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AINDA HÁ UM LUGAR PARA O CORPO NAS AULAS DE GRADUAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR?
Derli Juliano Neuenfeldt, Rogério José Schuck, Adriano Edo Neuenfeldt, Raquel Cristina Michel, Isabel Pavan, Tania Micheline Miorando

Última alteração: 2021-11-30

Resumo


O ano de 2020 foi marcado por um grande desafio sanitário de ordem global, a pandemia causada pelo Covid-19. Devido a elevada infectividade e mortalidade, as medidas sanitárias adotadas seguiram a linha da prevenção. Entre elas o distanciamento social, que acarretou no cancelamento das aulas presenciais em todos os níveis de ensino.
Muitas universidades deram continuidade as aulas de forma virtualizada, utilizando Ambientes Virtuais de Aprendizagem, tais como: o moodle ou google classroom, e viabilizaram o ensino por meio de chats, fóruns, hipertextos ou aplicativos como o WhatsApp.
Portanto, essa pesquisa tem por objetivo analisar percepções de estudantes da graduação da modalidade presencial quanto ao lugar do corpo no ensino virtualizado síncrono experimentado em 2020. O presente estudo apresenta resultados que possibilitam repensar a forma de oferta do Ensino Superior presencial, assim como questionar os limites do que pode ou não ser ensinado de forma virtual.

METODOLOGIA
Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa e descritiva. Ela ocorreu, em 2020, no período de pandemia de Covid-19 numa instituição de Ensino Superior que deu continuidade as suas aulas presenciais de forma virtual e síncrona, utilizando Ambientes Virtuais de Aprendizagem e Tecnologias Digitais.
A coleta de informações ocorreu por meio de um questionário elaborado no Google Forms e encaminhado via e-mail a estudantes de oito cursos de graduação (Enfermagem, Educação Física, Arquitetura, Engenharias, Administração, Ciências Contábeis, Pedagogia e Direito), sendo respondido por 245 estudantes (4,72%) de uma população de 5.192. A adesão foi voluntária e por acessibilidade.
Em relação às informações fez-se análise de discurso (ORLANDI, 2020). Quanto aos cuidados éticos, todos os participantes autorizaram o uso das informações na pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A análise do discurso dos estudantes nos permitiu constatar percepções diferentes em relação ao lugar do corpo nos processos de ensino e de aprendizagem. Há discursos que renunciam ao encontro físico e presencial com os corpos físicos, conforme as falas a seguir: “Deu para seguir as aulas normal sem perder os conteúdos” (Estudante 1); “As aulas teóricas a gente consegue aprender bem como se estivesse na aula presencial” (Estudante 2). Evidencia-se que para a aprendizagem de conhecimentos teóricos, os estudantes abdicam do corpo.
Para Le Breton (2013) a maior recusa, atualmente, não é a dicotomia alma/corpo, mas a oposição que vivemos do homem a seu corpo. Contudo, o esquecimento do corpo na vida cotidiana ignora que a relação do homem com o mundo é física e sensorial.
Por outro lado, há estudantes que reclamam da ausência do corpo do professor e dos colegas de aula. Isso pode ser evidenciado a seguir: “Nas práticas o aprendizado é maior em grupo, no laboratório e nos locais de atuação vendo e fazendo a gente aprende mais” (Estudante 3); “Sinto que minha aprendizagem é mais efetiva quando presencial. Algumas aulas seriam melhor ir a campo” (Estudante 4).
Portanto, com base nos discursos acima, a relação física do homem com o mundo ainda é uma necessidade para os estudantes. Eles reconhecem que há aprendizagens que se dão no corpo. Merleau-Ponty (1999) nos diz que a experiência do corpo próprio se opõe ao movimento reflexivo que nos dá apenas o pensamento do corpo ou o corpo em ideia, e não em experiência do corpo ou o corpo em realidade. Por essa razão, “sentir” é uma questão importante para o homem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se diferenças a partir das percepções dos estudantes em relação ao ensino presencial e ensino virtual síncrono. Uma delas diz respeito que nem todos os temas de estudo ou aprendizagens podem ser virtualizados. Conhecimentos conceituais podem ser ensinados e aprendidos virtualmente, por outro lado, os estudantes consideram indispensável o ensino presencial, principalmente no que tange às aprendizagens procedimentais (práticas em laboratórios de ensino, por exemplo) e que necessitam da relação com colegas e professores.
Portanto, ainda há lugar para o corpo no Ensino Superior, os saberes corporais não podem ser negados, substituídos ou cair no esquecimento. Como menciona Le Breton (2013, p. 203) “[...] o sensível é em primeiro lugar a tatilidade das coisas, o contato com os outros ou os objetos, o sentimento de estar com o pés no chão”. Portanto, um ensino híbrido, presencial e virtual, mostra-se como caminho possível em uma sociedade digital, sem desmerecer as aprendizagens presenciais.

Referências


LE BRETON, D. Adeus ao corpo. 6 ed. Campinas, SP: Papirus. 2013.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes. 1999.

ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 13 ed. Campinas, SP: Pontes. 2000.

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