis são históricos[...]
Sendo assim, a pesquisa foi realizada na Escola Municipal Amâncio Seixo de Brito (EMASB) em Goiânia em que é utilizada a proposta dos ciclos de formação e desenvolvimento humano que foram elaborados pela Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME) em um processo de reconstrução da proposta curricular até então estabelecida, em um contexto de redemocratização política.
Mas a partir de nossas análises encontramos um fator contraditório entre as propostas de educação da SME, o Projeto Político Pedagógico da Escola e a realidade escolar, pois percebemos um movimento de supervalorização da preparação de alunos do Ciclo III para provas seletivas do ensino médio para o Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Goiás (IFG), modificando sua estrutura para atender a essa demanda.
OBJETIVOS
O objetivo geral deste estudo foi analisar a coerência da organização do trabalho pedagógico frente às demandas da realidade no modo produção vigente. De maneira mais específica compreender como se da a relação entre a escola e os vestibulares que dão acesso ao ensino médio.
METODOLOGIA
Em um primeiro momento, focamos na identificação e análise das teorias da didática e da organização do trabalho pedagógico, para que, em um segundo momento, após o contato e exposição desses elementos acontecesse um estudo investigativo no campo de estágio, sendo assim, nesta etapa, nos incumbimos de observar e analisar problemáticas significativas da organização geral da escola e da Educação Física, em especial, como: planejamento(s), gestão, projeto político-pedagógico e currículo, em estabelecimentos de educação básica da rede pública de ensino na escola campo.
Após a observação do cotidiano escolar, mais especificamente a observação de um planejamento pedagógico, nós pudemos perceber um dado que gerou grande parte de nossos estudos e reflexões. A partir desse dado da realidade nós fizemos um estudo mais aprofundado sobre o que está sugerido como conteúdos para o Ciclo III nas Diretrizes Curriculares para a Educação Fundamental da Infância e da Adolescência bem como uma análise do Projeto Político Pedagógico da escola em tela. Em seguida elaboramos um roteiro de entrevista e entrevistamos a coordenadora do Ciclo III, e alguns alunos também do Ciclo III. Realizamos a triangulação dos dados (observação, documentos e entrevista) e então conseguimos compreender o fenômeno que estava se desenvolvendo na escola em tela. Por fim realizamos uma palestra na escola campo para os professores, coordenadoras e diretora a fim mostrar nossos resultados e nossa preocupação, bem como oferecer ajuda para tratar das problemáticas encontradas.
ANÁLISE E DISCUSSÕES
PROPOSTAS DO CICLO III
O Ciclo III é voltado à adolescência, sendo assim, a faixa etária que compõe este, compreende indivíduos de 12 a 14 anos. O projeto de educação, da respectiva escola, propõe rupturas em relação ao modelo tradicional de se conceber a escola, a formação humana e a prática pedagógica. Parte de uma concepção de formação humana na sua globalidade, considerando o educando nas suas várias dimensões: física, psíquica, cognitiva, afetiva, ética, estética, social, emocional, entre outras.
ENSINO MÉDIO
O ensino médio, de acordo com o art. 35 da LDB, consiste na etapa final da educação básica, ou seja, é continuidade do ensino fundamental, no qual o ciclo III faz parte, tendo duração mínima de três anos. O ensino médio tem como objetivo primordial fornecer ao indivíduo conhecimentos fundamentais a sua formação humana, para que este seja capaz de adaptar-se as condições futuras.
PROCESSOS SELETIVOS
Atualmente, a educação básica move-se em função do vestibular e quem dita os conteúdos a serem estudados são os órgãos responsáveis na elaboração e aplicação das provas, sendo assim, a escola vem se distanciando da sua relação com a prática social para atender as exigências da sociedade capitalista, o que pode ser reforçado pelas palavras de Freitas (2003, p. 26-27) “[...]para apoiar o desenvolvimento das forças produtivas, necessitou de uma escola que preparasse rapidamente, e em série, recursos humanos para alimentar a produção de forma hierarquizada e fragmentada.”
Esta citação vem reforçando o que pode estar acontecendo na Escola Municipal Amâncio Seixo de Brito frente à preocupação com a preparação de seus alunos aos exames do IFG. Vale enfatizar que, reconhece-se que estas avaliações externas fazem parte da vida, logo não devem ser ignoradas, mas não devem ser tratadas como prioridade, pois a tarefa da escola nessa concepção, que valoriza a formação humana na sua totalidade, está preocupada com a constituição de sujeitos autônomos, solidários, afetivos, ativos, criativos, éticos, com sólida formação humanista e científica. Logo, os conteúdos que devem ser prioridades, na respectiva escola, devem em primeira instância a atender a esses objetivos.
NOSSAS REFLEXÕES
Percebemos que a supervalorização na preparação dos alunos do Ciclo III existe, localizamos esse movimento no PPP da escola, bem como no discurso da coordenadora e dos alunos do Ciclo III. Ocorre uma modificação na estrutura escolar, nos conteúdos, no plano de ensino do professor, pois a escola propõe que os professores se utilizem dos conteúdos das provas já aplicadas pelo IFG para que seja ensinado para os alunos. Um exemplo que podemos citar é o uso do laboratório de informática, em que durante as aulas nesta sala os alunos devem acessar o site do IFG e fazer download das provas para tentar resolve-las. A escola realiza visitas ao IFG para mostrar aos alunos a estrutura de onde eles devem se preparar pra estudar.
Não podemos ignorar o vestibular de maneira geral (seja para ingressar em uma escola ou universidade), pois ele faz parte da realidade dos alunos que pretendem dar continuidade nos seus estudos de maneira formal, mas não cabe a escola modificar seus horários e conteúdos devido a uma demanda contraditória à proposição de educação ampliada na qual ela se encontra.
Isso é um fator que nos preocupa, pois a supervalorização da preparação para a prova do IFG pode tirar o foco do aluno com o seu processo de ensino e aprendizagem para a sua formação humana ampla e não sua formação profissional que se enquadra enquanto formação restrita. Percebemos que a preocupação do quadro de professores, coordenadores e diretora em relação aos alunos é admirável, sendo assim acreditamos que esta é uma escola capaz de perceber e reavaliar seu posicionamento frente a esse fenômeno da preparação para a prova do IFG. Embora houve uma resistência perante a escola quando realizamos nossa apresentação da reflexão sobre o tema pesquisado o que inviabilizou um maior diálogo sobre o assunto.
CONCLUSÕES
Referindo-se a Ciclos de Formação e Desenvolvimento Humano, temos em mente de que este tipo de organização escolar apresenta e defende que os educandos, independentemente de sua idade, portam um saber próprio de seu grupo e que deve ser considerado pela escola, ou seja, esta deve respeitar os ciclos de desenvolvimento daqueles. Isso implica no respeito à cultura dos sujeitos e na constituição de uma escola ligada à prática social, ou seja, uma escola que não prepara para a vida, mas que é a própria vida.
Dessa forma entendemos que os processos seletivos fazem parte da vida do educando e que ele deve estar preparado, capacitado para realiza-lo, por isso "A escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado", que a existência dela se faz necessária devida “a exigência de apropriação do conhecimento sistematizado por parte das novas gerações”, (SAVIANI, 2011, p.13 e 15), mas esse processo nós compreendemos como sendo lento, que respeita as fases da vida dos educando de maneira a garantir esses conhecimentos de forma gradual e não avassaladora realizada no último ano do ensino fundamental.
REFERÊNCIAS
FREITAS, L. C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003.
Lei de Diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: Acesso em: 15 de outubro de 2012.
SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítico. Campinas, SP: Autores Associados, 2011.
Palavras-chave
Escola; Ciclos de formação; vestibular; processo seletivo;
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