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PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA E PAULO FREIRE: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
Rielly de Cássia Oliveira, Elaine Prodócimo

Última alteração: 2021-12-03

Resumo


O presente trabalho consiste em um relato de experiência narrado através da vivência de uma estudante do curso de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Estadual de Campinas no Programa Residência Pedagógica (RP). O objetivo do RP é levar os/as estudantes dos cursos de licenciatura para atuarem na rede básica, diminuindo o abismo que separa a teoria da realidade, como descreve Faria e Diniz (2019).
Essa oportunidade de atuação durante a graduação condiz com um processo de formação pautado na criticidade, estimulando nos/as estudantes o desejo pela busca incessante de conhecimento, sendo que, de acordo com Freire (2001), o processo de estudar implica necessariamente numa atenção voltada às diferentes maneiras de leitura, sejam elas da palavra e/ou do mundo. Assim sendo, estar dentro da escola acompanhando a realidade que é proporcionada aos/às alunos/as, permite a nós, estudantes de graduação, identificar os mecanismos e intencionalidades da instituição, promovendo um olhar crítico e sensível à cada situação vivenciada.
Para Paulo Freire (2014) não há docência sem discência, deste modo, é fundamental olhar para a formação docente através das lentes de uma educação pautada no diálogo, em que educador/a e educando/a criam possibilidades de atuação, construindo, em comunhão, meios de desvelar a realidade.
Tomando como ponto de partida Paulo Freire, e assumindo nossa concepção de mundo, buscamos realizar uma aproximação entre as experiências vivenciadas durante o primeiro ciclo do Programa Residência Pedagógica com os conceitos estabelecidos pelo autor, investigando as implicações que tais vivências acarretam na formação docente.
As atividades do RP vêm sendo desenvolvidas em uma Escola Estadual na cidade de Campinas/SP. Essa escola faz parte do Programa de Ensino Integral (PEI), cujo diferencial trata da adoção de princípios norteadores das práticas pedagógicas, indo além das disciplinas comuns, promovendo uma relação mais próxima entre alunos/as e escola, idealizando projetos de vida e disciplinas eletivas buscando o desenvolvimento de autonomia nos/as alunos/as.
Apesar da escola não ter uma postura freireana, ao conhecer o programa, tornou-se evidente alguns pontos que conversam entre a prática e a teoria, o que acendeu uma chama de esperança sobre a possibilidade de uma educação pautada no diálogo, pulverizando a situação de alienação promovida por uma educação bancária.
Para Paulo Freire (2013), a chave para uma educação libertadora está no diálogo entre educadores/as e educandos/as, partindo da realidade que cada aluno/a pertence. Assim, quando a escola possibilita a construção de disciplinas que interagem com os desejos de cada aluno/a e a necessidade que estes possuem para sua vida, e que carregam um significado para que cada aluno/a se sentisse pertencente naquela aula, enfatiza a busca pela formação de alunos/as mais críticos/as e empoderados/as.
Neste primeiro ciclo, tivemos a oportunidade de observar uma atividade de fechamento das eletivas realizadas ao longo do semestre chamada “Culminância”. Ciência, hábitos alimentares, saúde, esporte, africaniedade, foram alguns dos temas que possibilitaram a ampliação dos olhares e das discussões em cada aula. Podemos considerar esses assuntos como temas geradores, que surgem através de situações limites, como propõe Paulo Freire (2013). As situações limites são impostas e reforçam os lugares de opressão na sociedade, por isso, devemos buscar maneiras de superá-las, ou seja, através do diálogo, discutimos sobre essas realidades, buscando rotas de fuga e evidenciando a nossa relação de ser com o mundo.
Possibilitar essas vivências enquanto ainda estamos em processo de formação contribui significativamente para que possamos ampliar nossa visão sobre o tipo de aula que queremos quando estivermos do lado de dentro da escola. Entender e acompanhar uma realidade pautada em princípios dialógicos reforça o desejo por uma educação crítica e libertadora para todos/as os/as alunos/as de todas as escolas. Evidencia também a necessidade da luta coletiva por esses direitos, pois ainda ao encontro com Freire (2013), a pronuncia de mundo deve ser feita em comunhão, buscando a transformação.

Referências


FARIA, Juliana Batista; DINIZ-PEREIRA, Júlio Emílio. Residência pedagógica: afinal, o que é isso?. Revista de Educação Pública, v. 28, n. 68, p. 333-356, 2019.

FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores. Estudos avançados, v. 15, n. 42, p. 259-268, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Editora Paz e Terra, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

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