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CORPO E MEMÓRIA: REFLEXÕES A PARTIR DE PAUL RICOEUR
Arliene Stephanie Menezes Pereira, Joselita da Silva Santiago

Última alteração: 2021-11-30

Resumo


INTRODUÇÃO
A memória ou reminiscência, nos remete sempre ao passado, a lembrança e ao esquecimento. Para compreendermos o fenômeno mnemônico, nos debruçamos sobre um dos pensadores mais expressivos do século XX, o filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005) devido a atenção que este autor dá ao corpo em seus estudos sobre a memória. Para esta compreensão enveredaremos na obra “A memória, a história, o esquecimento” (2007), em que o autor traz à tona a base filosófica que suscita suas principais interpretações por meio da atitude fenomenológica sobre a “coisa lembrada” e enseja diversas reflexões sobre a memória corporal; na qual a memória é sempre do passado, sendo trazida à baila por intermédio do exercício da rememoração (reminiscência do passado) que foi experenciada através do corpo.
Assim, levantamos a seguinte questão norteadora: Quais as compreensões de corpo e memória que são apresentadas na obra de Paul Ricoeur? A partir desta inquietação objetivamos refletir acerca das relações entre corpo e o fenômeno mnemônico a partir do autor em questão.
Como metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica, com a leitura, fichamento e análise da obra supracitada, tomando a descrição de Ricoeur sobre as ideias tecidas entre corpo e memória.

CORPO COMO ESPAÇO DA MEMÓRIA
Paul Ricoeur em sua obra “A memória, história e o esquecimento” aborda que a memória foi inscrita num corpo. O filósofo nos incita a pensar sobre o corpo que é afetado por outros corpos e que o fará lembrar dos outros. Porque o corpo do outro que se afeta de alguma forma, suscita a memória, a imaginação, a lembrança e o esquecimento. É a partir dessa memória corporal que garantimos que algo ocorreu antes de formamos a lembrança. Assim, o corpo para o autor é o lugar onde são vividas e posteriormente projetadas as memórias, e

Seja qual for o destino ulterior da memória das datas e dos lugares no plano do conhecimento histórico, é o elo entre memória corporal e memória dos lugares que legitima, a título primordial, a dessimplicação do espaço e do tempo de sua forma objetivada. O corpo constitui, desse ponto de vista, o lugar primordial, o aqui em relação ao qual todos os outros lugares são lá. (RICOEUR, 2007, p. 59)

Sob o olhar ricoeuriano, a memória representa o passado dimensionalmente, para o qual o sujeito nele se projeta a partir do corpo. A memória sucede dessa experenciação do passado representado como imagem. Para explicar este pensamento, Ricoeur recorre a historiadora francesa Frances Yates, para dizer que essa representação do passado em imagens requer a formação das similitudes corporais e no esforço para o apoderamento do mundo inteligível (ofertado no conhecimento com base na razão) para o mundo sensível (baseado nas sensações).
Ricoeur menciona que as alternâncias e descontinuidades apresentadas na transitoriedade destes dois mundos pontuam a mutação da espacialidade corporal e ambiental inerentes a evocação das lembranças. E que nessas lembranças o espaço corporal é de imediato vinculado ao espaço ambiental. Este último, nos levaria assim a noção de lugar que encontra apoio nas experiências vividas no corpo próprio como, por exemplo também afirma Merleau-Ponty em “Fenomenologia da percepção” (1996). Ricoeur propõe, assim, o desdobrar da interface do sujeito com a sua identidade coletiva, para levantar a convergência entre “o eu, os outros e o mundo”, dado que se afetam continuamente através do corpo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que as principais ideias do autor ressaltam a ideia de memória enunciada sobre as dimensões corporais, e que estas enunciam a reminiscência do passado, visto que foi ancorada na extensão do corpo próprio e de seu ambiente.
A lembrança, segundo Ricoeur só pode ser projetada pois foi vivida e experenciada por meio do corpo. Tal entendimento pode nos proporcionar novas visões voltadas para fomentar a atividade epistemológica como interrogação constante dos saberes constituídos sobre a corporeidade a partir dos estudos do fenômeno mnemônico.

Referências


MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto R. de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

RICOEUR, P. A memória, a história, o esquecimento. Tradução de Alain François [et al.]. Campinas, SP: Unicamp, 2007.

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