Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XXII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IX Congresso Internacional de Ciências do Esporte

Tamanho da fonte: 
COLUNA VERTEBRAL HUMANA: AVALIAÇÃO DA DOR LOMBAR BASEADA EM EVIDÊNCIAS
André Pontes-Silva, Erika da Silva Maciel, Almir Vieira Dibai-Filho

Última alteração: 2021-11-29

Resumo


INTRODUÇÃO
A dor lombar é uma doença musculoesquelética com grande repercussão na população adulta em todo o mundo (ABBAFATI et al., 2020). Na investigação clínica dessa doença alguns profissionais solicitam diferentes exames para diagnósticos por imagem, todavia, mesmo que a sensibilidade das imagens seccionais seja adequada, a sua especificidade é baixa para os contextos de dor lombar crônica, pois na maioria dos casos trata-se de uma dor inespecífica e nenhuma doença subjacente pode ser identificada (SCHILTENWOLF; SCHWARZE, 2020).
Além disso, algumas limitações podem ser elencadas para esse tipo de conduta, como por exemplo, o fato de que o diagnóstico por imagem não contribui com o resultado do tratamento e possui preços elevados (CHOU et al., 2009; JARVIK et al., 2015), a propósito, alguns pacientes assintomáticos submetidos a esses exames apresentam danos consideráveis na estrutura lombar, enquanto a experiência sintomática, muitas vezes, não é explicada por imagens (BODEN et al., 1990a, 1990b).
Contudo, vale ressaltar que exames por imagens são úteis para os casos nos quais as descobertas clínicas (por meio de questionários e exame físico) sugerem uma doença subjacente e grave na coluna vertebral. Nos outros casos, eles podem apenas reforçar a crença em falsos diagnósticos por imagens que na verdade não explicam a origem da dor.
Ademais, se descobertas acidentais forem encontradas, é possível que o paciente fique mais debilitado do ponto de vista biopsicossocial, em virtude do medo de “ter perdido” a integridade de sua coluna, além do risco de que a mensagem do profissional envolvido atue como um nocebo. Por isso, cada vez mais, a investigação clínica da dor lombar cônica está ponderada por utilização de questionários, considerados instrumentos capazes de avaliar a dor, fatores biopsicossociais e incapacidade percebida, isto é, por meio do autorrelato do paciente (PAULI et al., 2019).
Os questionários utilizados na prática clínica para avaliar pacientes com dor lombar crônica são, e devem ser, cientificamente aceitáveis em relação às propriedades psicométricas. Assim, após a avaliação e registro de todas as observações, torna-se necessário se concentrar nos principais desfechos produzidos pela cronificação da dor lombar, entre eles, a incapacidade, tida como uma das medidas clínicas mais importantes para investigação epidemiológica e acompanhamento da doença frente ao tratamento (PAULI et al., 2019).
Para potencializar a especificidade da avaliação ao se mensurar a incapacidade gerada pela dor lombar crônica, alguns questionários possuem validação para a população-alvo. Dado o exposto, este estudo teve como objetivo identificar questionários validados para a população brasileira com dor lombar.

MÉTODOS
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura. Cinco bancos de dados eletrônicos foram pesquisadas: Medline, Embase, Scopus, Cinahl, PEDro, Web of Science e Cochrane. Com o auxílio dos operadores booleanos, a estratégia de pesquisa incluiu descritores controlados e não controlados relacionados a dor lombar, incapacidade e instrumentos avaliativos. Ademais, a busca limitou-se a estudos com validação para brasileiros.

RESULTADOS
Seis instrumentos foram identificados: Questionário de Incapacidade Roland-Morris (QIRM), Oswestry Disability Index (ODI), Quebec Back Pain Disability Scale (QDS), Questionário Bournemouth (QB), Start Back Screening Tool (SBST) e Japanese Orthopaedic Association Back Pain Evaluation Questionnaire (JOABPEQ).
O RMDQ, adaptado e validado para a população brasileira por Costa et al. (2007), mensura a incapacidade em indivíduos com dor lombar. É composto por 24 itens que descrevem situações vivenciadas por pessoas com dor lombar e sua pontuação varia de 0 a 24 pontos. Quanto maior a pontuação, maior a incapacidade.
O ODI, adaptado e validado para a população brasileira por Vigatto et al. (2007), avalia a incapacidade funcional apresentada pelos pacientes. Este questionário contém 10 questões sobre as atividades da vida diária capazes de mostrar o impacto gerado pela dor/incapacidade ao executar cada uma dessas atividades. Os resultados variam de 0 a 100. Quanto maior a pontuação, maior a incapacidade.
O QDS, adaptado e validado para a população brasileira por Rodrigues et al. (2009), é composto por 20 itens que examinam 6 domínios de atividades consideradas relevantes para a dor lombar, como dormir, sentar/levantar, caminhar, se mover, inclinar, agachar e levantar objetos. O questionário produz uma pontuação para cada incapacidade. O escore total varia de 0 a 100. Quanto maior a pontuação, maior a incapacidade.
O QB, adaptado e validado para a população brasileira por Kamonseki et al. (2019), é composto por 7 itens capazes de avaliar a intensidade da dor, função física e aspectos biopsicossociais. O questionário gera uma pontuação para cada dimensão e o escore final varia de 0 a 70. Quanto maior a pontuação, maior a incapacidade.
O SBST, adaptado e validado para a população brasileira por Pilz et al. (2014), classifica o risco de mau prognóstico de pacientes com dor lombar ao considerar a presença de fatores físicos e psicossociais. É composto por 9 itens, dos quais 4 são relacionados à dor referida e o restante à categoria psicossocial. A pontuação de cada item é 0, para concordar, ou 1, para discordar. O escore total varia de 0 a 9 pontos e quanto maior a pontuação, pior a condição do paciente.
O JOABPEQ, adaptado e validado para a população brasileira por Poletto et al. (2017), é composto por 25 questões nas quais a análise e a interpretação são agrupadas nas subescalas: dor lombar, função lombar, deambulação, função na vida social e saúde mental. Quanto maior a pontuação, melhor a condição do paciente. O questionário também apresenta três escalas visuais com pontuação de 0 a 10 para avaliar dor e dormência na lombar, região glútea e membros inferiores. Quanto maior a pontuação, maior a intensidade da dor ou dormência.

CONCLUSÃO
Alguns dos questionários utilizados na investigação clínica da incapacidade gerada pela dor lombar cônica, também avaliam a intensidade da dor e fatores biopsicossociais relacionados ao prognóstico da doença, pois a incapacidade afeta inúmeros indicadores de saúde e altera, sistemicamente, o estilo de vida dos pacientes. Por isso, além do exame físico e anamnese, é importante agregar questionários complementares para avaliar aspectos específicos dessa população, como funcionalidade e nível de atividade física, intensidade da dor em repouso e após movimento, qualidade de vida global, distúrbios do sono, depressão associada, catastrofização, cinesiofobia e autoeficácia sobre a dor e incapacidade.

Referências


ABBAFATI, C. et al. Global burden of 369 diseases and injuries in 204 countries and territories, 1990–2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019. The Lancet, v. 396, n. 10258, p. 1204–1222, 2020.

BODEN, S. D. et al. Abnormal Magnetic-Resonance Scans of the Lumbar Spine in Asymptomatic Subjects. A Prospective Investigation. J Bone Joint Surg Am, v. 72, n. 3, p. 403–408, 1990a.

BODEN, S. D. et al. Abnormal magnetic-resonance scans of the cervical spine in asymptomatic subjects. A prospective investigation. Journal of Bone and Joint Surgery - Series A, v. 72, n. 8, p. 1178–1184, 1990b.

CHOU, R. et al. Imaging strategies for low-back pain: systematic review and meta-analysis. The Lancet, v. 373, n. 9662, p. 463–472, 2009.

COSTA, L. O. P. et al. Psychometric characteristics of the Brazilian-Portuguese versions of the Functional Rating Index and the Roland Morris Disability Questionnaire. Spine, v. 32, n. 17, p. 1902–1907, 2007.

JARVIK, J. G. et al. Association of early imaging for back pain with clinical outcomes in older adults. JAMA - Journal of the American Medical Association, v. 313, n. 11, p. 1143–1153, 2015.

KAMONSEKI, D. H.; FONSECA, C. L.; CALIXTRE, L. B. The Brazilian version of the bournemouth questionnaire for low back pain: Translation and cultural adaptation. Sao Paulo Medical Journal, v. 137, n. 3, p. 262–269, 2019.

PAULI, J.; STARKWEATHER, A.; ROBINS, J. L. Screening Tools to Predict the Development of Chronic Low Back Pain: An Integrative Review of the Literature. Pain Medicine (United States), v. 20, n. 9, p. 1651–1677, 2019.

PILZ, B. et al. The Brazilian version of start back screening tool - translation, cross-cultural adaptation and reliability. Brazilian Journal of Physical Therapy, v. 18, n. 5, p. 453–461, 2014.

POLETTO, P. R. et al. Cultural adaptation, reliability and validity of Japanese Orthopaedic Association Back Pain Evaluation Questionnaire to Brazilian Portuguese. Einstein (Sao Paulo, Brazil), v. 15, n. 3, p. 313–321, 2017.
RODRIGUES, M. F. et al. Psychometric properties and cross-cultural adaptation of the Brazilian Quebec back pain disability scale questionnaire. Spine, v. 34, n. 13, p. 459–464, 2009.

SCHILTENWOLF, M.; SCHWARZE, M. Diagnostics and therapy of back pain: what is advisable? What should be avoided and why is it still done? Bundesgesundheitsblatt - Gesundheitsforschung - Gesundheitsschutz, v. 63, n. 5, p. 527–534, 2020.

VIGATTO, R.; ALEXANDRE, N. M. C.; FILHO, H. R. C. Development of a Brazilian Portuguese Version of the Oswestry Disability Index. Spine, v. 32, n. 4, p. 481–486, 2007.

Texto completo: PDF