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INTRODUÇÃO
O Programa Escola da Família (PEF) foi criado em 2003 por meio de uma ação conjunta da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo – Brasil com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Tem como objetivo reduzir a violência e fortalecer o espaço escolar por meio de práticas educativas, culturais e esportivas. Sua sistematização e funcionamento ocorrem a partir de quatro eixos: Esporte, Cultura, Saúde e Trabalho, por meio do desenvolvimento de oficinas aos fins de semana, em unidades escolares no estado de São Paulo. As oficinas são ministradas por educadores universitários e/ou voluntários, oriundos de diferentes áreas e campos de atuação, tais como: Educação Física, Pedagogia, Letras, Matemática e Informática, atendendo a uma diversidade de sujeitos, desde crianças, adolescentes, jovens e família.
Os eixos da cultura e do esporte, tem uma relação direta com o âmbito do lazer, pois as vivências vem sendo desenvolvidas num tempo e espaço de lazer. E nesse contexto, compreendemos que esses eixos possuem uma política e uma pedagogia que é transcrita a partir de um currículo. O currículo é compreendido para além de uma programação instituída e reconhecida pelo âmbito escolar, mas como uma prática cultural que produz e representa significados entre as relações sociais e individuais e por isso, se torna um espaço privilegiado para experimentação de contextos culturais diversos contemplando o lazer e suas relações.
Assim, um currículo é composto por conhecimentos, atitudes, valores, intenções, sensibilizações que traduzem e marcam uma identidade, envolvem programação e organização, cercado por características culturais. Dessa forma as práticas culturais vinculadas ao lazer possuem um currículo próprio, que seleciona, comunica e traduz formas de conduta, conhecimentos e subjetividades.

OBJETIVO
O objetivo do estudo foi descrever e analisar as compreensões e as relações que o currículo do programa Escola da Família estabelece com a temática do lazer.

METODOLOGIA
O trato metodológico do estudo se deu por meio das pesquisas bibliográfica e documental. Os documentos selecionados: 1. Decreto nº 48.781, de 07 de julho de 2004 – Institui o Programa Escola da Família; 2. Resolução SE nº 24, de 05 de abril de 2005 – Dispõe sobre o Escola em Parceria; 3. Resolução SE nº 18, de 05 de fevereiro de 2010 - Dispõe sobre a consolidação das diretrizes e procedimentos do Programa Escola da Família e dá providências correlatas; 4. Manual Operativo do Programa Escola da Família – 2010, 2013 e 2014; e 5. Caderno nº 32 Ideias.
Para a análise desses documentos foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, considerando as fases de pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados (BARDIN, 2011).

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Dos documentos citados, foi selecionado para analise o Caderno Ideias 32 (2004), pois durante a fase de tratamento de dados, notamos que é o principal texto que se refere a abordagem do lazer no programa. Nos manuais e resoluções a discussão sobre lazer não se faz presente, já no decreto (2004) o lazer aparece representado pela palavra recreação uma única vez. O caderno ideias 32 (2004), foi um documento comemorativo que reúne textos de pesquisadores e políticos que contribuíram para fomentar o programa no estado de São Paulo.
O primeiro passo do tratamento dos dados documentais foi identificar a presença da palavra lazer ou falas que fossem referentes às suas vivências e conteúdos. Detectamos a frequência da palavra lazer trinta e duas vezes, geralmente associada à educação, cultura e esportes. Outro elemento presente nos documentos foi a justificativa para criação do programa, que está relacionada a ausência de políticas públicas específicas que considerem espaços e atividades de lazer em comunidades carentes, buscando reduzir a violência e promover a cultura de paz.
A representação do lazer no documento também está associada à oferta de um espaço público com opções de lazer, esporte e cultura para jovens e famílias, promovendo interação e atraindo a comunidade para as escolas no fim de semana. O documento aponta, ainda, que o eixo da cultura pode atrair um público significativo e representar experiências e vivências de lazer (CADERNO IDEIAS 32, 2004).
Sobre o eixo esporte o documento informa que as oficinas devem desenvolver práticas esportivas diversas, nas quais os participantes podem brincar, jogar e se divertir e no que se refere ao eixo cultura aponta que pode articular o processo de pacificação entre a escola e a comunidade.
Citado no documento, Napolitano (2004) destaca que as práticas culturais, ocupam um espaço necessário na vida das comunidades, oferecendo significados e reconstruindo o tecido social, reconhecendo culturas que podem adquirir um outros sentidos. O autor enfatiza a necessidade desse eixo promover atividades de lazer que conduzam a transformações sociais e interações entre diferentes gêneros e faixa etária, evitando o processo de homogeneização de conteúdos na associação entre mídia, cultura e educação. Além disso, as ações devem permitir o acesso aos bens culturais, articulado com as práticas culturais das escolas e com as políticas culturais.
Por fim, a abordagem do lazer nos documentos pode em alguns momentos parecer utilitária, entendido como uma ferramenta para redução da violência, entretanto, é possível considerar ainda, que o lazer no âmbito do programa tem o papel de minimizar a falta de opções de divertimento e acesso a cultura nas periferias. E por fim, pode promover atividades de participação, inclusão e democratizar o acesso a vivências e experiências culturais que, muitas vezes, não estão presentes no cotidiano dos sujeitos.
Nesse sentido o currículo cultural do programa procura comunicar no espaço escolar experiências culturais, com música, acesso a internet, filmes, jogos, brincadeiras, esporte, danças, entre outros; por esses artefatos, o lazer pode fluir e alcançar vínculos estreitos pelas experiências que promove com as áreas da pedagogia, da cultura, do esporte, do currículo e da política. Assim, para Paraiso (2010) o que se passa no “espaço” entre currículo e lazer é a cultura. Dessa forma, também percebemos pelo documento a visão de lazer pautada pela livre escolha, prazer, divertimento e busca de sentidos e significados atribuídos de valores culturais.

CONCLUSÕES

Identificamos que o currículo cultural do programa traduz condutas e conhecimentos de combate à violência, conectados ao processo educativo por meio de práticas de lazer, tais como, a busca por autonomia, inclusão, emancipação, diversidade e participação cultural, o que pode demonstrar avanços para apropriação do direito a educação, ao lazer, esporte e cultura, em ações de políticas públicas educacionais, dando outros sentidos e significados as vivências esportivas e culturais dos participantes. O lazer está conectado ao elemento da cultura como um eixo atrativo do programa que pode promover representações e expressões, oferecendo oportunidades de criação de vínculos sociais, culturais e afetivos individualmente e coletivamente.

lazer; curriculo cultural; programa escola da familia