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EFEITOS DE UM TREINAMENTO DE HIDROGINÁSTICA SOBRE A FREQUÊNCIA CARDÍACA NO SEGUNDO LIMIAR VENTILATÓRIO DE MULHERES DISLIPIDÊMICAS
Última alteração: 2015-05-25
Resumo
INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA/BASE TEÓRICA
Estima-se que cerca de 82,6 milhões americanos adultos tenham um ou mais tipos de doenças cardiovasculares (DCV) e destes, 40,4 milhões possui idade igual ou superior a 60 anos (ROGER et al., 2011, p. 18). Assim sendo, esses sujeitos sofrem uma redução da capacidade cardiorrespiratória advinda tanto do próprio processo de envelhecimento quanto das DCV instaladas, resultando em uma diminuição da capacidade e independência funcional desta população.
À vista disso, a inclusão de um treinamento físico tem sido recomendada como uma medida terapêutica por amenizar ou até mesmo inibir os efeitos deletérios do envelhecimento (ACSM, 2009, p.1515). Dentro deste contexto, a hidroginástica vem recebendo destaque por proporcionar a prática de exercícios físicos com uma situação cardiovascular favorecida decorrente da imersão (LOLLGEN et al., 1981, p. 627; KRUEL et al., 2002; p.51), tornando essa modalidade interessante para pessoas com DCV.
A literatura aponta para um efeito benéfico do treinamento, inclusive da hidroginástica, sobre a capacidade aeróbia (ACSM, 2009, p. 1515). Neste sentido, um parâmetro de desempenho aeróbio de fácil avaliação e grande aplicabilidade prática é a determinação do ponto de deflexão da frequência cardíaca (PDFC), que tem demostrado possuir uma forte correlação com o ponto do segundo limiar ventilatório determinado pelas curvas ventilatórias (ALBERTON et al., 2013, p. 366).
OBJETIVO: avaliar o efeito de um treinamento de hidroginástica sobre a frequência cardíaca relativa ao segundo limiar ventilatório (FCLV2) de mulheres idosas dislipidêmicas.
METODOLOGIA: a amostra foi composta por 24 mulheres sedentárias dislipidêmicas com faixa etária entre 60 e 75 anos. Foram excluídas da amostra as mulheres fumantes, portadoras de DCV com complicações associadas, usuárias de medicações vasoativas, fármacos para tratamento hormonal.
Procedimentos - Foi realizado um teste de esforço máximo em meio aquático usando o exercício de corrida estacionária. O protocolo de teste iniciou com um aquecimento de três minutos na cadência de 85 batidas por minuto (bpm), havendo posteriormente um incremento de 15 bpm na cadência a cada dois minutos, até que os pacientes atingissem a exaustão (ALBERTON et al., 2013, p.360). A amplitude de movimento foi controlada em 90° de flexão do quadril e joelho, sendo interrompido o teste quando os sujeitos não conseguissem manter o exercício no ritmo ditado pelas cadências, na amplitude correta. Para determinação do ritmo de execução do exercício, foi utilizado um metrônomo modelo MA-30, da marca KORG, com amplitude de 40 a 208bpm, e resolução de 1bpm. A FC foi coletada a cada 10s (frequencímetro FS1TM, da marca Polar). Estes dados foram plotados em um gráfico de dispersão, por meio do qual determinou-se o ponto de deflexão da curva da FC ao longo do tempo, uma vez que este ponto se correlaciona fortemente com o segundo limiar ventilatório (ALBERTON et al., 2013, p.366). As participantes foram instruídas a não se alimentarem três horas antes dos testes, a não consumirem estimulantes e não praticarem atividades físicas intensas 12 horas anteriores ao teste (COOKE et al., 1996, p. 190).
Treinamento - O treinamento de caráter aeróbico, em aulas de hidroginástica, foi realizado durante cinco semanas com frequência semanal de duas sessões (45 minutos cada). As sessões foram compostas por um aquecimento (alongamentos e deslocamentos pela piscina com duração de 8 minutos), uma parte principal (exercícios aeróbios com duração de 30 minutos) e uma volta à calma (alongamentos e relaxamentos durante 7 minutos). A parte principal de cada sessão foi composta por 4 exercícios que foram executados bilateralmente e de forma agrupada (exercícios de membros inferiores associados a outros de membros superiores). Estes exercícios foram realizados de forma intervalada, intercalando-se quatro minutos em intensidade correspondente a faixa de FC entre 90 e 95% da FCLV2 e um minuto entre 80 e 85% da FCLV2. As participantes foram treinadas sempre pela mesma professora na piscina do Centro Natatório da ESEF/UFRGS e a temperatura da água foi mantida entre 30 e 32°C.
Análise estatística - Foi utilizada estatística descritiva (médias ± desvio-padrão). Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para a análise da normalidade dos dados. Para a comparação dos valores de pré e pós-treinamento utilizou-se o teste T dependente. O índice de significância adotado foi de α = 0,05 e o pacote estatístico SPSS versão 22.0 foi utilizado.
ANÁLISE E DISCUSSÃO: inicialmente, a amostra apresentou idade média de 65,74±5,03 anos, massa corporal de 74,94±14,40kg, 1,57±0,05m de estatura e frequência cardíaca de repouso de 69,91±12,46bpm. Após o treinamento, verificou-se um aumento significativo da FCLV2, passando de 121±13,19 para 127,79±16,41bpm (p<0,001), o que representa uma melhora de 5,61% no condicionamento aeróbico das participantes.
O resultado do presente estudo representa uma melhora na capacidade cardiorrespiratória das participantes, visto que com o deslocamento do ponto da FCLV2 para maiores valores, os indivíduos se tornam aptos a suportar uma maior intensidade de exercício mantida pelo sistema aeróbio, suportando uma mesma carga submáxima com menores valores de FC. Este fato contribui para reduzir o estresse no miocárdio durante as atividades de vida diária, tornando o indivíduo mais econômico (BROMAN et al., 2006, p.121).
O achado do presente estudo corrobora demais estudos da literatura. Pinto et al. (2015, p. 6) também observaram o deslocamento do ponto da FCLV2 de mulheres pós-menopáusicas após 6 semanas de treinamento de hidroginástica (de 78.50±10.30 % para 83.55±7.37 % do consumo de oxigênio de pico).
CONCLUSÕES: a prática de apenas duas sessões semanais de hidroginástica promove melhora na capacidade cardiorrespiratória de mulheres idosas dislipidêmicas, evidenciada pelo deslocamento do ponto da FC referente ao segundo limiar ventilatório, para valores significativamente superiores, em apenas cinco semanas de treinamento aeróbico.
Estima-se que cerca de 82,6 milhões americanos adultos tenham um ou mais tipos de doenças cardiovasculares (DCV) e destes, 40,4 milhões possui idade igual ou superior a 60 anos (ROGER et al., 2011, p. 18). Assim sendo, esses sujeitos sofrem uma redução da capacidade cardiorrespiratória advinda tanto do próprio processo de envelhecimento quanto das DCV instaladas, resultando em uma diminuição da capacidade e independência funcional desta população.
À vista disso, a inclusão de um treinamento físico tem sido recomendada como uma medida terapêutica por amenizar ou até mesmo inibir os efeitos deletérios do envelhecimento (ACSM, 2009, p.1515). Dentro deste contexto, a hidroginástica vem recebendo destaque por proporcionar a prática de exercícios físicos com uma situação cardiovascular favorecida decorrente da imersão (LOLLGEN et al., 1981, p. 627; KRUEL et al., 2002; p.51), tornando essa modalidade interessante para pessoas com DCV.
A literatura aponta para um efeito benéfico do treinamento, inclusive da hidroginástica, sobre a capacidade aeróbia (ACSM, 2009, p. 1515). Neste sentido, um parâmetro de desempenho aeróbio de fácil avaliação e grande aplicabilidade prática é a determinação do ponto de deflexão da frequência cardíaca (PDFC), que tem demostrado possuir uma forte correlação com o ponto do segundo limiar ventilatório determinado pelas curvas ventilatórias (ALBERTON et al., 2013, p. 366).
OBJETIVO: avaliar o efeito de um treinamento de hidroginástica sobre a frequência cardíaca relativa ao segundo limiar ventilatório (FCLV2) de mulheres idosas dislipidêmicas.
METODOLOGIA: a amostra foi composta por 24 mulheres sedentárias dislipidêmicas com faixa etária entre 60 e 75 anos. Foram excluídas da amostra as mulheres fumantes, portadoras de DCV com complicações associadas, usuárias de medicações vasoativas, fármacos para tratamento hormonal.
Procedimentos - Foi realizado um teste de esforço máximo em meio aquático usando o exercício de corrida estacionária. O protocolo de teste iniciou com um aquecimento de três minutos na cadência de 85 batidas por minuto (bpm), havendo posteriormente um incremento de 15 bpm na cadência a cada dois minutos, até que os pacientes atingissem a exaustão (ALBERTON et al., 2013, p.360). A amplitude de movimento foi controlada em 90° de flexão do quadril e joelho, sendo interrompido o teste quando os sujeitos não conseguissem manter o exercício no ritmo ditado pelas cadências, na amplitude correta. Para determinação do ritmo de execução do exercício, foi utilizado um metrônomo modelo MA-30, da marca KORG, com amplitude de 40 a 208bpm, e resolução de 1bpm. A FC foi coletada a cada 10s (frequencímetro FS1TM, da marca Polar). Estes dados foram plotados em um gráfico de dispersão, por meio do qual determinou-se o ponto de deflexão da curva da FC ao longo do tempo, uma vez que este ponto se correlaciona fortemente com o segundo limiar ventilatório (ALBERTON et al., 2013, p.366). As participantes foram instruídas a não se alimentarem três horas antes dos testes, a não consumirem estimulantes e não praticarem atividades físicas intensas 12 horas anteriores ao teste (COOKE et al., 1996, p. 190).
Treinamento - O treinamento de caráter aeróbico, em aulas de hidroginástica, foi realizado durante cinco semanas com frequência semanal de duas sessões (45 minutos cada). As sessões foram compostas por um aquecimento (alongamentos e deslocamentos pela piscina com duração de 8 minutos), uma parte principal (exercícios aeróbios com duração de 30 minutos) e uma volta à calma (alongamentos e relaxamentos durante 7 minutos). A parte principal de cada sessão foi composta por 4 exercícios que foram executados bilateralmente e de forma agrupada (exercícios de membros inferiores associados a outros de membros superiores). Estes exercícios foram realizados de forma intervalada, intercalando-se quatro minutos em intensidade correspondente a faixa de FC entre 90 e 95% da FCLV2 e um minuto entre 80 e 85% da FCLV2. As participantes foram treinadas sempre pela mesma professora na piscina do Centro Natatório da ESEF/UFRGS e a temperatura da água foi mantida entre 30 e 32°C.
Análise estatística - Foi utilizada estatística descritiva (médias ± desvio-padrão). Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para a análise da normalidade dos dados. Para a comparação dos valores de pré e pós-treinamento utilizou-se o teste T dependente. O índice de significância adotado foi de α = 0,05 e o pacote estatístico SPSS versão 22.0 foi utilizado.
ANÁLISE E DISCUSSÃO: inicialmente, a amostra apresentou idade média de 65,74±5,03 anos, massa corporal de 74,94±14,40kg, 1,57±0,05m de estatura e frequência cardíaca de repouso de 69,91±12,46bpm. Após o treinamento, verificou-se um aumento significativo da FCLV2, passando de 121±13,19 para 127,79±16,41bpm (p<0,001), o que representa uma melhora de 5,61% no condicionamento aeróbico das participantes.
O resultado do presente estudo representa uma melhora na capacidade cardiorrespiratória das participantes, visto que com o deslocamento do ponto da FCLV2 para maiores valores, os indivíduos se tornam aptos a suportar uma maior intensidade de exercício mantida pelo sistema aeróbio, suportando uma mesma carga submáxima com menores valores de FC. Este fato contribui para reduzir o estresse no miocárdio durante as atividades de vida diária, tornando o indivíduo mais econômico (BROMAN et al., 2006, p.121).
O achado do presente estudo corrobora demais estudos da literatura. Pinto et al. (2015, p. 6) também observaram o deslocamento do ponto da FCLV2 de mulheres pós-menopáusicas após 6 semanas de treinamento de hidroginástica (de 78.50±10.30 % para 83.55±7.37 % do consumo de oxigênio de pico).
CONCLUSÕES: a prática de apenas duas sessões semanais de hidroginástica promove melhora na capacidade cardiorrespiratória de mulheres idosas dislipidêmicas, evidenciada pelo deslocamento do ponto da FC referente ao segundo limiar ventilatório, para valores significativamente superiores, em apenas cinco semanas de treinamento aeróbico.
Palavras-chave
frequência cardíaca; segundo limiar ventilatório; hidroginástica.
Referências
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