Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XXII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IX Congresso Internacional de Ciências do Esporte

Tamanho da fonte: 
AS LUTAS NA ESCOLA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO SUBÚRBIO CARIOCA
Lilian Maria Ribeiro de Carvalho, Gustavo Da Motta Silva

Última alteração: 2021-09-04

Resumo


INTRODUÇÃO
Segundo a BNCC (BRASIL, 2017), a Educação Física é um componente curricular que oferece uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Dentre as diversas práticas corporais que abrangem a sua especificidade, as Lutas representam um conteúdo rico para se trabalhar na escola. Entretanto há certa resistência em desenvolvê-la no espaço escolar dentre alguns fatores como falta de espaço, vestimenta e materiais, falta de preparo do professor, mas, sobretudo, por estar associada às questões ligadas à violência (CARREIRO, 2005).
De acordo com Harnisch et. al. (2018), é importante inserir as lutas nas escolas, pois além de melhorar o repertório motor das crianças, ainda desenvolvem temáticas que possibilitem canalizar a violência. Diante disso, o projeto de ação intitulado “Lutas na escola” foi desenvolvido em uma escola no bairro de Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, com alunos da Rede Municipal carioca.
JUSTIFICATIVA DO PROJETO
Os alunos atendidos na rede pública, na maioria das vezes, residem em comunidades carentes situadas em locais próximos à escola. Como os conflitos, situações de violência, envolvimento com o tráfico e outros meios de coerção são práticas frequentes nessa localidade, as crianças, em algum momento, presenciam o clima de confrontos e ameaças. Essas situações passam a fazer parte do cotidiano e os alunos reproduzem comportamentos semelhantes no espaço escolar.

OBJETIVO:
O objetivo deste trabalho foi promover a reflexão em torno da violência na escola através do conteúdo Lutas. Além disso, os alunos deveriam contemplar alguns requisitos: Compreender a diferença entre briga e luta; Conhecer a história das lutas; Conhecer os tipos de lutas praticados na sociedade em geral e refletir sobre tais práticas; Discutir questões de gênero, classes sociais e atitudes de não violência dentro e fora do ambiente das disputas; Vivenciar os movimentos de determinadas práticas corporais envolvendo as lutas.

DESENVOLVIMENTO:
Foram desenvolvidas 28 aulas com alunos do ensino fundamental I, com idades entre 8 e 12 anos em um período de três meses que se dividiram em aulas teóricas e práticas. As atividades trabalhadas foram: Jogos de oposição; judô; esgrima; sumô e capoeira.
Além das práticas corporais em si, os alunos tiveram momentos de discussão em torno de algumas questões sociais. No primeiro momento os estudantes assistiram ao filme “Karatê Kid ” e debateram sobre as diferenças entre lutas e brigas. Nas aulas práticas eles tiveram contato com os jogos de oposição que envolviam atividades de empurrar, puxar, pegar e derrubar. Em relação às modalidades em si, o primeiro contato dos alunos foi com o judô, eles conheceram a sua história e debateram sobre as diferenças dos costumes de determinadas culturas. Na esgrima o tema central abarcou as discussões em torno das diferenças entre classes, principalmente no que se refere às práticas esportivas. Ao abordar o sumô as crianças debateram sobre as questões de gênero e o tema principal foi o papel do homem e da mulher na sociedade. Ao abordar a capoeira, os alunos, a priori, ficaram reticentes devido à aproximação dessa prática corporal com as religiões afrodescendentes. Apresentou-se o vídeo “A história da capoeira” e as suas primeiras discussões estavam relacionadas com a formação das favelas, racismo e política. A avaliação do projeto foi realizada através da autoavaliação, os alunos foram convidados a escrever os pontos positivos e negativos das atividades. O ponto alto dessa proposta foi a culminância através da apresentação de um grupo de capoeira em que os alunos também participaram.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, podemos concluir que, as lutas são um potencial recurso pedagógico para se trabalhar na escola, não só pelo seu aspecto histórico, mas pelo leque de possibilidades que o tema desenvolve principalmente no que diz respeito ao enriquecimento da experiência motora das crianças e também quanto aos aspectos sociais que podem ser problematizados em sua aplicação no ambiente escolar.

Referências


BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

CARREIRO, E. A. Lutas. In: DARIDO, S. C.; RANGEL. I. C. A. Educação Física na escola: Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

HERNISH, G. S. et. al. As lutas na educação física escolar: um ensaio sobre os desafios para sua inserção. Caderno de Educação Física e Esporte, Vol. 16, Nº. 1, p 179-184, 2018.

Texto completo: PDF