Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XXII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IX Congresso Internacional de Ciências do Esporte

Tamanho da fonte: 
CICLISMO COMO LAZER EMERSIVO: UMA EXPERIÊNCIA ESTESIOLÓGICA EM TERRAS POTIGUARES
Moaldecir Freire Domingos, Joaquim Mafaldo de Oliveira Neto

Última alteração: 2021-09-12

Resumo


Sentir a cadência do giro do pedal e o contato dos pneus da bicicleta com os diferentes terrenos transpassando e reverberando na pele é uma experiência humana recente na nossa grande narrativa da hominescência (SERRES, 2005). Pedalamos, isto é, usufruímos da tecnologia da propulsão da bicicleta com a energia imputada pelo corpo há aproximadamente 250 anos (RODRIGUES, 2007).
O ciclismo é uma prática corporal que possui várias possibilidades, seja como meio de transporte, esporte ou lazer (RODRIGUES, 2007). É o lazer emersivo que nos convida para as experiências estesiológicas, ou seja, aquelas experiências de imersão na natureza onde intencionamos-nos no mundo pela bicicleta, estando aberto ao inesperado e ao convite das paisagens. Perceber o corpo vivo no giro do pedal nas sensações do trajeto, contemplando os quadros desenhados pela natureza, sendo tomado pelos cheiros das plantas, dos animais e dos próprios odores do corpo, tateando as brisas ao sentir o embalo da bicicleta, degustando as frutas que aparecem no caminho, ouvindo o canto dos pássaros, do vento nas folhas, acompanhando também os sons da bicicleta como uma maneira de segurança e de extrair desse objeto cultural de duas rodas seu funcionamento pleno. Na passagem das marchas, por exemplo, é preciso estar conectado ao trajeto, percebendo se é uma reta, um aclive ou uma descida para, no momento certo, realizar as passagens das marchas sem forçar o câmbio (peça que realiza a passagem da corrente de uma catraca para outra de uma coroa para outra), buscando aumentar a vida útil dessa peça, assim como, buscando uma fluidez no giro do pedal em diferentes terrenos.
Conforme Andrieu et al (2017), a natureza apresenta-se como um espaço para o esporte e lazer emersivo por meio de técnicas corporais, hábitos e materiais, bem como na ativação de sensações de invasão, fusão com os elementos naturais, os espaços, a duração e a intensidade em uma estesiologia profunda capaz de ampliar nossa percepção ecológica de produzir um despertar corporal e a emergência de uma nova sensibilidade capaz de renovar nosso esquema corporal e nossos modos de ação no mundo. Os autores afirmam que diante de um processo devastador das economias liberais, uma filosofia vivificante pode contribuir para pensarmos novos horizontes educativos no campo do esporte e do lazer que respeitem princípios éticos, culturais, ecológicos ao evidenciarem a ligação do corpo vivo com a natureza em experiências emersivas como, por exemplo, o ciclismo em sua possibilidade de lazer emersivo, como uma experiência estesiológica.
Os elementos educativos que emergem dessa experiência estesiológica são diversos e podemos, a partir das fotografias a seguir, listar alguns, tais como, o aprofundamento pessoal da geografia do nosso estado, pelo fato de realizarmos os deslocamentos de bicicleta desde nossa moradia até as paisagens visitadas, percorrendo trilhas com mais de 100km de distância. Isso implica uma prática corporal com duração que gira em torno de 4h a 5h com o corpo em movimento, exigindo do ciclista conhecer seus limites, suas capacidades, saber quais alimentos levar para não sofrer com uma hipoglicemia (diminuição brusca de glicose no sangue, podendo acarretar desmaio), assim como, ter competência de efetuar reparos na bicicleta, dado que na imersão na natureza não há oficinas de bicicleta.
Andrieu e Nóbrega (2020), inspirados em Marinho (2008), também destacam que a aventura na natureza e o seu elemento de risco oportunizam novas relações entre as pessoas ao criar laços de amizade (como é possível ver na fotografia X) e propiciam novas sensações e emoções. Andrieu e Nóbrega (2020) enfatizam que esse aspecto pode contribuir para processos educativos nos quais a socialibilidade, a cooperação e o espírito comunitário são desenvolvidos. Assim, em nosso giros (ou passeios), aprendemos uns com os outros, dado que temos diferentes níveis de experiências quanto ao condicionamento e quanto ao conhecimento mecânico do funcionamento sobre a bicicleta.
Diante do exposto e no intuito de compreender o ciclismo como lazer emersivo é que apresentamos seis fotografias que nos fazem ver essa imersão do ciclismo em terras potiguares, apresentando o imbricamento da bicicleta em paisagens e passagens por Nísia Floresta, Parnamirim, Macaíba e Natal.

Referências


ANDRIEU, B; NÓBREGA, T. P. Emergir na natureza: ensaios de ecologia corporal. São Paulo: LiberArs, 2020.
ANDRIEU, B. et al. Emergir na natureza: uma educação para a ecologia corporal e lazer emersivo. Revista Cocar, Belém, Edição Especial, n..4, p. 09-27, jul./dez. 2017.
RODRIGUES, L. H. Ciclismo. São Paulo: Odysseus Editora, 2007.
SERRES, M. Hominescência. Lisboa: Instituto Piaget, 2005.

Texto completo: PDF