Tamanho da fonte: 

PALAVRAS-CHAVE: Maternidade; Docência em Educação Física; Pesquisa em Educação Física.

INTRODUÇÃO
Segundo Scavone (2001), o debate feminista sobre maternidade se consolida no final dos anos 1960. A partir de diversas autoras (BADINTER, 1985; 2011; BEZERRA, 2007; D’AVILA, 2019; MALUF; KAHHALE, 2010; MOREIRA; NARDI, 2009), percebemos que as formas de maternidade são culturais, e, que existem dispositivos históricos que indicam às pessoas como é ser mãe. Nos estudos feministas, Scavone (2001, p. 138) destaca que “a maternidade começava, então, a ser compreendida como uma construção social, que designava o lugar das mulheres na família e na sociedade”. Esses estudos ressaltam que passamos de um modelo que exaltava o papel da mulher como mãe, ligando a função social da mulher à maternidade - dito modelo tradicional da maternidade - para um modelo moderno, onde a mulher, além de mãe, pode ser definida com outras identidades e com proles menores - tal modelo se instaura com o advento da sociedade industrial.
Bezerra (2017, p. 13) afirma que “desde que nos tornamos mães, a maternidade atinge diretamente e de maneira definidora, nossos outros lugares no mundo”. A sociedade na qual vivemos impõe à mulher a responsabilidade principal do cuidado com os/as filhos/as, o que implica em acumular diferentes papéis e tarefas (mulher, mãe, profissional, pesquisadora, estudante, para citar alguns) ou em abrir mão de vários deles. Sendo assim, este trabalho objetiva refletir sobre a maternidade e seus impactos nas vidas de mulheres, professoras e pesquisadoras.

METODOLOGIA
O interesse de pesquisa se materializa através das nossas experiências enquanto mães e professoras e dos atravessamentos que a maternidade nos convoca. Diante disso, optamos pelo método de pesquisa da autoetnografia colaborativa, que se trata de “[...] um processo altamente pessoal, nela os pesquisadores examinam como eles interagem com outras pessoas dentro do seu contexto sociocultural e como as forças sociais têm influenciado suas experiências de vida” (CHANG, 2013, p. 107). Assim, esta pesquisa foi realizada por meio do que Chang (2013) denomina de full collaboration, pois as pesquisadoras trabalharam em conjunto desde a obtenção de informações até a escrita final dos relatórios da pesquisa.
Constituímos um grupo de discussão com 09 mães, professoras e pesquisadoras da área da Educação Física (EF) que trabalham na região metropolitana de Porto Alegre. Realizamos 03 encontros presenciais em 2019, apresentando como eixos de discussão as seguintes questões: o que é ser mãe? Como conceituamos maternidade? Como essa maternidade nos afeta nos diferentes âmbitos da vida: profissional, pessoal, estudantil, afetiva e espiritual? Há relação entre a experiência da maternidade com a nossa prática pedagógica em EF?

ANÁLISE E DISCUSSÃO
Bezerra (2017, p.19) questiona se “é possível ser mãe e acadêmica? Ser mãe e profissional? É possível ser mãe e mulher plena em sua sexualidade? É possível ser mãe e qualquer outra coisa?”. Compreendemos que estas são possibilidades, mas que geram acúmulo de afazeres, de tarefas, de necessidades e de exigências das mais diversas.
Dentre os conhecimentos produzidos na pesquisa, ressaltamos: (I) a importância da rede de cuidados/apoio, que possibilita a vivência da maternidade de forma mais coletiva, amenizando sofrimentos e dificuldades enfrentadas; (II) a experiência da maternidade resulta na ruptura com o que éramos até então e no redimensionamento das diversas esferas da vida, com necessidade de eleição de novas prioridades e escolhas; (III) são múltiplos os sentimentos suscitados com a maternidade, dentre os quais a culpa aparece de modo quase unânime, sendo a terapia uma experiência significativa de autocuidado que integra a rede de apoio para lidar com os sentimentos vividos; e (IV) a maternidade afeta a docência ao mesmo tempo em que a docência afeta a maternidade.
Portanto, refletimos que esses diversos elementos e vivências vêm contribuindo na construção de um olhar mais coletivo junto aos grupos de trabalho nas escolas, do mesmo modo que nos convidam a maximizar nossa capacidade de resiliência.