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AS PERALTAGENS DE SER CRIANÇA NO PANTANAL (MS)
Miraíra Noal Manfroi, Alcyane Marinho

Última alteração: 2021-09-12

Resumo


Criança nascida no Mato Grosso do Sul (MS), sabia do Pantanal o que me contaram, o que me chegou, o que experimentei, mas sentia falta de mais, mais e mais. Na margem do rio Paraguai, na cidade de Corumbá, olhava a imensidão do horizonte e tinha desejo de navegar... O momento da partida no porto se fez, ao encontro do que era para ser... Estas viagens, durante os anos de 2017, 2018 e 2019, na região da Serra do Amolar, no Pantanal sul-mato-grossense, resultou na tese de doutorado, transbordando na criação de laços de afeto, no aprofundamento do fazer etnográfico com as crianças, no mergulho as raízes ancestrais que conectam a humanidade, na reverência aos que resistem e existem em harmonia com os outros seres... Há uma infinidade de transbordamentos, de narrativas me atravessaram neste percurso.
Durante o tempo que estive nas comunidades ribeirinhas, as crianças foram se apresentando. Traquinas, risonhas, livres e íntimas das belezas, dos desafios e dos perigos que o viver naquelas paragens traz. Ao estar com elas, foram elaboradas três perguntas para o estudo: Quais as concepções de infância na Barra e no Paraguai Mirim? Qual o significado de ser criança nestas comunidades? Quais relações se estabelecem entre crianças, natureza-cultura e brincadeiras? Estabelecendo o diálogo das experiências vividas com os estudos efetivados, mergulhada nos campos de pesquisa. O objetivo geral foi gestado: Compreender as concepções, as significações e as singularidades de ser criança na Barra do São Lourenço e no Paraguai Mirim - Pantanal de MS, vislumbrando o brincar com a (e na) natureza, nas expressões corporais e nas linguagens que se querem muitas e livres. O estudo teve caráter qualitativo, se fez por meio de imersões. Houve inspiração na dialética e no interpretacionismo, diálogos com a etnografia. O estar no Pantanal se fez na guiança das crianças. Os achados e registros destas experiências se fizeram com: a) observações participantes; b) conversas informais; c) caderno de apontamentos; d) fotografias; e) vídeos; e, f) cartas. Busquei as liberdades de perceber o mundo desconstruindo conceitos e estabelecendo o diálogo da Educação Física com as Ciências Humanas e Sociais. As narrativas, feitas de palavras e imagens, foram a linguagem encontrada para compartilhar as experiências vividas e as preciosidades dos saberes que se ressignificam em fazeres cotidianos e nas tradições orais.
As crianças são a continuidade da existência de cada ser e o fortalecimento da cultura ribeirinha. São concebidas, gestadas e recebidas como seres potentes. Aprendem e ensinam. Possuem tempos e espaços para as experiências. Há pertencimento. Nascer e viver no Pantanal aguça os sentidos e convida para liberdades. Há dias em que o vento chama as pipas. Em outros, é o sol que convida para o banho de rio. As goiabas maduras pedem para ser comidas, subir na árvore faz parte. Os peixes lembram os desafios das pescarias. As crianças menores observam as maiores e, quando se sentem confiantes, experimentam novos movimentos. Quem está por perto, pode ajudar. Ou não. Há autonomia. Reconhecem ruídos com ouvidos atentos, têm olhos que enxergam para além do visível, sentem odores e seus significados. As mãos são habilidosas. São perceptivas e intuitivas. Seus corpos são sábios e pulam agilmente entre barrancos e barcos. O Pantanal e suas gentes têm generosidades, mas têm fragilidades e pedem respeito. Estão abertas para compartilhar sabedorias, sabem que precisamos de seus ensinamentos e também querem ter acesso aos nossos conhecimentos. O exercício de pesquisar nestes contextos foi desafiador, incessante e encantador, evidenciando que a proposta pretendida exige estar com a comunidade em mais constantes e mais longos mergulhos. Para este momento compartilho narrativas fotografadas do cotidiano, no fazer do dia a dia, na presença. Honro as crianças que se disponibilizaram a estar comigo e as aquelas que respeitaram a sua vontade em não se colocar. Estes registros são frutos de encontros e desencontros, de exposição e recolhimento, de aproximações e distanciamentos.

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