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BODY ART E OS SENTIDOS DO CORPO NAS PERFORMANCES DE TALES FREY: REFLEXÕES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA
Mércia Lima de Melo, Rosie Marie Nascimento de Medeiros

Última alteração: 2021-08-31

Resumo


INTRODUÇÃO
A bodyart é uma forma de expressão contemporânea que utiliza o corpo como um espaço - instrumentado por: tatuagens; lacerações; piercings; cirurgias; implantes subcutâneos; deformações; escarificações; entre outros - a ser revisitado por meio de modificações, rituais, questionamentos, vivências, críticas, contestações e reflexões vinculados à arte (MEDEIROS, 2005).
Caracteriza-se pela valorização do corpo como suporte de intervenções representativas das crises sociais, evidenciando relações cotidianas e adotando o espectador como parte integrante do trabalho. Diante disso, destaca-se o artista brasileiro Tales Frey, que usa seu corpo como um suporte vivo para criar formas, relevos e espaços diversos em seus trabalhos.
Este estudo objetiva compreender os sentidos revelados sobre o corpo pelas performances de Frey e como podem ampliar esse conhecimento para a Educação Física.
METODOLOGIA
Trata-se de um artigo de reflexão que descreve duas performances do artista mencionado, intituladas “vende-se aceita-se cartão de débito” e “dismorfofobia”, apresentando como referência metodológica a Fenomenologia, que tem o mundo vivido como fonte primordial de conhecimento (NÓBREGA, 2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na performance “vende-se: aceita-se cartão de débito”, Frey se porta como um vendedor ambulante ao oferecer tudo que traz consigo: roupas e acessórios femininos exibidos na vitrine móvel de um corpo masculino. Carrega uma máquina de cartão de débito, o título da ação nas costas e o valor etiquetado de cada produto. Demonstra a possibilidade de venda de tudo que está sobre o corpo, menos seu próprio corpo, anunciando contradições, como: peças para mulher num corpo masculino; falsa noção de prostituição; manifesto contra o comércio da arte praticando um comércio.
Em “dismorfofobia”, o artista recepciona os espectadores indagando-os sobre suas medidas corporais (quanto mede? qual o peso? quer conferir?), enquanto as registra e oferece instrumentos para conferência (balança, fita métrica). Atrás de uma tela branca, cinco performers convidados desfilam mecanicamente segurando uma figura geométrica criada exclusivamente para si, revelando algo em seus corpos que não aprovavam e trazendo seus referenciais de beleza.
Frey (2013) afirma que faz “discursos contra essa cultura doentia que segue os padrões corporais ditados sem nenhum filtro”. Isso porque, diariamente, sujeitos são bombardeados freneticamente com propagandas, ofertas imperdíveis e várias formas de pagamento, sempre acessíveis para aqueles que desejam entrar na moda. Empresas investem nos veículos digitais de comunicação para repassar mensagens e aumentar seu lucro, apostando na facilidade normalizada e corriqueira de consumir irrefletidamente.
Contrapondo-se aos discursos lineares, Merleau-Ponty (1999) refere que é através das experiências vividas durante a existência que o sujeito percebe e imprime significados no mundo, sendo essa subjetividade encarnada percebida pelo corpo-próprio. As interações geradas pela bodyart permitem compreender esse conceito através da marca na carne, exteriorizando o interior e expandindo a experiência sensível subjetiva.
Assim, é pela experiência de ser corpo como carne no mundo que se instaura uma relação permanente com o outro, enfatizando a renúncia das dicotomias naturalizadoras e reducionistas do corpo, ainda persistentes na Educação Física (MERLEAU-PONTY, 1999).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a contribuição das performances de Tales Frey é pertinente para revelar novos sentidos sobre o corpo enquanto campo de saberes polimorfos, oriundos da realidade sensível, para a Educação Física. Esta deve explorar as linguagens geradas por suas práticas corporais, sobretudo a bodyart, que comunicam sentidos pela troca e retorno às experiências vividas.
Considerada uma técnica de intervenção sobre o corpo-próprio, a bodyart é capaz de potencializar e amplificar a percepção e o conhecimento sobre si. Assim, propõe-se uma educação sensível capaz de entrelaçar os sentidos produzidos pela Educação Física e questionados na carne pela bodyart, (re)fabricando a concepção de corpo mediante o retorno às experiências perceptivas.

Referências


FREY, T. Diálogos com Amelia Jones: Avaliações sobre Identidade, Body Art e Documentação de Ações Performativas. eRevistaPerformatus, Inhumas, a.1, n.5, 2013. Disponível em: . Acesso em: 07 jan. 2021.

MEDEIROS, R. M. Bodyart, existência e conhecimento: a percepção do corpo na Educação Física. 2005. 110 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Educação, UFRN, Natal, 2005.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

NÓBREGA, T. P. Uma fenomenologia do corpo. Editora Livraria da Física: São Paulo, 2010.

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