Sistema Online de Apoio a Congressos do CBCE, XX Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e VII Congresso Internacional de Ciências do Esporte

Tamanho da fonte: 
O CORPO DA MULHER FISICULTURISTA: TENSÕES E RUPTURAS COM ESTEREÓTIPOS DO FEMININO.
Juliana Dias de Lima, Simone Freitas Chaves

Última alteração: 2017-06-09

Resumo


1 INTRODUÇÃO
Ao relacionar o lugar cultural da mulher e do corpo feminino inseridos na sociedade de consumo brasileira, Goldenberg (2011, p. 49) observa uma influência intencional da mídia, por exemplo, sobre os comportamentos, atitudes e corporeidades. Verifica-se uma difusão de pensamentos sobre um corpo capital, como um veículo de ascensão social, retratado também como um capital econômico e simbólico. No entanto, a imagem desse corpo capital deve ser sempre “sexy”, magro e em boa forma.
A situação do corpo da mulher fisiculturista nessa sociedade é de contraposição aos padrões de beleza/magreza ditados. Sua aparência se distancia dos outros capitais simbólicos femininos do mercado de consumo do corpo, enquanto se aproxima dos simbólicos masculinos. Desta forma, as fisiculturistas constroem marcas de diferenciação pessoal e significam outro padrão estético em seus ambientes.
O objetivo do presente estudo é, portanto, compreender as representações que as mulheres fisiculturistas possuem sobre a construção das feminilidades neste universo, bem como perceber como elas constroem os sentidos de pertencimento e distinção aos signos culturais do feminino.

2 METODOLOGIA
A pesquisa, de cunho qualitativo, foi realizada através de uma entrevista em profundidade, semi estruturada, realizada com uma fisiculturista do RJ da maior categoria de competição do fisiculturismo. A entrevista foi gravada em formato de áudio e vídeo, com duração de 01 hora, 34 minutos e 37 segundos , e transcrita de forma literal.
A entrevista semi estruturada foi analisada sob o referencial teórico metodológico da análise do discurso, na perspectiva de Orlandi (2005). Nesta ótica, nossa pretensão foi apreender não somente o texto, mas o processo da língua em funcionamento, seus sujeitos e contextos. O discurso reflete e dialetiza práticas sociais vividas no campo, tematizando os conflitos éticos e estéticos dos usos do corpo.

3 DESCRIÇÕES, RESULTADOS, INTERPRETAÇÕES...
Segundo Le Breton (2013, p. 247), as mulheres reivindicaram seus direitos ao entrar nas salas de musculação e, neste contexto, o corpo do homem torna-se sexual enquanto o da mulher torna-se musculoso. No entanto, delas é esperado que sejam “femininas”, isto é, sorridentes, atenciosas, submissas, discretas, até mesmo apagadas (GOLDENBERG, 2005, p.74).
Diferentemente desta significação de “feminina”, a entrevistada afirmou que em todos os ambientes em que circula é o centro das atenções, e que os olhares atraídos para si representam tanto aceitação quanto repúdio. Apontou também, diversos casos de preconceito que são diários em sua rotina e extrapolam os sentidos do olhar, dentre eles estão agressões verbais e xingamentos em sua página da rede social.
Todos os insultos relatados pela entrevistada eram sobre sua aparência corporal, muitas vezes comparando seu corpo ao de um transexual. Neste contexto, ela afirmou que a relação da sociedade é muito massacrante, e que, de certa forma, sente-se limitada socialmente por conta de sua forma física, referindo-se às dificuldades e enfrentamentos na liberdade de circulação em espaços públicos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A representação do corpo da mulher fisiculturista apresenta dificuldades de aceitação quando partilhada para além de seu grupo social. Percebemos que os signos femininos construídos no universo competitivo do fisiculturismo distanciam-se das definições postas socialmente, assim como, apresentam um modelo contraditório ao naturalizado como de mulher brasileira.
Desta forma, observou-se que o corpo da fisiculturista bodybuilder é um capital, representação de poder reconhecida com admiração e distinção neste universo. No entanto, nos demais contextos socioculturais, esse corpo sofre enfrentamentos diários para se constituir mulher, devido às aproximações e até mesmo esmaecimento das fronteiras de sua forma física aos signos masculinos.

5 REFERÊNCIAS
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Trad. Pedrinho A. Guareschi. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
GOLDENBERG, M. Afinal, o que quer a mulher brasileira? Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, v.23, n.1, p.47 - 64, 2011.
GOLDENBERG, M. Gênero e corpo na cultura brasileira. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, v.17, n.2, p.65 - 80, 2005.
LE BRETON, David. Antropologia do corpo e modernidade. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 6ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2005.

Texto completo: PDF