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CORPOREIDADES FEMININAS E OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA
Letícia Araujo da Silva Vasconcellos

Última alteração: 2021-08-31

Resumo


INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade que cria estereótipos corporais, padrões de vida e estabelece regras de comportamento, nos quais devemos nos encaixar para que sejamos socialmente aceitos. Podemos enxergar, nesta mesma sociedade, que os corpos femininos são desvalorizados e inferiorizados em relação aos corpos masculinos. E isso, infelizmente, também se encontra presente no campo da Educação, através da reprodução de ideias e comportamentos machistas. Essas atitudes acabam causando o silenciamento dos corpos das mulheres, os tornando cada vez mais coagidos, subordinados, passivos e, consequentemente, ao incorporar alguns desses comportamentos, estes corpos também se tornam reprodutores das desigualdades de gênero.
Esta pesquisa se configura em uma abordagem qualitativa que se faz a partir de entrevistas, investigações, discussões e reflexões. Para participar deste estudo, foram selecionadas dez professoras com idades entre 25 e 51 anos e o tempo de magistério das entrevistadas varia entre 2 meses e 20 anos. Devido ao cenário de pandemia, o instrumento metodológico utilizado nesta pesquisa foi um questionário virtual com perguntas abertas, a fim de investigar, analisar e compreender, através das respostas das participantes, como estas vivem suas corporeidades e enfrentamentos com seu corpo, diante dos desafios da docência e diante da sociedade em que vivemos.

A CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DO CORPO FEMININO E OS DISCURSOS (RE)PRODUZIDOS
Iniciaremos esta discussão com as palavras de Foucault, tiradas do capítulo XV de A Microfísica do Poder:
Durante muito tempo se tentou fixar as mulheres à sua sexualidade. ‘Vocês são apenas o seu sexo, dizia-se a elas [...]. E este sexo, acrescentaram os médicos, é frágil, quase sempre doente e sempre indutor de doenças. ‘Vocês são a doença do homem’ (FOUCAULT, 1979, p. 234).
Sob esta perspectiva, vemos que o corpo feminino sempre foi submisso e explorado, em relação ao corpo masculino e como alguns dizem, um corpo-objeto “de cama e mesa”. Segundo Beauvoir, citada por Franchetto (1981, p. 23), “a diferenciação biológica entre os sexos fez da mulher, existencialmente, a parte mais fraca, sendo que a atividade masculina, criando valores, constituiu a própria existência como valor, venceu as forças confusas da vida, subjugou a natureza e a mulher”. E foi sobre essa base de subordinação que o corpo feminino foi se construindo culturalmente e socialmente ao longo dos tempos.
Ao fazermos uma breve análise social, cultural e histórica do corpo feminino, podemos observar que as maiores instituições controladoras dos valores e costumes sociais foram: a Igreja, sob o apoio dogmático do cristianismo; a Escola que, a partir dos dogmas da Igreja, os incorporou estabelecendo um modelo tradicional de educação; e a Família, que se apropriou de todos esses pensamentos e, então, passou a regular a vida social, religiosa, educacional e até sexual de suas filhas. Com isso, o corpo feminino foi acumulando, durante muito tempo, marcas de inferioridade e exclusão, além de ter sido alvo de inúmeras interpretações e representações, estando sempre controlado por normas e valores de ordem moral, ética, estética e científica. Embora algumas concepções relativas à mulher façam parte de um modelo de dominação, são concomitantemente interiorizadas pelas próprias mulheres e reforçadas pela sociedade.
Diante disso, apenas com o início do movimento feminista e das corajosas conquistas históricas, as mulheres foram alcançando seu merecido espaço na vida pública e mais direitos sobre seu próprio corpo, contribuindo assim para a desconstrução de alguns discursos produzidos e sustentados pela ideologia masculina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de hoje as discussões sobre dos direitos da mulher (vida, cultura, economia, corpo, justiça) estejam crescendo e se firmando enquanto possibilidade de transformação social, ainda há muito o que ser feito para que alcancemos uma Educação que seja capaz de enxergar, respeitar, valorizar e potencializar os corpos femininos que circulam nos espaços educacionais. E que, consequentemente, esta Educação possa formar sujeitos críticos e ativos na sociedade, que sejam capazes de romper com os preconceitos e com a reprodução de comportamentos machistas, promovendo uma possível equidade entre os gêneros.

Referências


REFERÊNCIAS
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.
FRANCHETTO, B.; CAVALCANTI, M. L. V. C.; HEILBORN, M L. Antropologia e feminismo. Perspectivas Antropológicas da Mulher, Rio de Janeiro: Zahar, v. 1. p. 11-47, 1981.

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