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NUANCES ECOLÓGICAS NAS PRÁTICAS DE ESPORTES DE NATUREZA EM SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN: CORPO, ECOLOGIA E NATUREZA
Jullya Bheatriz Dantas da Costa Sobral, Terezinha Petrucia da Nóbrega, Rosie Marie Nascimento de Medeiros

Última alteração: 2021-08-31

Resumo


LANÇANDO-ME AO MAR
O trabalho aqui apresentado faz alusão à pesquisa de mestrado que vem sendo realizada, na qual traz a temática do corpo, da natureza e da ecologia corporal como nuances estesiológicas, éticas e educativas nas práticas de esportes de natureza no município de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, Brasil.
Dessa forma, a pesquisa envolve a experiência de explorar, conhecer e descrever um delineamento, entre as atitudes éticas, estéticas e sensíveis da ecologia corporal sugeridas por Andrieu e Nóbrega (2020), através de uma escuta sensível e fenomenológica dos discursos e das experiências dos adeptos destes esportes, bem como nos saberes acerca do corpo e da natureza propostos por Merleau-Ponty (2000, 2006).
Além de tornar tudo isso um filme documental, que passará por um processo de validação por profissionais, tornando-se um instrumento documental que propícia a difusão e crítica do conhecimento científico na área da educação física. Portanto, a pesquisa evoca sensações e percepções que trazem à luz o despertar ecológico, isto é, a imersão do corpo e de sua sensibilidade na natureza, como esforços em reaprender a ver o mundo, a natureza e a si mesmos.

VELEJANDO SOBRE AS NUANCES DA ECOLOGIA CORPORAL
O termo ecologia está ligado a muitas áreas e subáreas das ciências. De maneira geral, a ecologia estuda as interações dos seres humanos com o meio ambiente e é por esse viés da ecologia que pode se relacionar ao estudo do corpo. Ao lidar diretamente com o conceito de Ecologia do corpo, temos que o termo se origina de pensamentos advindos do naturismo filosófico, da ecologia profunda e das práticas holísticas, através do corpo e as experiências em contato com a natureza (ANDRIEU; NÓBREGA, 2020).
Sendo a ecologia do corpo “uma prática corporal que envolve nossa responsabilidade diária” (ANDRIEU; SIROST, 2014, p. 16). Uma das primeiras atitudes para uma ecologização do corpo, parte do contato com os elementos da natureza, parte para o encontro, para a imersão, para o ‘se lançar ao mar...’. É no entendimento do imbricamento das noções de corpo e natureza propostos por Merleau-Ponty (2000), isto é, na relação do corpo com o mundo através do seu potencial estesiológico, que se tem inúmeras experiências, inúmeras estesias, que se sente e é sentido, que se é e estar na natureza, que se torna um só:
E eu gosto disso, o kite eu acho massa, porque é um dos poucos esportes, aí, que você tem a junção de duas forças da natureza, dois elementos naturais que um é o vento e o outro é agua, né? E você está no meio dessa conexão toda, então é o céu e você fazendo conexão com a terra, com a água, é um contato muito direto [...]. (SUJEITO A, entrevista, 2018)
Por fim, é do imergir, que podemos despertar para essas sensações. É, então, através da experiência vivida, do contato com a natureza, com os outros corpos, com a prática corporal que se abrem horizontes simbólicos, estéticos e ontológicos que são capazes de modificar o corpo e o faz perceber como ponte, como elo, como natureza (NÓBREGA, 2018). Essa compreensão aproxima-se da ecologia corporal, como propõe Andrieu (2014), no sentido da experimentação do sujeito no corpo do mundo e no corpo do outro.

DESFECHOS
Por fim, com as reflexões emergidas deste estudo, no exercício de ver as paisagens de Gostoso e dos corpos durante as práticas dos esportes de natureza, têm-se a busca de sentidos que revelam um corpo sensível e ecológico, transformando as práticas dos indivíduos, de si mesmo, que transformamos a ecologia do mundo (ANDRIEU; NÓBREGA, 2020), compreendendo as estesias e percepções que surgem nos sujeitos, realçando os valores sensíveis e ecológicos, que os mobilizam a entrar na água, conscientizar o contato com a natureza ao seu redor e, por fim, ecologizar-se.

Referências


ANDRIEU, B. Les fondateurs de l’écologie corporelle: immerseurs-naturiens-émerseurs. Sociétés, Paris, v. 125, n. 3, p. 23–24, 2014.

ANDRIEU, B.; NÓBREGA, T. P. Emergir na natureza: ensaios de ecologia corporal. São Paulo: LiberArts, 2020.

ANDRIEU, B.; SIROST, O. Introduction l'écologie corporelle. Sociétés, Paris, v. 125, n. 3, p. 5–10, 2014.

MERLEAU-PONTY, M. A Natureza: Cursos no Collège de France São Paulo: Martins Fontes, 2000.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

NÓBREGA, T. P. Estesia: corpo, fenomenologia e movimento. São Paulo: LiberArts, 2018.

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