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A PANDEMIA E O USO DE TECNOLOGIAS PARA TENSIONAR AS RELAÇÕES DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Tainara Rodrigues de Freitas, Myllena Camargo de Oliveira, Angelita Alice Jaeger

Última alteração: 2021-12-03

Resumo


INTRODUÇãO
A pandemia do Covid-19 marcou profundamente o ano de 2020 e impôs práticas e experimentações no fazer pedagógico de docentes e discentes que mediadas pelas tecnologias e desenvolvidas remotamente, revolucionaram as relações didático-pedagógicas. Diante dessa realidade, objetivamos visibilizar o uso das tecnologias na adaptação de um projeto presencial para o ambiente virtual com vistas a promover debates e aprendizagens que focalizem a desconstrução dos estereótipos de gênero nas aulas de educação física escolar.

METODOLOGIA
Elaboramos ações mediadas pelas tecnologias construindo três vídeos para evidenciar conceitos e questionários para avivar os conteúdos expostos. A comunicação e envio dos materiais se deu pelo WhatsApp para 3 grupos (7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental) de estudantes de uma escola estadual que possuíam smartphone com acesso mínimo à internet. Os vídeos disponibilizados na plataforma Youtube de modo “não listado” continham em torno de 5 minutos de duração cada e foram elaborados a partir de um roteiro que associava a narração com imagens relativas ao conteúdo em tela.
O primeiro vídeo1 introduziu os conceitos de gênero e de estereótipo, obteve 51 visualizações e 11 respostas ao questionário. O segundo2 abordou o surgimento do futsal, atletas ídolos/as, salários desiguais, falta de patrocínio para as mulheres e preconceitos vividos por elas, recebendo 20 visualizações e 7 respostas ao questionário. E o terceiro3 resumiu os conteúdos e instruiu sobre a atividade final onde os/as estudantes elaborariam um texto refletindo sobre os temas em tela, acessado por 14 estudantes e resultando 1 resposta.

RESULTADOS
As respostas dos questionários indicam a rejeição de grande parte dos estereótipos de gênero no esporte. A maioria dos/as estudantes negam que as diferenças entre homens e mulheres nos esportes possuem justificativa biológica e afirmam que mesmo que essa perspectiva seja disseminada pela sociedade, é questionável. Vale lembrar que historicamente a Educação Física assentou seus saberes na área biológica (LOURO, 2004), os quais são utilizados para hierarquizar, classificar, diferenciar e separar meninos e meninas nas aulas de educação física (DORNELLES, 2007). Os/As estudantes apontam que os homens produzem de modo mais frequente atos violentos nos esportes, buscando reafirmar a superioridade física (MATTHEWS, 2015). Além disso, problematizaram o futsal, cujo contexto é marcado pela desigualdade salarial entre homens e mulheres (PEREIRA, 2017). Ainda, questionaram as injustiças que marcam a história do esporte e defendem iguais oportunidades para eles e elas, afirmando que os treinamentos, os esforços, as habilidades e a paixão pelo esporte são os mesmos para mulheres e homens, portanto, merecem as mesmas remunerações.
Por fim, o retorno dos/as estudantes às atividades propostas evidenciou compreensão e reflexão sobre os conteúdos. Entretanto, a principal dificuldade foi o acesso à internet, confirmado pelo pequeno número de visualizações e respostas ao longo das atividades. Esse cenário corrobora com a precária inclusão digital que evidencia a desigualdade social no país (BARROS; VIEIRA, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que o grupo de estudantes que acompanhou o projeto questionou e desconstruiu estereótipos de gênero no contexto da educação física, acenando para a necessidade de ações mais inclusivas no esporte e no contexto escolar. Ainda, promover debates sobre os estereótipos de gênero é uma contundente necessidade para caminharmos rumo à equidade de gênero.

Referências


BARROS, Fernanda Costa; VIEIRA, Darlene Ana de Paula. Os desafios da educação no período de pandemia. Brazilian Journal of Development, 2021. v. 7, p. 826-849.

DORNELLES, Priscila Gomes. Distintos destinos: a separação entre meninos e meninas na educação física escolar na perspectiva de gênero. 2007.

LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 7. ed., Petrópolis: Vozes, 2004.

MATTHEWS, Christopher R. “The Tyranny of the Male Preserve”. Gender & Society, dez. 2015. v. 30, p. 312-333.

PEREIRA, Janaina Bezerra. Gênero na educação física escolar: a prática do futsal na contemporaneidade. 2017.

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