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TRADIÇÃO, TÉCNICA E ESTÉTICA: ANÁLISE FENOMENOLÓGICA SOBRE A EXPERIÊNCIA DO KARATECA
Marcelo Alberto de Oliveira, Ana Cristina Zimmermann

Última alteração: 2017-06-09

Resumo


Este trabalho tem por objetivo apresentar um estudo sobre a experiência do karateca considerando particularmente os elementos associados a tradição, a técnica e ao apelo estético presentes no Karate. Esta arte marcial possui rituais específicos e rigorosidade técnica que fazem parte de sua tradição. Tais elementos permitem uma aproximação com o campo de estética. De forma mais ampla, o estudo desta experiência possibilita explorar a percepção do corpo próprio e as relações com o ambiente. A metodologia tem caráter descritivo etnográfico que inclui entrevistas com praticantes de karate em diálogo com a literatura (OLIVEIRA, 2016, 2015; KENSHOSAN, 2017; BARREIRA, 2013). Neste contexto, o estudo analisou a essência dos movimentos em Karatê: kime, zanshin e sundome. A discussão acerca dos elementos em destaque – tradição e técnica – é orientada pelo referencial da filosofia de cunho fenomenológico (MARTINKOVA, 2013). Desdobramentos sobre estética são apoiados em Gumbrecht (2007). Esse trabalho apresenta resultados preliminares de pesquisa de mestrado em desenvolvimento. O uso do corpo tem fundamental importância no Karate, pois é por meio de técnicas corporais que o karateca compreende o significado do nome “Karate-Dô” – “Kara”: vazio; “te”: mãos; e “Dô”: caminho – “caminho das mãos vazias”. Neste contexto, emergem três tipos de técnicas: zanshin, kime e sundome. O zanshin, segundo Kenshosan (2017, p.1), “refere-se a um estado de consciência – de alerta relaxado. [...] permanecer mente”. Já o kime seria um ataque explosivo ao alvo usando a técnica apropriada e o máximo de força no menor tempo possível (BARREIRA, 2013, p.156) – ambas as técnicas transcenderiam seus significados conceituais. Filosoficamente, segundo Barreira (2013, p.88), zanshin tem o sentido de “espírito de luta” e o kime de “escolha pela defesa da própria vida” (p.146). O sundome - parar o golpe antes de atingir o alvo - se aproxima de conceitos de realidade e imaginário de modo cooperativo: “a realidade é que o treinamento [...] é um combate imaginário que deve permanecer neste estatuto” (BARREIRA, 2013, p.147). Momentos como reverenciar o dojô (local de treinamento) antes do treino, seguir os rituais de sentar-se no tatame para cumprimentar o mestre e os antepassados, o culto ao mokuso (meditação), a expressão na palavra “Oss”, fazem com que se crie uma espécie de sintonia com o ambiente. Segundo Gumbrecht (2007, p.109) o “fascínio se refere ao olhar que é atraído pelo apelo de algo que é percebido”. Estes fascínios vinculados às artes marciais são evidentes em muitos produtos culturais tais como filmes, documentários, animes/cartoons/seriados/games, com grande inserção no imaginário não só entre praticantes. Percebemos reflexo de motivações estampado em tatuagens e símbolos sobre o corpo de praticantes e a exaltação de sentimento de orgulho por meio de hematomas. A análise da experiência do carateca indica forte relação entre técnica e tradição, bem como a presença de elementos estéticos como componentes marcantes entre praticantes e admiradores das artes marciais. É possível identificar um conjunto complexo de elementos que motivam o aluno a persistir no caminho da prática do Karate.

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