Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XXII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IX Congresso Internacional de Ciências do Esporte

Tamanho da fonte: 
MONITORAMENTO E USO DE DADOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: UM DEBATE ÉTICO
Laura Viana Fernandes, Victor Ferreira do Nascimento, Kesia da Silva Xavier, Fábio Batista da Fonseca, Sérgio Melo da Cunha

Última alteração: 2021-11-29

Resumo


INTRODUÇÃO
A tecnologia ganhou seu espaço na sociedade moderna de forma que é inconcebível viver coletivamente sem ela. De semelhante modo, as tecnologias digitais adentraram no campo da saúde, trazendo, consigo, e de muitas formas, melhorias na execução da atividade física, na qualidade de vida e no treinamento de alto rendimento. Entretanto, trouxe ainda uma gama de discussões éticas e filosóficas, que buscam gerar no usuário um uso consciente e reflexivo.
Dentre as questões discutidas, destaca-se o debate acerca do monitoramento e uso de dados no uso de aplicativos de saúde. Pensar em como se dá a análise e o uso desses dados produzidos e suas consequências, bem como o uso da tecnologia como ferramenta pedagógica nas aulas de Educação Física, gerando risco ao aluno, são aspectos que compõem o objetivo deste escrito.
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória de natureza descritiva, e se desenvolve a partir de dados colhidos por Fonseca et al (2020), sob os quais nos debruçamos, enfatizando os aspectos éticos envolvidos no monitoramento e uso de dados. Na oportunidade, foram selecionados 5 artigos de revistas inglesas que fomentam esse debate, a saber: 1. Pang et al (2019); 2. Goodyear, Kerner, Quennerstedt (2019); 3. Esmonde (2019); 4. Macdonald (2015); 5. Bodsworth, Goodyear (2017).
A exploração dos textos foi feita a partir da análise de conteúdo de Bardin (2011), permitindo desenvolver o debate voltado também ao âmbito escolar.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Pang et al (2019) afirmam que os aplicativos de saúde podem apresentar um caráter disciplinador, de controle dos corpos, ao passo que os usuários são influenciados a cumprir metas, monitorar a si mesmo e aos outros, à medida que isso constitui o que Fraga (2006) chama de “biopolítica informacional”. É uma dinâmica guiada, principalmente, pela vigilância e positividade (HAN, 2017). Lupton (2016) diz que a auto-vigilância, ao somar-se à sala de aula, pode ter, por consequência, o controle do processo educacional.
Entretanto, estas são apenas algumas considerações acerca da vigilância de dados e suas consequências. Estes parâmetros são importantes tópicos a serem debatidos para que os professores e os alunos, em seu uso, possam ser críticos e cuidadosos à medida que também compreendemos e defendemos o amplo leque de possibilidades no uso educacional da tecnologia. Nesse sentido, para que a “tecnologia faça diferença nas aulas de Educação Física, não é preciso somente ter os equipamentos, mas entendê-los e saber o que os números/códigos/dados significam, influenciam e repercutem na vida do usuário-aluno” (ESMONDE apud FONSECA et al, 2020, p. 11).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tivemos, como objetivo, debater o uso e monitoramento de dados de aplicativos de saúde, que podem ser ferramentas pedagógicas importantes da abordagem da saúde como tema transversal na Educação Física escolar. Não obstante, percebemos que as principais preocupações da literatura são o controle de dados pela indústria tecnológica, cujo aspecto disciplinador dos corpos e a auto-vigilância podem se sobrepor diante de todo o processo.

Referências


HAN, B. Sociedade da transparência. Traduzido por Enio Paulo Giachini. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.

PANG, B. et al. Experiencing Risk, surveillance, and prosumption: health and physical education students’ perceptions of digitised health and physical activity data. Sport, Educationand Society, v. 24, n. 8, p. 801-813, 2019.

FRAGA, A. B. Exercício da informação: governo dos corpos no mercado da vida ativa. Campinas: Autores Associados, 2006.

ESMONDE, K. Tracing the feedback loop: a Foucauldian and actor-network-theory examination of heart rate monitors in a physical education classroom. Sport, Educationand Society, v. 24, n. 7, p. 689-701, 2019.

LUPTON, D. Foreword: lively devices, lively data and lively leisure studies. LeisureStudies, v. 35, n. 6, p. 709-711, 2016.

FONSECA, F. B. et al. Educação física escolar, tecnologias digitais e saúde: incursões exploratórias pela literatura. Motrivivência, v. 32, n. 63, p. 01-18, 2020.

GOODYEAR, V.; KERNER, C.; QUENNERSTEDT, M. Young people’s uses of wearable healthy lifestyle technologies; surveillance, self-surveillance and resistance. Sport, education and society, v. 24, n. 3, p. 212-225, 2019.

MACDONALD, D. Teacher-as-knowledge-broker in a futures-oriented health and physical education. Sport, Educationand Society, v. 20, n. 1, p. 27-41, 2015.

BODSWORTH, H.; GOODYEAR, V. Barriers and facilitators using digital technologies in the Cooperative Learning model in physical education. Physical Education And Sport Pedagogy, v. 22, n. 6, p. 563-579, 2017.

Texto completo: PDF