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ENTRE IDAS E VINDAS NO COTIDIANO ESCOLAR: UM CAMINHO PELA PEDAGOGIA DA COOPERAÇÃO
Carlos Henrique Araújo de Meireles, Gabriela Gomes Araújo, Juliana Alves Sorrilha Monteiro, Simone Freitas Chaves

Última alteração: 2017-06-07

Resumo


A corrupção e a distorção dos valores humanos existem em todos os níveis e domínios na política, na lei, nos negócios e nos esportes. A ética competitiva e individualista de vencer tornou-se tão intensa que traz uma faceta destruidora para as relações humanas, notadamente no meio escolar são reproduzidos comportamentos de rivalidade competitiva na dominação e desvalorização alheia assegurando que aquele que é visto como antagonista não atinja seus objetivos. (ORLICK,1978)
O objetivo deste trabalho é refletir sobre a necessidade de contínua reorientação dos objetivos propostos para a prática docente a partir das demandas concretas dos grupos sociais sujeitos da ação pedagógica; bem como apresentar e aplicar princípios da pedagogia da cooperação através de processos como os jogos cooperativos para mobilizar valores e comportamentos no grupo em questão.
Para tanto, traremos a experiência da Escola Municipal Tenente Antonio João situada na Cidade Universitária da UFRJ, com três turmas do ensino fundamental de primeiro, segundo e quarto ano ao longo de 2016. A metodologia usada foi baseada na pesquisa ação (THIOLLENT, 2011), tendo em vista a preocupação com os problemas investigados e a intenção de promover uma transformação destes ou mesmo uma ampliação no olhar destes fenômenos pelos sujeitos envolvidos.
A proposta desenvolvida na escola pautou-se na intervenção do projeto Corpos em Debate, que propõe a discussão, problematização e desconstrução de estereótipos ligados ao corpo e a uma moral da aparência, envolvendo as esferas de gênero, mídia, relações étnico raciais, moda etc. Os princípios metodológicos que o embasam se constituem a partir da problematização, ludicidade, diálogo com as mídias, escuta e livre expressão. No exercício destes dois últimos nos deparamos com o grande desafio da intervenção pois sem a escuta e livre expressão, princípios basilares, não prosseguiríamos com a proposta.
O viés competitivo individualista sobressaía no grupo ainda que todas as práticas se contrapusessem a esta lógica. Percebemos que a falta de escuta e expressão era característica não somente da turma, mas da ambiência daquela comunidade escolar, notada pelas frequentes e cotidianas interações agressivas e não dialogadas intra e extraclasses e pela ausência de um projeto pedagógico que valorizasse esses aspectos da formação humana. Diante deste contexto, reorientamos a ação pedagógica através da discussão, planejamento e práxis de oficinas voltadas a essas necessidades trazendo a Pedagogia da Cooperação (BROTTO, 2013) como eixo condutor da proposta.
A Pedagogia da Cooperação nos guiou através de princípios como a comunidade, em que pessoas estão ligadas umas às outras de forma interdependente, em situações, lugares, e acontecimentos aparentemente distantes. Desse modo buscamos fortalecer esse sentido dentro da turma, através da percepção, expressão, valorização e contribuição de cada um/uma para o grupo, compreendendo que pessoas estão juntas em um mesmo jogo da vida. Além do que, não importa o que a pessoa faça, pense, sinta ou até mesmo não faça nada, ela afeta e é afetada sem exceção, ou seja, essa é uma condição fundamental para avançarmos no aprimoramento da coexistência humana. (BROTTO, 2013)
A confiança mútua é mais provável de acontecer quando pessoas são positivamente orientadas para o bem-estar do outro, e esta é incentivada pela experiência da cooperação bem-sucedida, possibilitadas com ambientes favoráveis para a vivência. A cooperação exige confiança porque, quando alguém escolhe cooperar, conscientemente coloca seu destino parcialmente nas mãos de outro, deste exercício e reflexão resulta um bem comum a todos.
No decorrer do trajeto, o intenso processo de ação-reflexão-planejamento da práxis entre todo o grupo social envolvido, professores e alunos, percebemos que o exercício de escuta, expressão e a valorização de pertencer aquele grupo social, mobilizado por meio das dinâmicas e jogos cooperativos foi progressivamente despertado, favorecendo o diálogo e questionamentos sobre a metodologia desenvolvida durante o projeto, já que havia um momento de conclusão em que essa partilha era realizada. (ORLICK,1978).
A sensibilização e a reflexão sobre as vivências possibilitaram um amadurecimento da turma, além da percepção das metodologias e processos em curso, notados pelas indagações e questionamentos do porquê as oficinas “funcionavam daquele jeito”. Neste caminho de idas e vindas, competências complexas da vida social como a escuta, a capacidade de expressão e os ambientes de respeito e confiança para sentir-se parte de uma comunidade foram despertadas, e apesar de transcenderem os muros e currículos escolares, foram aqui tematizadas e mobilizadas através dos jogos cooperativos e da perspectiva da pedagogia da cooperação.

Referências:
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18 ed. São Paulo, 2011.
ORLICK, T. Vencendo a competição. 1 ed. São Paulo, 1978.
BROTTO, F.O; ARIMATÉA, D.J. Cadernos de referência do esporte: Pedagogia da Cooperação. 1 ed. Brasília, 2013.

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