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LUTANDO COM DANDARA: TEMATIZANDO LUTAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Leonardo de Carvalho Duarte, Ana Cristina Silva Godoy

Última alteração: 2021-09-12

Resumo


A experiência registrada no vídeo se desenvolveu durante os meses de março e agosto do ano de 2019 em uma turma multietária com 30 crianças de 4, 5 e 6 anos de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) da cidade de São Paulo. A EMEI tem em seu projeto político pedagógico, objetivos de valorização da cultura africana e afro-brasileira, em consonância às demandas da lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003, e prevê a promoção de práticas em direção da equidade racial e de gênero, por isso, naquele ano escolheu mulheres negras para inspirar os projetos didáticos de todas as turmas.
Dandara dos Palmares foi a “musa” e a “personagem” que nomeou uma das turmas, sua vida e obra fizeram parte dos projetos de estudo e investigações do grupo durante todo o ano letivo. Nas pesquisas iniciais sobre a vida da personagem, realizadas em casa com as famílias e também na escola, com auxílio de computadores e celulares, descobrimos as habilidades da heroína e guerreira nas lutas contra a escravidão. Selecionamos a canção “Dandara” de Vanessa Borges, para ouvir, dançar e ler com as crianças, e após essa atividade elas demonstraram interesse em saber: “pelo que Dandara lutava?”, “Como ela lutava?”, “Que lutas ela sabia?”.
As conversas iniciais com as crianças e reconhecimento dos seus saberes e representações sobre lutar, as falas e curiosidades sobre as lutas nos fizeram definir essa prática corporal como tema de estudo, nos tempos destinados ao território da cultura corporal, previsto na linha do tempo do projeto pedagógico da EMEI. E traçamos como objetivos iniciais: vivenciar lutas e ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre as lutas e seus representantes.
Nossas experiências foram planejadas e desenvolvidas em parceria entre uma pedagoga, professora regente da turma, e um professor de Educação Física, colaborador que desenvolvia pesquisa de doutoramento na escola no período. E teve como referência os campos teóricos, princípios ético-políticos e encaminhamentos didáticos da perspectiva cultural da Educação Física, conforme proposto por Neira e Nunes (2009) e Neira (2014; 2019).
Entre as problematizações iniciais também fomos interrogados pelas crianças sobre a possibilidade de lutar na escola e dos tipos de lutas que existem. Em rodas de conversas e com as pesquisas conseguimos mapear as lutas que as crianças já conheciam e selecionamos imagens e vídeos de diferentes lutas, conhecidas e desconhecidas para ler, assistir e experimentar corporalmente com as crianças. As crianças demostraram interesse especial na experimentação corporal das lutas, então propusemos vivencias de brincadeiras como cabo-de-guerra ou jogo-de-corda; o braço-de-ferro ou quebra-de-braço e sumô, que foram resignificadas pelas crianças e ganharam outras versões e formas de praticar/brincar.
Após conhecer e vivenciar alguns tipos de lutas a maioria das crianças concordou com um garoto que trouxe como resultados das pesquisas com a família a informação que “Dandara deve ter lutado capoeira e maculelê” por serem essas as manifestações mais representativas dos povos negros escravizados. Então passamos a priorizar essas práticas nas pesquisas e vivências e realizamos atividades de ampliação e aprofundamento, através da leitura de textos e vídeos sobre elas e também convidamos um professor e uma aluna de capoeira para conversar com as crianças sobre essas práticas.
Com a proximidade da festa da escola, que ocorre no mês de agosto, e a previsão de realizar uma apresentação com a turma nesta ocasião, resolvemos utilizar elementos das lutas na composição de uma coreografia, e os tempos de atividades da cultura corporal também passaram a ser utilizados para os ensaios desse momento. Os registros, realizados ao longo da tematização através de desenhos infantis, escritas coletivas, fotografias, gravação de vídeos e áudios, nos permitiram analisar e avaliar a experiência e considerar que a maioria das crianças vivenciou as lutas e as gestualidades características, especialmente, da capoeira e do maculelê, e também aprofundaram e ampliaram os conhecimentos sobre essas práticas corporais e seus praticantes.

Referências


NEIRA, M. G. Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo, Editora Melhoramentos, 2014. (Como eu ensino).

NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física cultural: inspiração e prática pedagógica. 2ª Edição. Jundiaí: Paco Editorial, 2019.

NEIRA. Marcos Garcia; NUNES, Mario Luiz Ferrari. Educação Física, currículo e cultura. São Paulo: Phorte, 2009.

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